O escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) no Burundi foi encerrado por pressão governamental, depois de 23 anos a funcionar naquele país, marcado por desaparecimentos forçados, violência sexual e violação das liberdades, informou esta terça-feira a organização.

“Lamentamos profundamente ter que fechar o nosso escritório no Burundi depois de uma presença de 23 anos no país”, disse esta terça-feira a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, em comunicado.

Michelle Bachelet sublinhou os progressos alcançados no respeito pelos direitos humanos graças a esta estrutura da organização, lamentando que muitos desses progressos tenham sido postos em “grave risco” desde 2015.

O escritório está encerrado desde 28 de fevereiro, mas só agora as Nações Unidas confirmaram o encerramento.

O fecho ocorreu depois de, em dezembro, o Burundi ter pedido à organização que abandonasse o país, meses após o então chefe daquele organismo, Zeid Ra’ad al-Hussein, ter definido o Burundi como “um dos maiores matadouros de seres humanos” do mundo e ter comparado o país com a Síria ou a Birmânia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O escritório dos Direitos Humanos das Nações Unidas no Burundi foi criado em 1995, no contexto de violações massivas de direitos humanos após o assassínio do então Presidente Melchior Ndadaye.

Em outubro de 2016, O Governo do Burundi suspendeu toda a cooperação com as Nações Unidas, o que, segundo Bachelet, representou “um obstáculo para o pessoal deslocado no país e impediu a investigação de denúncias de violações dos direitos humanos”.

“Apesar do encerramento, continuaremos a explorar outras formas de trabalhar para melhorar a situação e apoiar a promoção e proteção dos direitos humanos” no Burundi, disse.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU decidiu em setembro de 2018 prolongar por um ano o mandato da comissão de investigação sobre alegados crimes contra a humanidade cometidos pelo Governo do Burundi contra a população após as mudanças na Constituição em 2015.

O chefe de Estado, Pierre Nkurunziza, acedeu ao poder em 2005, após uma guerra civil, e, em 2015, promoveu a alteração da Constituição para poder candidatar-se a um terceiro mandato, o que desencadeou uma onda de protestos fortemente reprimidos pelas autoridades.