Políticos e empreendedores que se cruzaram com João Vasconcelos falam sobre a vida do ex-secretário de Estado da Indústria, que morreu na noite desta segunda-feira na sequência de um ataque cardíaco. Aquele que foi também diretor executivo da Startup Lisboa, da Associação para a Inovação e Empreendedorismo de Lisboa, de 2011 até 2015, tinha 43 anos. O velório vai decorrer esta quarta-feira de manhã na Basílica da Estrela, em Lisboa. Celebrar-se-á também uma missa de corpo presente, revelou fonte do Partido Socialista à agência Lusa.

O apelo à vida e “a tudo o que nos transmite sentimento” de João Vasconcelos, o “irmão mais velho” dos empreendedores

Marcelo Rebelo de Sousa: “Perdemos um dos principais impulsionadores dos jovens empresários”

Numa nota de pesar, Marcelo Rebelo de Sousa diz lamentar a perda súbita de “um dos principais impulsionadores dos jovens empresários em vários setores da economia”.

Teve grande influência na Web Summit em Portugal e tantas outras iniciativas a favor da inovação e do empreendedorismo moderno.

A melhor forma de homenagear João Vasconcelos, diz o presidente da República, é dando “visibilidade aos exemplos de êxito empresarial”. Marcelo Rebelo de Sousa vai estar esta terça-feira em Guimarães para conhecer a Farfetch, “uma das startups portuguesas de maior sucesso e com significativa criação de emprego”.

Manuel Caldeira Cabral: “Tinha um sentido de humor fantástico e é desse amigo que vou sentir falta”

Manuel Caldeira Cabral, ex-ministro da Economia, lembra ao Observador o “amigo” João Vasconcelos, descrevendo-o como uma “pessoa muito dedicada às suas causas e ideias”. “Destacou-se muito no trabalho com as startups e com a inovação. Empenhou-se muito em lançar para a frente uma economia moderna e esse legado ficou”, acrescenta.

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No trabalho tinha uma enorme paixão e uma enorme entrega, sempre a trabalhar por muitas horas e com muito entusiasmo e pondo o coração em tudo”, disse ainda o ex-ministro.

Caldeira Cabral, que foi ministro da Economia quando João Vasconcelos era secretário de Estado da Indústria, no Governo de António Costa, conta como os dois ficaram amigos: “Quando o convidei para o ministério não tínhamos grande proximidade pessoal, mas tornou-se um amigo. Muito leal e muito divertido, tinha um sentido de humor fantástico e é desse amigo que vou sentir falta”.

António Costa: Antes de Vasconcelos, “as startups eram algo que não estava na moda”

O primeiro-ministro, António Costa, manifestou “profunda tristeza” pela morte de João Vasconcelos, considerando que a melhor homenagem é encarar o futuro e os desafios, com o mesmo entusiasmo que tinha o ex-secretário de Estado da Indústria.

“Hoje é daqueles dias onde os sentimentos se misturam entre a profunda satisfação e também a profunda tristeza, mas tenho a certeza, como disse aqui o senhor ministro da Economia, que a melhor forma de homenagearmos a memória do João Vasconcelos é estarmos aqui hoje e encararmos o futuro e os desafios que temos pela frente com o mesmo entusiasmo que todos – ou muitos de nós – lhe puderam testemunhar ao longo da vida”, disse António Costa, em Lisboa.

António Costa à direita de João Vasconcelos (@ PAULO NOVAIS/LUSA)

O primeiro-ministro, que discursava na cerimónia de assinatura dos Pactos Setoriais para a Competitividade e Internacionalização, em Lisboa, reagiu assim à morte do seu antigo secretário de Estado:

“Foi o entusiasmo que lhe vi quando em 2011, no meio da mais profunda crise, aceitou o desafio que lhe lancei de constituirmos então a Start Up Lisboa, num momento em que empreendedorismo, ‘startups’ eram algo que não estava na moda”, lembrou.

Costa recordou ainda o “entusiasmo com que [Vasconcelos] assumiu no início deste Governo e durante muitos meses a pasta da indústria”. O PM acrescentou: “A saudade, a tristeza. Acho que ele hoje, seguramente, o que nos pedia que é força, vão para a frente, acreditem porque o país merece que acreditem no seu futuro”.

O primeiro-ministro publicou ainda na sua conta oficial no Twitter uma fotografia de João Vasconcelos na Web Summit. Na descrição, escreveu: “O João encarava os desafios com um entusiasmo único. O seu otimismo, alegria e energia contagiavam todos à sua volta. Os meus sentimentos à família. Fica a saudade e a tristeza mas fica também a sua força de tornar possível os impossíveis e de acreditar no futuro do Portugal”.

PS: “Alguém que ainda tinha muito para dar ao país”

O Partido Socialista, em comunicado, expressa “o choque” e o seu “mais profundo pesar pela inesperada notícia” da morte “do nosso querido camarada” João Vasconcelos. “Um dos melhores quadros do nosso partido, onde desempenhou vários cargos, tendo atualmente assento na Comissão Nacional, tendo sido ainda secretário de Estado da Indústria do XXI Governo Constitucional”, lê-se ainda.

Todos os socialistas sentem muito dolorosamente esta imensa perda, para o partido e para Portugal, de alguém que ainda tinha muito para dar ao país, na luta por uma sociedade mais justa e moderna.

O PS lembra ainda aquele que diz ter sido “um dos maiores divulgadores e impulsionadores da economia digital e do apoio ao empreendedorismo em Portugal”.

Em nota de pesar publicada no Twitter, Pedro Siza Vieira, ministro Adjunto e da Economia “vem manifestar publicamente o mais profundo pesar pelo falecimento de João Vasconcelos, e endereça à família e aos amigos as mais sinceras e sentidas condolências, próprias destes momentos de tristeza”.

João Cravinho, ministro da Defesa, diz-se “profundamente chocado” e escreve também no Twitter que João Vasconcelos “deixou uma marca grande no tempo terrivelmente curto que esteve connosco”. “Toda a minha solidariedade e condolências para a família e os muitos amigos que ele tinha.”

Já o cabeça de lista europeu do PS escreve que esta terça-feira perdeu-se “um protagonista da mudança e da digitalização”, e ainda “um entusiasta e impulsionador da mudança no nosso país no mundo”. Pedro Marques assegura que “admirava” e “estimava” João Vasconcelos.

O secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, também reagiu via Facebook:

Ainda em choque com a morte súbita do João Vasconcelos. Neste momento triste, quero lembrar-me da sua energia positiva, da contagiante boa disposição e do seu enorme espírito criativo. Ficará para sempre a sua marca na afirmação de Lisboa como uma Startup City, o seu trabalho na Startup Lisboa e o seu inegável papel na vinda da Websummit para Portugal. O João fará muita falta.

Fernando Medina: “A Lisboa do futuro fica hoje sem um dos seus nomes mais destacados”

“Foi um choque a notícia da morte do João Vasconcelos”, escreve, por sua vez, Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, no Twitter. “A sua energia, alegria e capacidade de agregação para o empreendedorismo e economia digital eram hoje ímpares no nosso país. A Lisboa do futuro fica hoje sem um dos seus nomes mais destacados.”

Sérgio Sousa Pinto: “Era o meu melhor amigo”

A morte de Vasconcelos foi de tal forma inesperada que muitos dos socialistas mais próximos do antigo secretário de Estado não conseguem expressar mais do que choque. Ao Observador, Sérgio Sousa Pinto disse apenas: “Era o meu melhor amigo”. Outro deputado do PS, Fernando Rocha Andrade, também disse não conseguir falar neste momento.

Eurico Brilhante Dias, também deputado do PS, escreve na respetiva conta de Facebook que João Vasconcelos “serviu o país”, que “está melhor porque ele cá passou”. “Ainda hoje de manhã — na manhã de Manila .- falei de como a Websummit era um momento único. De como esse era o momento para vir a Portugal e conhecer o nosso ecossistema de empreendedorismo e start ups. Uma marca única.”

Jorge Seguro Sanches: “Era muito pragmático e com características humanas fantásticas”

Jorge Seguro Sanches, ex-secretário de Estado da Energia, diz estar “chocado”. Ao Observador recorda a “visão fantástica” que João Vasconcelos tinha sobre o empreendedorismo e o desenvolvimento do país. “Era muito pragmático e com características humanas fantásticas.”

Homem “simples e simpático”, descreve, referindo o ambiente de trabalho que o ex-secretário de Estado proporcionava: “No gabinete dele trabalhavam todos em open space, ao contrário dos outros secretários de Estado que têm um gabinete fechado. Ele tinha uma sala em open space com a equipa toda. Não havia mais ninguém que fizesse isso”.

João Soares: “Um tipo vivo, inteligente, rápido, bom orador com mundo e cultura”

João Soares também se serviu das redes sociais para escrever uma nota de pesar. Sobre João Vasconcelos, “o impulsionador da Startup Lisboa”, deixou a seguinte descrição:

Um tipo vivo, inteligente, rápido, bom orador, com mundo e cultura, audacioso. Deixo aqui o testemunho do meu pesar pela sua morte tão prematura e inesperada.

António Saraiva: “Era uma pessoa que transformava sonhos em realidade”

“Portugal tem tido poucos secretários de Estado da Indústria a sério. O João Vasconcelos foi um deles, foi um dos raros que teve esta visão. E o país a ele lhe deve o início deste ciclo de modernização da economia portuguesa — com a digitalização, o Web Summit, a Indústria 4.0. O João Vasconcelos foi um dos artífices disso”, diz António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), ao Observador.

Era uma pessoa que transformava sonhos em realidade. Se há marca que fica é esta: conseguir transformar sonhos em realidade. E ele era um fazedor, fazia com que as coisas acontecessem e Portugal precisa de pessoas assim.

“Eu dizia que ele era ‘um inquieto’. Liderou camiões para a ajuda à Síria e deveria estar a fazer o mesmo para Moçambique. Acima de tudo, é um amigo que parte muito cedo, demasiado cedo”, recordou ainda António Saraiva.

Basílio Horta: “O país precisa muito de jovens como o João Vasconcelos”

Basílio Horta, presidente da Câmara Municipal de Sintra, foi dos primeiros a reagir. No Facebook, lembrou “a alegria pela vida, dinamismo, curiosidade, capacidade de pensar de forma diferente e inovadora” do ex-secretário de Estado. “É difícil começar o dia com uma notícia destas. O país precisa muito de jovens como o João Vasconcelos”, rematou.

Hermínio Loureiro: “Uma força da natureza”

Hermínio Loureiro, do PSD, fala “numa força da natureza” e diz-se “chocado” com a notícia desta terça-feira de manhã. Num post publicado no Twitter, descreve João Vasconcelos como “um empreendedor nato, um dos mais talentosos da sua geração”.

Adolfo Mesquita Nunes: “Havia no João uma rara predisposição para o riso”

“Havia no João uma rara predisposição para o riso, o singular atributo das pessoas que não precisam de se levar a sério para chegar longe e bem e depressa e com seriedade”, salienta Adolfo Mesquita Nunes, do CDS, no Twitter. “Vai fazer falta.”

Pedro Mota Soares: “Concordámos e discordámos e isso serviu sempre para aumentar a amizade”

O deputado do CDS, Pedro Mota Soares, escreve no Facebook como João Vasconcelos “era novo demais”, tinha “demasiada vida por viver” e “tinha muito mais para dar a todos nós”. “Estivemos juntos em várias situações, dentro e fora da política. Concordámos e discordámos e isso serviu sempre para aumentar a amizade e respeito. Até já, João.”

É daquelas notícias em que não queremos acreditar. O João Vasconcelos era novo demais, tinha demasiada vida por viver,…

Posted by Pedro Mota Soares on Tuesday, March 26, 2019

Paddy Cosgrave: “Um secretário de Estado apaixonado por startups e por Portugal”

Também Paddy Cosgrave, fundador da Web Summit, já reagiu. Na conta de Twitter lamenta a morte de João Vasconcelos, o “secretário de Estado que era muito apaixonado por startups e por Portugal”. “Ele fez muito para promover as startups de Portugal no palco do mundo. Vamos ter saudades suas.”

Startup Lisboa: “O João foi e continuará a ser uma inspiração para todos nós”

Miguel Fontes, que sucedeu a Vasconcelos na direção da Startup Lisboa, diz ao Observador que ainda não consegue acreditar na morte do amigo.

Estou em choque. Ainda não acredito. A vida prega-nos partidas difíceis de aceitar. É muito cruel ver alguém tão novo, com tanta energia e com tantos projetos ser parado assim tão de repente. O meu pensamento, neste momento, está com a mulher, Isabel, e com os seus dois pequeníssimos filhos.”

Já a incubadora de empresas, que está e estará sempre associada ao nome do ex-diretor e ex-secretário de Estado, “está de luto”: “A Startup Lisboa está de luto. Hoje, perdemos aquele que foi o primeiro diretor desta casa e que tanto lhe deu! É uma perda enorme! Todos os que conheceram o João e que com ele se cruzaram não o vão esquecer. O João foi e continuará a ser uma inspiração para todos nós”.

Miguel Santo Amaro: “Foi um irmão mais velho para mim em Lisboa”

O fundador da Uniplaces Miguel Santo Amaro descreve João Vasconcelos como um eterno “sinónimo de paixão, ambição e amizade”, mas também como “o irmão mais velho em Lisboa”.

O João era uma força da natureza, transportava consigo o espírito do empreendedor, a ambição de fazer, sem medos ou burocracias. Foi um irmão mais velho para mim em Lisboa — acolheu-me na Startup Lisboa e daí para a frente foi um exemplo de como fazer acontecer.

No Facebook, Miguel Santo Amaro refere o ex-secretário de Estado como o “porta-estandarte para o empreendedorismo em Portugal e no mundo”. “Embora recentemente ligado às empresas tecnológicas, sempre foi um apaixonado pela economia real, pela indústria, pelo empreendedorismo social, pelos carros clássicos, pelo mar e acima de tudo pelos amigos e, em especial, pela família! Resta-me agradecer a tua amizade e legado. Ficarás para sempre nas nossas memórias.”

Flash: “Iremos preservar a sua memória na empresa”

Também a Flash, uma startup de micromobilidade de origem alemã e que opera na capital portuguesa, divulgou uma nota de pesar. Na nota, Felix Petersen, diretor-geral em Portugal, afirma que João Vasconcelos era mais do que um membro da empresa [era presidente do seu Comité Consultivo], “era um grande amigo”.

Uma pessoa especial que me marcou muito positivamente desde que cheguei a Portugal há 4 anos. Durante estas últimas semanas em que acompanhou o lançamento da Flash em Portugal, num conjunto de cidades portuguesas, não foi indiferente a ninguém o entusiasmo, a motivação e a alegria contagiante com que o João a todos nos brindava”, assinalou

“Iremos preservar a sua memória na empresa seguindo as suas ideias e o seu entusiasmo pela inovação”, concluiu Felix Petersen.

Pedro Oliveira: “A Web Summit veio para cá muito por culpa dele”

Pedro Oliveira, CEO e fundador da Landing Jobs, diz ao Observador que esta foi uma “enorme perda sem sentido”. “Ele fez muito, foi na Startup Lisboa que eu cresci, foi a minha casa e foi ele que fez aquilo. Nunca te esqueces disto, o sentimento é de agradecimento, mas vai deixar muitas saudades”, garante.

Há muita coisa por fazer ainda, mas ele tinha uma frase: mais vale feito do que perfeito e foi o que ele fez, pode não ter ficado perfeito, mas fez. É um sentimento um bocado inglório, havia muito por fazer. É engraçado que o João estava sempre a vender para fora as empresas, fossem elas quais fossem, só tinham de ter uma coisa em comum: serem portuguesas. A Web Summit veio para cá muito por culpa dele e há-de haver tantas outras empresas que não sabemos. Ele era um dinamizador da marca, deixa legado sem duvida.

Celso Guedes de Carvalho: “Temos 10 anos de Web Summit que vamos sempre recordar por ter sido ele o impulsionador”

O ex-CEO da Portugal Ventures na altura em que João Vasconcelos era secretário de Estado da Indústria fala ao Observador do “amigo”. “Era sobretudo um amigo. Mas do ponto de vista profissional, acho que deixou um legado muito incompleto… Foram tantas as frentes que ele abriu que temos trabalho por muitos anos, para as gerações futuras”, salienta.

O que mais gostava era que estivéssemos à altura do que ele nos deixou. O João esteve muito pouco tempo connosco, temos muito trabalho pela frente. Se conseguirmos pegar em tudo aquilo que ele desbloqueou e projetou para o país, o amor que ele tinha ao país era tanto… E ele fez isto tudo com um grandeza e um desprendimento que muito poucos têm.

Para Celso Guedes de Carvalho vai chegar o dia em que “veremos os frutos do que fez”. “Temos 10 anos de Web Summit que vamos sempre recordar por ter sido ele o impulsionador disto.”

Ana Lehmann: “Temos de pensar como homenagear e celebrar devidamente o teu legado”

Ana Lehmann, antiga secretária de Estado da Indústria no Fundo para a Inovação Social e precisamente a sucessora de João Vasconcelos nesse cargo, já mostrou a sua tristeza pela morte do colega. Numa publicação no Facebook, Ana deixou uma mensagem aos familiares e amigos, destacando as caraterísticas de João.

Com um sentimento de incredulidade, choque e imensa tristeza pela partida injusta e prematura do João. Os meus pensamentos estão com a Isabel, com os filhos ainda tão pequenos e com toda a Família e inúmeros amigos que tal como eu estão chocados com a notícia. Sem capacidade para articular muito mais, recordo-o como ele era: combativo, visionário, com uma imensa e contagiante energia positiva.
Obrigada, João.

Ana Lehmann, concluiu a mensagem com um apelo: “Temos que pensar como homenagear e celebrar devidamente o teu legado. Quem quiser acompanhar, por favor (somente) mensagem privada”, disse a também secretária de Estado da Indústria no Fundo para a Inovação Social.