Perdeu o título e já não irá representar Portugal no concurso Miss Mundo, na China. Carla Rodrigues, Miss Portuguesa 2018, perdeu a coroa depois de apelar à entrada de ajuda humanitária na Venezuela e de apoiar publicamente o autoproclamado presidente interino daquele país, Juan Guaidó, já reconhecido pelo governo português e por dezenas de outros países. A vencedora do concurso português, apresentado por Ricardo Carriço, em Gondomar, foi eleita Miss Portuguesa 2018 há oito meses.
A luso-venezuelana Carla Rodrigues, então com 25 anos, era a representante da comunidade portuguesa em Espanha. Nesta quarta-feira foi destituída do cargo pela MMRP Beleza por Uma Causa, que organiza o certame, e proibida de continuar a usar o título, conforme vários jornais venezuelanos e o Correio da Manhã noticiaram.
Duas horas depois de publicado o artigo do Observador, a organização do concurso — que tentámos contactar antes da publicação da notícia — partilhou um vídeo na sua página de Facebook esclarecendo a situação. Carla Rodrigues já respondeu através do Instagram.
“Carla Rodrigues estava perfeitamente consciente das suas obrigações e responsabilidades quando assinou contrato com a nossa organização. Uma miss tem a obrigação de unir o seu povo, tem obrigação de não ser fator de divisão e muito menos de tomar parte em questões políticas“, diz Isidro de Brito, presidente da organização Miss Portuguesa, no vídeo.
Como tudo começou: um fim de semana quente na Venezuela
A 20 de fevereiro, na sua conta no Instagram, Carla Rodrigues publicava um vídeo onde começava por se apresentar, em espanhol, como Miss Portuguesa. Depois, apelava à entrada da ajuda humanitária na Venezuela, no sábado 23 de fevereiro, e demonstrava o seu apoio a Juan Guaidó, considerando que o político devolvia a esperança a todos os venezuelanos.
Nesse fim de semana, que ficou marcado por confrontos na fronteira entre a Venezuela e a Colômbia que causaram 4 mortos e vários feridos, e por centenas de deserções de militares venezuelanos, a caravana humanitária não conseguiu passar. Também na fronteira com o Brasil se registaram diversos incidentes.
Na passada quarta-feira, 11 dias depois da publicação do vídeo, a organização do concurso português partilhou nas redes sociais um comunicado dando conta da destituição de Carla Rodrigues. O motivo? “Incumprimento das regras devidamente contratualizadas para o desempenho do mandato de Miss Portuguesa.”
No comunicado, a MMRP Beleza por Uma Causa escreve ainda que “compreende que o ser jornalista e luso-venezuelana levou a que Carla Rodrigues tivesse tomado a opção que levou a esta decisão”.
A nota termina com desejos de sucesso à jornalista, que também é modelo, na sua carreira profissional e pessoal.
No mesmo dia, a organização do concurso anunciou que o título de Miss Portuguesa passaria a ser assumido pela Primeira Dama de Honor, Ana Rita Aguiar. Desde 2011 que o concurso Miss Portuguesa, que substituiu o antigo título Miss Portugal, elege as representantes portuguesas dos principais certames de beleza mundiais.
O Observador tentou contactar a organização do concurso, sem sucesso, para perceber que regras contratuais foram violadas por Carla Rodrigues ao apelar à entrada de ajuda humanitária na Venezuela, e que consistia em alimentos e medicamentos, e ao apoiar Juan Guaidó.
Na sua página de Facebook, a MMRP Beleza por Uma Causa descreve da seguinte forma o concurso: “O título de Miss Portuguesa gera oportunidades profissionais e pessoais, além de abrir canais para que a vencedora possa expressar seus pontos de vista nos mais diversos tópicos em entrevistas em programas de televisão, revistas e websites, enriquecer culturalmente, conhecendo novos países e regiões do país, e tornar-se um modelo de cidadania para todas as gerações. Tudo isso, sem contar o privilégio e a responsabilidade de representar Portugal nos maiores eventos de beleza do planeta. Ser Miss Portuguesa é uma experiência única e inesquecível.”
A resposta: “Carla Rodrigues estava consciente das suas obrigações”
Ao início da tarde de sexta-feira, na página do Facebook da Miss Portuguesa foi publicado um vídeo com uma mensagem do presidente da organização, Isidro de Brito, para “clarificar inverdades” vindas a público sobre a destituição de Carla Rodrigues.
“Carla Rodrigues estava perfeitamente consciente das suas obrigações e responsabilidades quando assinou contrato com a nossa organização. Uma miss tem a obrigação de unir o seu povo, tem obrigação de não ser fator de divisão e muito menos de tomar parte em questões políticas”, diz Isidro de Brito no vídeo, sublinhando que a organização que representa sempre colaborou com causas humanitárias, em Portugal ou noutros países. Já Carla Rodrigues, diz, nunca expressou desejo de encetar qualquer tipo de campanha para enviar ajuda humanitária para qualquer país.
“Não podemos, não aceitamos que ao encobrimento das causas humanitárias sejam tomadas posições políticas, sejam onde for”, refere o presidente da organização que acrescenta que o vídeo publicado por Carla Rodrigues no Instagram foi feito na qualidade de Miss Portugal, sem o conhecimento ou autorização da organização.
“Não é admissível que nenhuma Miss Portuguesa faça considerações políticas sobre outro país”, diz Isidro de Brito, defendendo que não cabe à sua organização definir se essas opiniões são certas ou erradas. No entanto, reforça que Carla Rodrigues infringiu regras contratuais.
“Achamos inconcebível que nos possam dar lições de moral sobre o papel de uma miss. Uma miss une, não divide. Honra o país que a elegeu e não se mete nas questões políticas de outro país”, concluiu, sublinhando estar de consciência tranquila e prometendo não mais se pronunciar sobre o assunto.
Entretanto, Carla Rodrigues respondeu com um vídeo no Instagram. Diz que a associação a acusa de estar a cometer fraude e pede, por isso, que lhe digam na cara que não foi por apelar à ajuda humanitária e apoiar Guaidó que foi destituída do título.
(notícia atualizada às 15h48 com a posição da organização do concurso Miss Portuguesa e com o novo vídeo de Carla Rodrigues)