Tem apenas 21 anos mas, por ter começado a brilhar nos principais palcos ainda muito novo, parece levar já uma longa carreira. Foi campeão em Portugal, foi campeão na Alemanha e pelo meio conquistou o Campeonato da Europa de seleções, em 2016, logo contra o país organizador, a França. Pelo meio, passou ainda temporada por empréstimo na Premier League inglesa.
Renato Sanches tem uma longa carreira ainda a percorrer mas já experimentou sensações que muitos não chegam a ter durante uma carreira inteira. Com 18 anos acabados de fazer, começou a integrar os treinos da equipa sénior enquanto jogava (e brilhava) na formação B. Entre o final de outubro e o início de dezembro dessa época de 2015/16, começou a ser opção no principal conjunto e não mais sairia de lá. Foi campeão, ganhou a Taça da Liga, surgiu como uma das surpresas entre os convocados para o Europeu, não defraudou expetativas e começou a nova aventura na Baviera, onde teve grandes dificuldades na adaptação à realidade do Bayern e da Bundesliga, fazendo mesmo uma época ao serviço do Swansea para ganhar minutos.
Esta temporada, não sendo propriamente um indiscutível no Bayern de Niko Kovac, já leva 19 jogos (e um golo) entre Liga dos Campeões, Campeonato e Taça da Alemanha. Aos poucos, depois do choque cultural, linguístico e futebolístico, o internacional português começa a mudar a primeira imagem deixada após a saída da Luz. Num texto escrito esta terça-feira para o The Players’ Tribune, Renato Sanches promete ainda mais. E não esquece o dia em que percebeu que tudo mudaria na sua vida – o dia 4 de dezembro de 2015, quando marcou o primeiro golo pela equipa A dos encarnados na Luz.
“Estava num restaurantes com os meus amigos. Jogava no Benfica e tinha acabado um jogo com a Académica nesse dia e… Ok, não foi um jogo qualquer. Marquei um golo bonito, talvez tenham visto. E foi o meu primeiro no clube pelos seniores. Foi um momento fabuloso que resultou de muito trabalho feito pela minha família e por mim. Mas no campo, não sei… Senti como se fosse um golo qualquer. Havia alguns adeptos no restaurante onde estava a comer a umas mesas de distância e penso que nos devem ter visto. Já jogava na formação do Benfica há alguns anos, as pessoas reconheciam-me. Por normal, eram muito simpáticas e motivadoras. E diziam sempre para continuarmos a trabalhar muito, como se fossem os nossos pais ou algo do género. Mas aqueles rapazes… Estavam loucos. Como se fosse o Messi. Olhei para os meus amigos a pensar ‘Ok, a partir de agora vai ser assim'”, contou o médio sobre esse encontro que terminou com o triunfo dos encarnados por 3-0.
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“Ainda era apenas um miúdo da Amadora, no norte de Lisboa. Tive uma infância humilde. Os meus pais trabalharam muito para darem a mim e aos meus dois irmãos uma vida boa. Andávamos muito em Portugal, às vezes em bairros menos bons. Era a vida e não conhecia muito mais. Toda a minha família era benfiquista e isso manteve-nos ligados à comunidade. Onde quer que nós fossemos, encontrávamos outros benfiquistas e conseguíamos de forma imediata ter uma relação. Foi isso que tornou o meu crescimento em Lisboa e arredores tão especial para mim. É por isso que sinto que levo sempre o Benfica comigo para onde quer que vá”, acrescentou o internacional, antes de recordar os tempos difíceis no início da aventura na Alemanha.
“O Europeu foi indescritível – um feito do qual me vou orgulhar por muito, muito tempo. Pensava que esse torneio me tinha preparado para toda a pressão da Bundesliga. Pensava que estava pronto mas não estava. Em Portugal, eu corria, corria e corria porque tinha capacidade técnica e conseguia disfarçar qualquer fadiga; na Alemanha, podemos correr mas o jogo é tão rápido que tem de ser coordenado de outra forma mas não seres apanhado fora da posição. A minha primeira época não foi a ideal. Ouvia as pessoas dizerem que era um flop, um embuste”, admitiu, antes de ser depois emprestado ao Swansea e ouvir do pai uma frase que funcionou quase como viragem ao serviço dos germânicos do Bayern.
“O meu pai tinha algo que me costumava dizer: ‘Tu és um guerreiro. Um guerreiro nunca desiste. Um guerreiro vai à guerra mesmo que pense que vai perder’. No último verão, comecei a reencontrar o meu jogo. Queria ganhar a Bola de Ouro, queria ganhar todas as medalhas e troféus. Ainda tenho todas essas ambições mas vêm atrás dos meus novos sonhos. Quero estar em grande forma, jogar mais minutos, ouvir as pessoas dizerem ‘Este é o Renato que contratámos’. Com o tempo, vou lá chegar. A minha viagem não tem sido simples mas não acabou”, concluiu.