A Uber entregou na quinta-feira os primeiros documentos para o processo de admissão em bolsa (IPO, sigla em inglês). A tecnológica vai dispersar apenas um décimo do seu capital em bolsa (por cerca de 10 mil milhões de euros) e a operação vai avaliar a empresa entre os 90 e os 100 mil milhões de dólares. Mas o passado conturbado da empresa fundada por Travis Kalanick — e agora liderada por Dara Khosrowshahi — não vai ser esquecido e pode dificultar o IPO.

Depois de analisar as mais de 300 páginas que constam nos documentos entregues na Securities and Exchange Commission, o principal regulador do mercado de valores norte-americano, o jornal britânico The Guardian avaliou os principais riscos do IPO da Uber. Entre eles, encontram-se polémicas já antigas como a cultura organizacional agressiva que se vive na empresa ou a insatisfação dos motoristas.

“Ambiente competitivo” e “crescimento agressivo”

No documento, lê-se que o ambiente de trabalho na Uber é ” intensamente competitivo” e que a empresa se focou num ”crescimento agressivo”, que levou a que existisse falta de coordenação na empresa, ”partilha de conhecimento” e de ”transparência interna”.

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Há dois anos, Susan Flower, engenheira informática da Uber, contou no seu blogue que sofreu assédio sexual enquanto trabalhava na empresa e revelou que a cultura organizacional era ”sexista”. Perante a denúncia da funcionária, a empresa abriu uma investigação, que levou ao despedimento de 20 trabalhadores por assédio sexual.

Segundo o relatório de admissão à bolsa, estas situações fazem com que seja ”mais difícil atrair colaboradores de alta qualidade” para a bolsa.

Motoristas que continuam insatisfeitos

As greves, manifestações e denúncias de precariedade na Uber continuam a deixar os motoristas que trabalham para a plataforma descontentes. O facto de trabalharem num regime de ”contratados independentes” (não são colaboradores da empresa) não permite que lhes seja assegurado um salário mínimo, que recebem horas extra nem tenham seguro. As reivindicações fizeram com que os motoristas quisessem avançar para a formação de um sindicato e, em Portugal, as queixas dos motoristas também se fizeram ouvir.

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A empresa admite mesmo que continua ”a sentir a insatisfação de um número significativo de motoristas com a plataforma”. E acrescenta que é possível que os trabalhadores fiquem ainda mais infelizes quando a empresa investir em carros autónomos.

Processo da Google: 245 milhões

As investigações de que a Uber foi alvo também são um risco para o IPO. Em 2017, a Google processou a Uber por ter utilizado informação proveniente de 14 mil páginas de documentos sobre os carros autónomos da Google, que alegadamente tinha sido levada para a Uber por funcionário. Um ano depois, o tribunal deu-lhe razão e obrigou a Uber a pagar 245 milhões à Google.

A empresa também já enfrentou acusações de ”alegadas práticas comerciais enganosas e fraude” e ”o uso de uma ferramenta para limitar as visualizações de carros disponíveis para as autoridades reguladoras”, disse.

Movimento anti-Uber nas redes sociais

Em 2017, o movimento #DeleteUber, que procurava incentivar os utilizadores da app a desinstalá-la e a apagarem a sua conta, ganhou escala, com várias personalidades públicas a anunciarem nas redes sociais que tinham aderido ao movimento. O #DeleteUber começou depois de, durante uma greve de taxistas nos EUA contra a proibição da entrada de muçulmanos no país, a Uber ter decidido continuar a transportar passageiros.

A empresa revelou que em breve vai ”divulgar dados relacionados com agressões sexuais e outros incidentes de segurança que tenham acontecido na Uber”. E ecrescenta que ”espera continuar a receber queixas relacionadas com a conduta dos motoristas”.

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