Nusrat Jahan Rafi, estudante de 19 anos, foi queimada viva na sua escola no Bangladesh, depois de denunciar o diretor por assédio sexual. Morreu cinco dias depois com queimaduras em 80% no corpo, avança a BBC.

A denúncia surgiu no dia 27 de março. A jovem defendeu que o diretor a chamou ao seu gabinete e a tocou de forma inapropriada. Muitas raparigas e mulheres no Bangladesh optam por esconder que foram vítimas de abuso sexual, temendo repressões da sociedade e da família. No entanto, Nusrat denunciou o crime junto dos seus familiares e da polícia, fazendo deste um caso diferente.

Na polícia, a jovem foi filmada por um agente que a intimidou. No mesmo dia, o diretor da escola islâmica foi preso, o que piorou a situação de Nusrat. Dois estudantes organizaram uma manifestação. Composto por políticos e estudantes, o grupo de manifestantes culpou a rapariga e exigiu a libertação do alegado agressor.

Apesar da pressão e do ambiente de violência, no dia 6 de abril, 11 dias depois da agressão, Nusrat Jahan regressou à escola para realizar os exames finais. “Tentei levar a minha irmã à escola, mas fui impedido”, referiu Mahmudul Hasan Noman, irmão da rapariga. Nusrat terá depois fugido e, ajudada por uma colega, subiu ao telhado da escola. Aí, foi cercada por um pequeno grupo de pessoas que exigiu a retirada da queixa ao diretor. Quando Nusrat recusou, os agressores lançaram fogo à jovem com querosene. 

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A intenção dos agressores era fazer com que tudo parecesse um suicídio, disse o chefe do Departamento de Investigação da Polícia, Banaj Kumar Majumder. No entanto, e depois de o grupo ter fugido, Nusrat foi levada para o hospital. Na ambulância, a rapariga gravou uma declaração com o telemóvel do irmão antes de morrer. “O professor tocou-me. Vou lutar contra este crime até ao meu último suspiro”, ouve-se na gravação. A rapariga identificou ainda os agressores como estudantes da sua escola.Nusrat morreu no dia 10 de abril e milhares de pessoas foram ao seu funeral, na pequena cidade de Feni.

A polícia deteve 15 pessoas, sete das quais terão participado no assassínio. Entre os detidos, constam os dois estudantes que organizaram a manifestação de apoio ao diretor que continua detido. O polícia que filmou a denúncia da rapariga foi expulso do seu cargo e transferido para outro departamento.

A primeira-ministra Sheikh Hasina esteve com a família da vítima e prometeu que todos os envolvidos no crime serão julgados. “Nenhum dos culpados será poupado à justiça”, disse.

Em 2018, foram registados no Bangladesh 940 crimes de violação, segundo um grupo de direitos da mulher do país. No entanto, investigadores estimam que o número real de crimes seja muito maior.