O líder da oposição a Nicolás Maduro na Venezuela deu uma entrevista à RTP na qual fez depender a hipótese de uma ação militar na Venezuela que resolva o impasse no país do apoio de aliados internacionais. Juan Guaidó, que é reconhecido por mais de 50 países (mas não por Nicolás Maduro) como presidente interino da Venezuela, afirmou à estação pública portuguesa que uma intervenção externa no país acontecerá mediante dois pressupostos: “quando os aliados estiverem dispostos a dar esse tipo de ajuda” e sendo “a última opção — ou a única — que reste aos venezuelanos”.

Numa entrevista que será transmitida na íntegra este sábado à tarde, mas da qual já foi exibido um pequeno excerto, Juan Guaidó afirma que os seus aliados internacionais já “disseram, em voz alta, que todas as opções estão em aberto”, o que “deixa antever que [uma coligação militar contra Maduro] é uma alternativa”.

Na última semana, o líder da oposição a Maduro admitiu levar a hipótese de uma ação militar norte-americana ao Parlamento Venezuelano. “Estamos a avaliar todas as opções. É bom saber que aliados importantes como os EUA também estão a avaliar a opção. Isso dá-nos a possibilidade de, se precisarmos de cooperação, sabermos que a teremos”, disse ainda, em entrevista ao jornal norte-americano The Washington Post.

Desta vez, à RTP, Guaidó assumiu que os EUA estão “prontos para apoiar as Forças Armadas venezuelanas quando tal seja pedido” mas lembrou que está a dialogar também com outros “aliados”, como “a Colômbia, o Equador…”

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Vamos avaliar todas as opções e vamos trabalhar arduamente para resolvermos rapidamente, no menor tempo possível, esta crise venezuelana”, disse ainda Guaidó a RTP.

Guterres “é brilhante” e “a Venezuela e a democracia” podem contar com ele, acredita Guaidó

O presidente interino da Venezuela foi questionado pela RTP sobre o que falta para levar ao parlamento a discussão sobre uma aliança militar internacional contra o regime de Maduro. Na resposta, Guaidó começou por vincar a gravidade da situação: “já cruzámos as linhas vermelhas há muito tempo” e “40% da população está numa situação de emergência humanitária complexa, como disse a ONU, ou emigrou do país”, apontou.

Guaidó acrescentou que o objetivo é chegar à “melhor solução, a mais rápida”, para resolver “aquilo que gerou instabilidade no país” e para se conseguir “uma eleição realmente livre”. Não clarificou exatamente qual é, para si, a “melhor solução e mais rápida” para depor Nicolás Maduro, mas disse que a aliança militar internacional “é uma das opções que temos para alcançar isso” que “também depende dos nossos aliados”.

Porque é que estamos a falar e não estamos já a executar? Porque, mais uma vez, depende da possibilidade de cooperação de quem nos pode dar esse tipo de apoio”, apontou ainda, dando a entender que, se tiver esse apoio, poderá apoiar uma intervenção militar no país.

Quanto aos moldes da queda do regime ainda poderem passar por uma saída negociada (pelo seu próprio pé) e não pelo uso de força, Guaidó mostrou-se algo cético: “Isto é uma ditadura que voluntariamente não admite que destruíram o país de um dia para o outro. Isso não vai acontecer. Faz falta a pressão dos cidadãos, faz falta a pressão diplomática, faz falta aquilo que temos vindo a fazer…”

Em relação ao secretário-geral português das Nações Unidas António Guterres, que já foi acusado de ter demorado demasiado tempo a comentar a situação na Venezuela (e de ser demasiado brando na análise à ação de Maduro), Guaidó apontou: “O secretário Guterres, por agora, é brilhante. Há um reconhecimento da atual situação humanitária, que é uma situação complexa”. Disse ainda ter a certeza que a “Venezuela, a democracia e a constituição venezuelana vão poder contar com o secretário-geral” português.

Como é que temos 2,3 milhões por cento de inflação anual? Como é que os venezuelanos sobrevivem com seis dólares por mês? Como é que chegaram a este PIB, se somos a terceira indústria petrolífera do mundo, competindo com a BP ou a Shell ou qualquer uma das grandes petrolíferas, sendo a última? (…) A responsabilidade é dele e só dele e do seu regime e dos assassinatos diretos e indiretos de venezuelanos neste momento”, indignou-se o opositor de Maduro.

Uma primeira tentativa de “golpe” que falhou

No dia 30 de abril, Juan Guaidó ensaiou uma revolta popular e militar no país. A insurreição, a que chamou “Operação Liberdade”, pretendia chamar um grupo de militares rebelde e a população venezuelana em massa às ruas, para deter figuras do regime de Nicolás Maduro e para o depor. O golpe diplomático e militar falhou e a maioria dos soldados do país mantém-se fiel ao sucessor de Hugo Chávez, cuja legitimidade eleitoral tem vindo a ser disputada por organizações internas e comunidade internacional. Não foi assim possível cumprir alguns dos objetivos da “Operação Liberdade”, como tomar controlo de uma base militar, conseguir o comando de infraestruturas chave do país e prender algumas das referências do madurismo.

Quatro razões para o golpe de Guaidó ter falhado