Há restaurantes no Porto que são considerados uma instituição, seja pela sua história, pela comida apurada ou pelo ambiente familiar e acolhedor. O Rogério do Redondo é um deles. São 10h30 de um dia de semana e o restaurante, situado na zona do Bonfim, já tem a porta entreaberta e muita gente lá dentro. Se uns organizam a cozinha e distribuem o gelo para a montra do peixe, outros limpam o chão e põem cuidadosamente as mesas. Há escadotes abertos, testam-se as luzes e arrastam-se móveis, é a vida nova de uma casa de que o Porto já parecia ter saudades.
Para entendermos a história deste espaço, encerrado desde 2015, temos de viajar até 1985, altura em que Rogério Sá, um portuense nascido numa família ligada aos vinhos, se aventurou no negócio, juntamente com um sócio. “Naquela altura a restauração no Porto era completamente diferente. Só servíamos almoços e lanches, tínhamos 11 pipas de vinho e vendíamos vinho encascado, uma garrafa era só quando o rei fazia anos”, recorda em entrevista ao Observador.
Em 2011 Rogério aceitou uma proposta de trabalho numa empresa de pesca em Angola e deixou o negócio nas mãos de outras pessoas. Acabou por regressar sete anos depois após um telefonema da senhoria, que “manteve a renda simpática” e o convidou a voltar ao número 19 da Rua Joaquim António de Aguiar. E assim foi, no verão de 2018 as obras começaram, a antiga equipa foi chamada novamente e o projeto ficou a cargo do arquiteto João Pedro Serôdio. As toalhas e os guardanapos de papel deram lugar aos de pano, o copo único foi multiplicado por dois, das janelas entra mais luz natural e a cozinha está maior e é visível a olho nu. A decoração é marcada pela combinação da madeira com o branco e a garrafeira ocupa praticamente todas as paredes. “O espaço está decorado com o que gastamos, quando precisamos de um vinho vamos lá buscar diretamente. O ar condicionado não se vê e apostamos muito na acústica, o restaurante pode estar cheio que o barulho não interfere na conversa”, garante o responsável.
Os clássicos de sempre servidos numa mesa nova
Da carta, que varia todos os dias consoante os produtos disponíveis, permanecem os clássicos da cozinha tradicional portuguesa, onde os filetes de pescada com arroz de feijão malandro e grelos, a cabidela, o peixe galo com açorda de ovas, o cabrito ou os rojões são reis e senhores. A matéria-prima? Rogério vai buscá-la a todo o lado, literalmente. “Onde dizem que há uma coisa boa eu meto-me no carro e vou. Na semana passada fui a Oviedo visitar um armazém de carnes maturadas, anteontem fui a Vila Real de Santo António buscar marisco e as batatas vou buscar a Bragança.” Nesta nova fase do seu restaurante homónimo, Rogério Sá investiu numa garrafeira XXL com vinhos portugueses e franceses, num armário especial para carnes maturadas e num Josper, um grelhador a carvão vindo de Barcelona.
O Rogério do Redondo prova que no Porto existem restaurantes que os turistas ainda não descobriram. “É muito raro entrar aqui um cliente que não conheça muito bem e há muitos anos.” A proximidade com a clientela é “o maior cartão de visita” do negócio, que, como em outros tempos, vai ter o nome dos clientes mais assíduos gravados nas babetes para as refeições. Por aqui já se sentaram o filho do Che Guevara, Anthony Bourdain, com quem Rogério falou “até às tantas”, “quase todos os presidentes de república e primeiros-ministros, e até o apresentador de televisão Fernando Mendes, que mesmo de dieta parece não resistir aos temperos das cozinheiras desta casa. A sala interior tem 84 lugares e em breve a esplanada, coberta por uma ramada de jasmim, vai ver a luz do dia.
R. Joaquim António de Aguiar 19. Domingo e segunda, das 12h às 15h, terça a sábado, das 12h às 15h e das 20h às 22h30. 22 536 2215.