A Polícia Judiciária (PJ) fez segunda-feira buscas no Hospital de Cascais, avançou a SIC Notícias. Em causa estão denúncias de falseamento de resultados clínicos para alegadamente aumentar o financiamento da Parceria Público-Privada (PPP). A PJ esteve também a fazer buscas na sede do grupo Lusíadas Saúde. A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou, entretanto, à agência Lusa a realização de diligências de investigação no Hospital de Cascais no âmbito de um inquérito dirigido pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Sintra.
Confirma-se a realização de diligências no âmbito de um inquérito dirigido pelo Ministério Público do DIAP de Sintra”, informou à agência Lusa a PGR.
Na passada quarta-feira, recorde-se, o Ministério Público determinou a abertura de um inquérito para apurar denúncias que apontam para dados falseados no Hospital de Cascais. Estas denúncias surgiram depois de uma reportagem emitida pela SIC, que mostrou atuais e antigos funcionários daquele hospital a denunciarem casos de falseamento de dados em ficheiros de doentes e alterações no sistema de triagem na urgência para aumentar as receitas que são pagas à PPP.
Um dia antes, também o Ministério da Saúde tinha determinado à Administração Regional de Saúde a abertura de um processo de inspeção para esclarecer as denúncias envolvendo o Hospital de Cascais. Relatos de antigos e atuais funcionários recolhidos no âmbito da reportagem denunciam que eram impelidos a aligeirar sintomas ou o caso do doente, de forma a que os algoritmos da triagem de Manchester dessem uma cor de pulseira verde em vez de amarela, por exemplo, para que os tempos máximos de espera não fossem ultrapassados. O incumprimento dos tempos de espera faz o hospital incorrer em penalizações financeiras.
O Grupo Lusíadas, que gere o Hospital de Cascais, negou o envolvimento da administração do Hospital em qualquer das situações relatadas, mas indicou que será feita uma análise, indicando que, a ter havido alguma das questões suscitadas, se deveria a comportamentos individuais de profissionais.
Um relatório da Unidade Técnica de Acompanhamento de Projeto (UTAP) publicado esta segunda-feira, com vários meses de atraso em relação ao previsto na lei, mostrou que os encargos com as PPP subiram 5% nos primeiros seis meses do ano passado, atingindo os 977,2 milhões de euros.
Relatório com atraso de meses revela aumento de 5% nos custos com PPP até junho de 2018
Este acréscimo de encargos concentrou-se sobretudo no segundo trimestre, com mais 29%, uma evolução que é explicada pelo acerto a pagamentos de reconciliação referentes a 2016 e ainda aos duodécimos pagos face a períodos anteriores relativos ao protocolo para prestação de serviço a doentes do VIH/SIDA, nomeadamente com o Hospital de Cascais. Nos primeiros seis meses do ano, a PPP de Cascais recebeu mais 22% do que em igual período do ano passado, o que representou 45,2 milhões de euros.
Hospital de Cascais diz que está “a cooperar totalmente” com IGAS e PJ em investigações
O Hospital de Cascais anunciou que está “a cooperar totalmente com a Inspeção-Geral das Atividade em Saúde (IGAS) e com a Polícia Judiciária”, no âmbito de um inquérito dirigido pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Sintra.
“O Hospital de Cascais sempre se empenhou em prestar aos seus utentes cuidados de saúde de elevada qualidade e em servir a comunidade com a máxima integridade. Encaramos estas alegações de forma muito séria e estamos ativamente a investigá-las, bem como estamos a cooperar totalmente com a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde e com a Polícia Judiciária”, refere um comunicado do hospital em resposta à agência Lusa.