Uma equipa internacional de investigadores, em colaboração com o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), no Porto, confirmou o “primeiro candidato a exoplaneta” identificado pelo telescópio espacial Kepler da NASA, indica o instituto esta terça-feira, em comunicado.
Segundo o IA, dez anos após o lançamento do satélite Kepler da NASA, foi identificado como “primeiro candidato a exoplaneta” o Kepler-1658 b, um “Júpiter quente a 2545 anos-luz”.
Um exoplaneta, ou planeta extrassolar, é um planeta que orbita uma estrela que não seja o Sol e, por isso, pertence a um sistema planetário distinto.
A confirmação deste exoplaneta, que foi aceite para publicação na revista The Astronomical Journal, contou com a participação de Tiago Campante, do IA e da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que, citado no comunicado, afirma que esta descoberta é “um exemplo de como não é de todo trivial a validação de novos exoplanetas, especialmente aqueles que são detetados pelo método dos trânsitos”.
O IA explica que o método dos trânsitos permite apenas aferir o raio do planeta e consiste em medir a diminuição da luz de uma estrela na passagem de um exoplaneta à sua frente (semelhante a um micro eclipse), um método “complicado de usar” porque obriga a que o planeta e a estrela estejam exatamente alinhados com a linha de visão do observador.
De acordo com o IA, o telescópio espacial Kepler detetou milhares de candidatos a exoplanetas através do método dos trânsitos, explicando que estas deteções são classificadas como candidatos porque é necessária uma análise posterior mais detalhada para confirmar que não são falsos positivos.
Em comunicado, o IA explica que, apesar de esta ter sido a primeira deteção do satélite Kepler, o caminho para a confirmação do Kepler-1658 b ou KOI4b – Kepler Object of Interest 4b, como também é conhecido, foi “complicado”.
“A estimativa inicial do tamanho do planeta estava errada, pois era baseada no tamanho da sua estrela mãe, cujo diâmetro estava subestimado. Mais tarde, foi considerado como falso positivo quando os efeitos detetados na estrela não correspondiam ao que se esperava para uma estrela daquele tamanho”, aponta o instituto.
O estudo, liderado pela investigadora Ashley Chontos, da Universidade do Havai, baseou-se na reanálise das estrelas observadas pelo telescópio espacial Kepler, técnica que recorre às “ondas sonoras” do interior da estrela para “reavaliar com precisão o tamanho” da mesma.
“O facto de a estrela ser três vezes maior do que originalmente se pensava significa que o seu planeta também é três vezes maior. Podemos assim afirmar com elevado grau de confiança que o planeta Kepler-1658 b é um Júpiter quente, orbitando a estrela em 3,8 dias”, esclarece Tiago Campante, citado no documento.
O IA acrescenta que a “estrela Kepler-1658 é 50% mais massiva e três vezes maior do que o Sol”, o que torna o “candidato a exoplaneta” um dos “planetas mais próximos de uma estrela mais velha do que o Sol”.
“Este tipo de planetas é raro, e o porquê do seu reduzido número é ainda pouco compreendido”, frisa o instituto.
Acrescenta que a “natureza extrema” deste sistema planetário vai permitir perceber melhor os limites físicos da interação que provoca a queda em espiral de um planeta para a superfície da sua estrela, com os dados preliminares a mostrarem que este processo é mais lento do que se pensava e que não será, por isso, a principal causa para a escassez deste tipo de planetas.