O Commerzbank elogia a estabilidade política em Portugal, acreditando que os socialistas vão “ganhar terreno” nas eleições de outubro, e diz que o país continua a “colher os frutos das reformas feitas anteriormente” para conseguir dinamizar o crescimento económico e promover o equilíbrio das contas públicas. Por estas razões, os analistas do banco alemão consideram que uma das melhores apostas que os investidores em dívida pública europeia podem fazer, nesta altura, é apostar nos títulos de dívida pública portuguesa a longo prazo — a descida dos juros vai continuar, prevê o Commerzbank, embora nos próximos meses os mercados financeiros poderem sofrer um abalo.

Num relatório de análise onde se procura perceber onde é que ainda existe margem para que as taxas de juro se reduzam ainda mais (o que pressupõe uma valorização dos títulos de dívida em questão), o analista Christopher Rieger, que lidera a equipa de análise no mercado de dívida, comenta que “Portugal continua a colher os frutos das reformas feitas anteriormente, que melhoraram a competitividade da economia portuguesa, dinamizando o crescimento do produto interno bruto (PIB) e reduzindo os níveis de dívida pública e privada, que continuam em valores elevados”.

Por outro lado, “a estabilidade política não parece estar em risco, já que os socialistas que estão no poder parecem caminhar para ganhar terreno nas eleições de outubro. E o Governo caminha, também, para conseguir um orçamento equilibrado este ano, o que acontecerá pela primeira vez na história recente — ao mesmo tempo que o BCE continua a manter um investimento líquido positivo” na dívida portuguesa (porque apesar de o programa de compras de dívida ter terminado, o BCE continua a intervir no mercado com o reinvestimento de títulos que vão sendo reembolsados).

“O ímpeto favorável [de Portugal], dentro dos países da ‘periferia’, continua intacto”, assinala Christopher Rieger. Isto apesar de as taxas de juro de Portugal terem caído, nos últimos meses, para mínimos históricos pouco acima de 1%. Nesta sexta-feira, a taxa a 10 anos está em 1,12%, segundo a Bloomberg, um movimento que, em parte, tem na sua base a redução geral das taxas de juro de longo prazo na Europa nos últimos meses.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Portugal “ganhou à Alemanha por 100 pontos-base” nos juros da dívida?

A alternativa para os investidores que estejam à procura de outros investimentos em dívida pública europeia onde possa haver margem para mais valorizações é, na opinião do Commerzbank, a dívida de médio prazo da Grécia. O banco alemão acredita que apesar de a dívida grega continuar a ser a mais elevada da zona euro — 181% do PIB — “a sustentabilidade da dívida não parece estar em risco”.

“A menos que o governo [de Alexis Tsipras] decida violar abertamente as condições do programa de resgate”, a Grécia tem condições para obter mais alívio da dívida grega e das condições impostas pelos credores, sem que isso penalize os investimentos dos investidores privados. Com algumas melhorias no desempenho económico do país, “a tendência de convergência [da Grécia com os outros países] continua intacta”.

Segunda metade do ano pode trazer inversão do otimismo

Ainda assim, nem tudo são boas notícias para os países da chamada “periferia” da zona euro. A dívida de Portugal é vista como relativamente “defensiva” por parte do Commerzbank, mas o banco alemão olha com bastante apreensão para a evolução dos níveis de confiança dos investidores na segunda metade do ano.

“O sentimento em relação aos países da ‘periferia’ continua a ser favorável, mas é provável que isso mude nos próximos meses”, escreve o Commerzbank. E há vários fatores, internos e externos, que podem abalar o aparente otimismo que tem dominado os mercados financeiros (não obstante as descidas das taxas de juro também indicarem que não é muito grande a esperança dos investidores em relação à capacidade de se acelerar o crescimento económico na zona euro e de se estimular a taxa de inflação).

“Parece provável que os EUA possam chegar a um acordo comercial com a China nas próximas semanas, o que deve suportar o otimismo dos investidores”, diz Christopher Rieger. Mas, depois da China, “a UE terá maiores dificuldades em resolver as disputas comerciais com os EUA, e acreditamos que Trump irá anunciar aumentos das taxas alfandegárias sobre as exportações europeias de automóveis”.

Além disso, “após as eleições europeias [de maio], nomear um novo presidente para a Comissão Europeia deverá revelar-se mais difícil, já que os principais blocos tradicionais podem não conseguir formar maiorias”. A incerteza política deverá germinar a partir de Itália, onde o “governo populista não deverá aceitar mais do mesmo”.

“Os próximos conflitos orçamentais adivinham-se para o próximo outono, numa fase em que os investidores podem colocar em questão até que ponto se irá manter o mantra de Mario Draghi, de fazer tudo o que for necessário para preservar a união monetária”, receia o Commerzbank. Mario Draghi termina o seu mandato em outubro e ainda não existe uma nomeação para suceder ao italiano.