Da vasta herança que a Grécia Antiga nos deixou, Isaac e Sara pegaram num dos ativos mais valiosos, a beleza. A partir de perfis e silhuetas clássicas, construíram um atelier de cerâmica muito pouco convencional. Há um ano e meio que sujam as mãos ali para os lados de Marvila, em Lisboa. Que sujam as mãos e que programam uma pequena impressora 3D. Drama Lisboa é uma marca de cerâmica de autor e nasceu para aliar o melhor de dois mundos — a criatividade e o engenho humanos e as habilidades da aparelhagem tecnológica. “A ideia sempre foi não fazer cerâmica da forma clássica. Por outro lado, quisemos dar uma função aos objetos que os gregos faziam só para contemplação”, explica Isaac Gens, parte da dupla que ocupa hoje uma parte da Fábrica Moderna, uma espécie de co-work criativo no Poço do Bispo, entre outros ceramistas, joalheiros, pintores, designers gráficos e até marceneiros.

Isaac Gens e Sara Padrão, os técnicos e criativos da Drama Lisboa © André Dias Nobre/Observador

Por muito que se distancie de um atelier de cerâmica convencional, Issac e Sara continuam a pôr as mãos na massa, ou melhor, na pasta de porcelana que, neste caso, é a matéria-prima mais usada. Inevitavelmente, todas as peças começam num programa de modelação tridimensional. Através de um cartão, vão diretas para o cérebro artificial da impressora, máquina de nacionalidade italiana que, fio a fio, dá forma ao projeto. Uma única peça leva, em média, quatro horas a estar concluída, pelo menos na parte do trabalho que cabe à impressora. Depois dela, fica a secar durante cerca de dois dias, vai ao forno (que é partilhado), fazem-se os acabamentos manuais, dá-se o efeito vidrado (sempre que é opção) e segue para uma eventual segunda cozedura. A dupla tem ainda explorado a técnica japonesa kintsugi, que consiste em reparar rachas acidentais nas peças com ouro.

Hellenic Summer, a coleção da Drama Lisboa inspirada na estética da Grécia Antiga

Isaac e Sara conhecem-se há cerca de cinco anos. Ele, designer de formação, cansou-se do trabalho em ambiente industrial. Há muito que estava familiarizado com as potencialidades da impressão 3D, contudo, e compreensivelmente, o plástico não era o material mais interessante do mundo. A pesquisa que fez a partir daí levou-o à possibilidade de fazer peças de cerâmica em impressoras e, consequentemente, à Drama Lisboa, a primeira marca portuguesa a alcançar a referida proeza. Sara vem das Belas-Artes, onde teve o primeiro contacto com a cerâmica. Acabou por enveredar por outro caminho e, em 2010, criou a Poise, uma marca de malas em pele que continua a produzir. Conclusão: com a chegada aos 30, retomou o gosto pela arte.

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Hellenic Summer é a coleção que está a pôr este atelier no mapa. Depois das primeiras peças, vasos com a forma de cabeças invertidas, vieram os corpos e os rostos diretamente inspirados na estatuária clássica. A coloração, branca e azul, ajuda a definir o estilo da marca. “Não há uma peça igual”, exclama Sara, ao referir-se às riscas de cor que as diferenciam, mas quando se trata de um processo maquinal. “A seguir pode vir uma coisa completamente diferente”, acrescenta. O duo criativo não desvenda as novidades que se seguirão, apenas que poderão ter como referência formas presentes na natureza.

A edição especial Drama Lisboa x Latte © Instagram/lattelisbon

Enquanto isso, o atelier vive também de colaborações. Na última edição da ModaLisboa, Dino Alves adicionou anéis em cerâmica ao seu desfile. A dupla também já foi convidada a desenhar uma peça para a competição Chefe Cozinheiro do Ano e fez um brilharete ao misturar cerâmica e resina. Para a Latte, loja localizada em pleno Chiado, desenharam uma edição limitada de vasos, mantendo a forma de cabeça invertida, mas com balaclavas de malha e chokers em pele. Os exemplares já foram todos vendidos. Atualmente, estão a trabalhar numa nova peça em parceira com o artista Akacorleone. Para já, a Drama Lisboa vende através da loja online e do Instagram. Ter as peças em pontos de venda físicos não está fora de questão, Issac e Sara apenas querem manter a produção controlada. Mesmo com uma máquina inteligente a garantir uma parte do processo, massificar a cerâmica de autor não faz parte dos planos. Pelo menos os gregos não iriam gostar.

Cuecas, cocós e maminhas: assim se vê a nobreza da nova cerâmica portuguesa

Nome: Drama Lisboa
Data: 2017
Pontos de venda: loja online e Instagram
Preços: de 55 a 120 euros

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