Uma equipa de investigadores encontrou indícios de que os nazis alemães podiam ter estado muito perto de desenvolver uma bomba atómica durante a II Guerra Mundial. Um relatório publicado na revista científica Physics Today desvenda que a Alemanha tinha mais urânio na sua posse do que se julgava — 664 cubos de urânio-235, o único físsil, não apenas um — e que não seria a falta desse elemento que travava os planos alemães de tornar o país numa potência nuclear. Seria, isso sim, a falta de capacidade de gestão. E as más relações internacionais.

As descobertas sobre as experiências da Alemanha de Adolf Hitler surgiram depois de Tim Koeth, um dos investigadores, ter recebido um cubo de 2,4 quilogramas com arestas de cinco centímetros. Era quase negro e vinha embrulhado num papel com a mensagem: “Trazido da Alemanha, do reator nuclear que Hitler tentou construir. Presente de Ninninger”. O cubo chegou às mãos do especialista em aceleração de partículas em 2013. E Tim passou os últimos cinco anos a estudá-lo.

As investigações levaram-no até à viúva de Ninninger, que lhe explicou que o marido era o responsável pelo armazenamento de urânio do Projeto Manhattan — que tinha como missão construir um armamento nuclear em Nova Iorque, a mando do presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt, antes que Hitler conseguisse fazê-lo. Mas Hitler já se tinha adiantado: tinha 664 cubos de urânio-235 unidos com aço entrelaçado e mantidos num tanque cheio de óxido de deutério circundado por grafite.

O Projeto Manhattan foi posto em andamento por três motivos. Em 1932, o físico alemão Werner Heisenberg já tinha ganho o Prémio Nobel “pela criação da mecânica quântica, cujas aplicações levaram à descoberta, entre outras, das formas alotrópicas do hidrogénio” — o elemento usado para a conceção da bomba atómica. Depois, outros três cientistas alemães (Otto Hahn, Fritz Strassman e Lise Meitner) tinham descoberto a fissão nuclear, a reação que faz as bombas explodirem. E, além disso, outros cientistas, como Einstein, já tinham demonstrado preocupação pelos avanços da Alemanha no campo da física nuclear.

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Quando o Heereswaffenamt, o exército alemão, pediu um parecer a Heisenberg para explicar como é que aquelas descobertas podiam impulsionar a criação de armamento nuclear nazi, o físico deu uma resposta desanimadora: segundo ele, seriam precisos demasiados anos, e demasiada matéria, para se construir uma bomba nuclear por separação de isótipos de urânicos e de produção de plutónio.

Fora da Alemanha também se acreditava que os nazis não tinham capacidade para construir levar um armamento nuclear. Pensava-se que o país não tinha acesso a urânio suficiente e que não tinha capacidade, nem financeira nem diplomática, para o comprar a alguém. Mas isso revelou-se mentira: Hitler contratou outro físico, Kurt Diebner, para fazer testes com urânio em Gotaw.

As investigações foram travadas quando os Aliados chegaram a essa cidade no centro da Alemanha. Quando lá chegaram, os nazis estavam a meio da construção de uma máquina B-VIII. Segundo Heisenberg, “o aparelho ainda era muito pequeno para sustentar uma reação de fissão de maneira independente, mas um ligeiro aumento no seu tamanho poderia bastar para iniciar o processo de geração de energia”. Hitler só precisava disso e de mais 50% de urânio-235 para ser bem sucedido.