A comissão de ética do Banco de Portugal analisou o pedido de escusa apresentada pelo governador do Banco de Portugal, na sequência da auditoria da EY a 15 anos de gestão da Caixa Geral de Depósitos. Carlos Costa foi administrador da CGD entre 2004 e 2006 e terá nessa qualidade estado presente em reuniões alargadas do conselho de crédito que discutiram e ou aprovaram algumas das operações que trouxeram perdas ao banco do Estado.

Quando o seu nome surgiu associado às reuniões que terão decidido créditos problemáticos, Carlos Costa pediu escusa em relação a decisões do conselho de administração do Banco de Portugal relacionadas com as consequências da auditoria à Caixa, que levou já à reavaliação da idoneidade de vários gestores bancários.

Governador do Banco de Portugal diz que pediu escusa sobre CGD em novembro passado

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O caso de Carlos Costa foi analisado e discutido na comissão de ética do próprio supervisor, confirmou José da Cunha Pereira, esta terça-feira na comissão parlamentar de inquérito à Caixa. O responsável, que é um dos vogais desta comissão, confirmou em resposta à deputada do PSD, Liliana Silva, que o tema foi objeto de discussão interna e que a iniciativa terá partido do próprio órgão do BdP e não a pedido do governador. Segundo a deputada do PSD, Carlos Costa pediu para ouvido pela comissão de ética. Não ficou claro das respostas do responsável deste órgão se isso aconteceu ou vai acontecer, se será produzido um parecer ou que este venha a ser tornado público. A situação do governador foi analisada numa reunião em abril.

Questionado sobre o resultado desta avaliação, Cunha Pereira lembrou que é apenas um dos membros da comissão.

“Quando não nos é pedido o parecer, no mínimo a comissão de ética analisa a situação, debate, já o fez em termos de discussão interna, não vou avançar mais por razões que compreendem, é uma relação sigilosa, a informação não é minha, é de três, de um órgão, mas posso dizê-lo, não sei se já avancei demais, mas naturalmente que analisou e discutiu a situação, e não é obrigada a transmitir o parecer, também não quer dizer que o faça”.

A escusa pedida pelo Governo é enquadrado por um dos temas tratados no código de conduta do Banco de Portugal e que diz respeito a conflitos de interesses, neste entre caso entre ex-administrador de uma instituição supervisionada e presidente de um supervisor que está a avaliar a idoneidade ou eventuais processos a antigos administradores da Caixa.

Para além de Cunha Pereira, fazem parte desta comissão o presidente, Vítor Manuel Rodrigues Pessoa e Vasco Manuel da Silva Pereira.

O mesmo responsável foi também questionado sobre a situação de Elisa Ferreira, vice-governadora do Banco de Portugal, que é casada com Fernando Freira de Sousa que esteve na administração La Seda quando a Caixa entrou no capital da empresa catalã que é apontada como uma das operações que mais prejuízos trouxe ao banco.

Marido da vice-governadora do Banco de Portugal estava na La Seda quando Caixa entrou no capital da empresa

Ao contrário de Carlos Costa, Elisa Ferreira não pediu escusa de decisões relacionadas com a Caixa mas informou a comissão de ética do Banco de Portugal sobre um possível conflito de interesses.