O reino dos super e hiperdesportivos (basicamente abaixo e acima de 1000 cv) atravessa momentos complicados. Os modelos que sempre dominaram o mercado, animados por possantes motores a gasolina, soprados por até quatro turbocompressores, porque um ou dois era manifestamente insuficiente, correm o risco de serem achincalhados (e são) por modelos cujo motor eléctrico é uma versão mais evoluída de uma varinha de fazer sopa ou de um aspirador.
Se bem que admitir que os Ferrari, Lamborghini e Bugatti podem ser ultrapassados em aceleração ou velocidade máxima possa provocar alguma urticária junto dos amantes dos desportivos convencionais, modelos cuja sofisticação tecnológica ninguém disputa e cujos potentes motores seriam impossíveis de conceber mesmo pelos melhores fabricantes de veículos eléctricos – Tesla incluída –, a realidade é que há modelos eléctricos capazes de bater os melhores rivais a gasolina. Pelo menos, em rapidez e velocidade.
Para relembrar tudo isto, a Rimac, que já tinha apresentado em 2018 um protótipo do C_Two, regressou este ano ao Salão de Genebra com a versão de produção em série, que começará a ser entregue aos clientes em 2020. Elegante e agressivo, o C_Two é bastante agradável à vista, ainda que sem ter a estética elaborada de um Ferrari ou Bugatti. Mas os seus 1914 cv cortam pela raiz qualquer conversa em relação às prestações. É só o melhor hiperdesportivo eléctrico do mercado e acusá-lo de ser apenas um electrodoméstico sobre rodas é tanto uma injustiça como uma imprecisão. Isto porque dizer mal do Rimac vai parecer ridículo quando, dentro de uns anos, a própria Ferrari e Bugatti surgirem com modelos similares, alimentados pelos tais motores tipo Bimby.
O Rimac C_Two está equipado com quatro motores eléctricos, um por roda, que juntos somam 1914 cv, uma enormidade em potência, que apenas encontra igual na impressionante força fornecida pelas unidades alimentadas a electricidade, que totalizam 2.300 Nm de binário. Se somarmos um peso de apenas 1.950 kg, é fácil perceber que os 0-100 km/h sejam cumpridos em 1,97 segundos, valor que faz os Ferrari e Bugatti parecer que estão parados.
O pack de bateria do C_Two tem uma capacidade de 120 kWh, pouco mais do que o Model S P100D, agora baptizado Ludicrous Performance, o que assegura uma autonomia de 550 km, já segundo o método WLTP, mas significaria 650 km de acordo com o anterior (e menos rigoroso NEDC). E a Rimac, cujo potencial tecnológico está provado por ser quem fornece alguns dos sistemas Kers às equipas de F1 e até mesmo ao Aston Martin Valkyrie, comercializa este monstro por 2 milhões de euros, antes de impostos, que são consideravelmente mais reduzidos do que se estivesse equipado com um motor a gasolina. E não há nada a gasolina que se aproxime destes valores e ofereça este nível de desempenho.