Paulo Rangel, que nunca se importou com ataques do PS, voltou a ser ferido pelo chamado “fogo amigo”. Depois de o mandatário, Carlos Moedas, ter elogiado Costa agora foi a vez de um autarca do PSD criticar a ação mais sucedida do dia: uma viagem de helicóptero pelas área ardida dos incêndios de 2017. O candidato do PSD às eleições Europeias achava que o dia estava a correr bem, com grande destaque nos telejornais da uma, mas o presidente da câmara da Pampilhosa da Serra considerou esta terça-feira à tarde o voo uma “afronta” à população local. Na resposta, horas depois, Rangel teve o seu momento de irritação, e justificou que não quis “discriminar concelhos” afetados pelos incêndios nem fazer uma “exploração do drama humano“.

Este é o resumo da história, mas para a perceber é preciso puxar a fita atrás. Quando a estrutura do PSD desenhou a volta, a distrital propôs uma ida a Pampilhosa da Serra. Numa versão preliminar da agenda entregue aos jornalistas para efeitos logísticos (mas com uma nota de que a versão seria sujeita a alterações), aparecia um evento precisamente nesta terça-feira, 14 de maio às 09h30. Mas, na versão final, já com o logo do PSD e a cara de Paulo Rangel, divulgado a 10 de maio já constava o plano atual: sem Pampilhosa e com voo de helicóptero.

E assim se concretizou. O autarca, que já sabia pelo menos desde segunda-feira que o candidato não iria ao concelho, esperou que Rangel fizesse o voo para protestar. Nas críticas, José Brito foi particularmente duro e em declarações à Lusa afirmou: “Entristece-me. Em 2017, podiam ter vindo ao terreno ver o que aconteceu. Agora, vir de helicóptero, em 2019, ver o que aconteceu em 2017 é uma afronta a esta gente e dá-me vontade de gritar“. José Brito foi reeleito pelo PSD, em 2017, presidente da câmara de Pampilhosa da Serra com 78,6% dos votos.

Para José Brito “este tipo de atitudes, quando acontecem por um cabeça de lista à Europa, são um desrespeito total para com as pessoas deste território. Sinceramente, acho que era preferível dizer que não tinha tempo para cá vir”. José Brito disse ainda que a visita foi cancelada porque “contaram o número de votos” do território e questionou: “Ir de helicóptero ver o que nos aconteceu em 2017? Isto é possível? Não dá para ver o sentimento das pessoas, desta gente que tem um coração enorme. Se calhar, é tempo de dizer basta”.

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Rangel ficou incomodado e à chegada ao jantar a Arganil não escondeu o desconforto. O candidato do PSD começou por dizer: “Fico satisfeito por ver que que querem tanto a minha presença”.  O eurodeputado explicou depois que o que o PSD fez esta terça-feira foi “uma visita técnica e política, que teve dois critérios fundamentais: o primeiro critério foi não discriminar os concelhos (…), mas mais importante que isso, houve uma preocupação que eu julgo que tem sido o nosso timbre, de não explorar o drama humano”.

O social-democrata justifica que “uma coisa é alertar para tudo aquilo que tem sido feito erradamente neste contexto, mas não fazer uma exploração do drama humano”. Paulo Rangel justificou mesmo a importância da visita de helicóptero com o interesse jornalístico despertado e questionou uma jornalista: “Faço-lhe uma pergunta: acha que a visita como a que foi feita não foi útil? Aliás, basta ver todos os noticiários da uma para ver que consideram uma visita útil”. E questionou: “Porque se há-de ir a Pampilhosa e não se há-de ir a Góis?”

Rangel disse depois que tem “todo o gosto em ir a Pampilhosa da Serra depois das eleições. Lá estarei, com todo o gosto se o presidente me quiser receber.” As perguntas continuaram e, embora só estivesse há três minutos a responder a questões, Rangel atirou: “Nem sequer dou relevância a isso, nem se justifica estarmos este tempo todo aqui.” E insistiu na tese:”Não compreendo qual é a relevância. Não compreendo porque está tão interessada no assunto”.

O candidato do PSD, que um dia antes tinha decretado o “direito à irritação” de Pedro Marques, teve o seu momento de maior irritação até agora registado pelos jornalistas na campanha e pré-campanha.