A ativista Lau Zanchi, promotora do projeto “Sentir a Amazónia em Portugal”, afirma que o Brasil vive um “momento muito delicado para o ambiente”, apelando ao apoio da opinião pública e da Europa para que algumas medidas não avancem.
“Nós estamos num momento muito delicado para ambiente no Brasil. Há uma instabilidade muito grande, há um desacerto de orientações e não se sabe onde isso vai chegar”, afirmou, em entrevista à Lusa, em Lisboa, Lau Zanchi.
Por isso, acrescentou, “é muito importante” mostrar “que estamos atentos” ao que está a acontecer na Amazónia e suas ameaças, considerando por isso o “papel importantíssimo” das organizações não-governamentais, da opinião pública e da opinião internacional.
O projeto “Sentir a Amazónia em Portugal” é um ciclo de conversas e exposição fotográfica que termina hoje, em Lisboa, e que ao longo desta semana colocou portugueses e brasileiros a debater os problemas em torno da grande floresta brasileira.
Segundo Lau Zanchi o projeto foi “além das expectativas”, gerando a curiosidade de um público alargado.
Lau Zanchi, que é brasileira e vive há 30 anos em Portugal, recordou que ainda recentemente foi feito um manifesto de cientistas, informando e alertando para o papel da Europa relativamente ao consumo de produtos oriundos da floresta e de produções não sustentáveis.
Defende, assim, que é a altura de a Europa posicionar-se contra medidas que “estão em início de serem tomadas” no Brasil, pelo atual Governo brasileiro.
“Porque as medidas estão acontecendo, mas conforme há uma voz que se levanta ou uma manifestação eles percebem que as pessoas estão acordadas, e aí volta-se atrás nessas medidas. Temos que estar atentos. E o nosso projeto pede isso”, justificou.
Isso é “preservar a Amazónia à distância”, afirmou.
“É importante que o Governo perceba o que está causando cá fora. É um bom referencial para as suas atitudes, as medidas que estejam sendo tomadas, o que estão a causar cá fora. E tenham atenção a isso”, disse ainda.
Lau admite que a questão da floresta Amazónica é difícil de gerir, pelo que defende que qualquer solução terá de envolver “a vivência da Amazónia”, sendo “extremamente” importante colocar pessoas à frente das estruturas do ambiente que tenham essa “vivência no campo”.
Acrescenta que “a redução de verbas” para associações e entidades ligadas ao meio ambiente, bem como “a falta de diálogo e a colocação de pessoal não técnico à frente de certos departamentos e gabinetes”, são medidas que o Governo do Presidente brasileiro Jair Bolsonaro está a implementar e que a preocupam.
“Isso tudo tem vindo a gerar uma série de dificuldades”, garante.
Para ultrapassar os riscos que a Amazónia e os seus habitantes atravessam atualmente, Lau Zanchi propõe “diálogo”.
E nesse diálogo, afirma, é importante que haja “uma postura não radical do ambiente e não haver uma postura radical também da área política”. Até porque “se forem criadas as condições para que o homem, habitante da floresta, fique ali, as demais medidas virão a seguir”.
O projeto “Sentir a Amazónia” começou há oito anos e “o objetivo fundamental é criar pontes, levar informações e fazer ecoar projetos que estejam fazendo a diferença na Amazónia brasileira”.
Um exemplo desses projetos é o do “empreendedorismo ribeirinho”. Segundo Lau Zanchi, as pessoas não têm a noção do papel que isso representa para fixar o homem na floresta.
“Esse habitante da floresta, estando fixado na floresta dignamente, vivendo na e da floresta, sem dúvida será ele o melhor guardião. Ele quer manter a floresta de pé porque ela vale mais de pé do que derrubada. Para eles, a Amazónia é fundamental, porque é de lá que tiram o seu sustento”, explica.
A realização do ciclo de conferências que decorreu esta semana em Portugal teve precisamente a finalidade de fazer ecoar essa informação.
“É muito importante a força que Portugal e o Brasil têm na lusofonia, para criar sinergias e envolver e divulgar a questão do ambiente”, sublinhou, alertando para a importância também destes ecos chegarem à Europa através de Lisboa.