O músico e escritor Chico Buarque é o vencedor do Prémio Camões 2019, foi anunciado esta terça-feira, após reunião do júri, na Biblioteca Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro. O músico e escritor brasileiro ficou “muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar”, o seu compatriota distinguido com o prémio em 2016.

“Fiquei muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar”, refere a curta declaração divulgada pela assessoria de imprensa de Chico Buarque.

O músico e escritor brasileiro fora já distinguido com o prémio Jabuti, o mais importante prémio literário no Brasil, pelos romances “Estorvo”, “Leite Derramado”, obra com que também venceu o antigo Prémio Portugal Telecom de Literatura (atual Prémio Oceanos), e por “Budapeste”.

Chico Buarque foi escolhido pelos jurados Clara Rowland e Manuel Frias Martins, professores universitários indicados pelo Ministério português da Cultura, pelo ensaísta Antonio Cícero Correia Lima e pelo professor António Carlos Hohlfeldt, indicados pelo Governo brasileiro, pela professora angolana Ana Paula Tavares e pelo professor moçambicano Nataniel Ngomane.

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Escritor, compositor e cantor, Francisco Buarque de Holanda nasceu em 19 de junho de 1944, no Rio de Janeiro.

Estreou-se no romance com “Estorvo”, em 1991, a que se seguiram “Benjamim”, “Budapeste”, “Leite Derramado” e “O Irmão Alemão”, publicado em 2014.

Em 2017, venceu em França o prémio Roger Caillois pelo conjunto da obra literária.

O Prémio Camões de literatura em língua portuguesa foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1988, com o objetivo de distinguir um autor “cuja obra contribua para a projeção e reconhecimento do património literário e cultural da língua comum”.

Foi atribuído pela primeira vez, em 1989, ao escritor Miguel Torga. Em 2018 o prémio distinguiu o escritor cabo-verdiano Germano Almeida, autor de “A ilha fantástica”, “Os dois irmãos” e “O testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo”, entre outras obras.

O Presidente português felicitou esta quarta-feira o músico e escritor brasileiro Chico Buarque, vencedor do Prémio Camões 2019, defendendo que “só pode ser unânime” esta distinção da sua obra como romancista, dramaturgo, mas também como escritor de canções.

Numa nota publicada no portal da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa considera que, ao premiar Chico Buarque, o júri do Prémio Camões reconheceu “naturalmente também o extraordinário escritor de canções, um dos maiores da língua portuguesa”.

Esta decisão vem “na continuidade de uma marcante decisão da Academia Sueca” de atribuir o Nobel da Literatura ao músico norte-americano Bob Dylan, dando “à canção, género ancestralmente ligado à poesia, um estatuto de dignidade literária”, refere o chefe de Estado.

“Premiar ‘letristas’ pode ser sujeito a discussão, mas premiar Chico Buarque só pode ser unânime, porque, tal como Bob Dylan para a língua inglesa, as canções de Chico traduzem um profundo conhecimento da tradição poética e um alargamento das fronteiras da linguagem musicada, trazendo um grau de sofisticação inédito à música que se diz, e bem, popular”, defende Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República saúda, por isso, o júri do Prémio Camões que, “por unanimidade, lhe concedeu esta distinção, reconhecendo o romancista de ‘Estorvo’ ou ‘Budapeste’, o dramaturgo e argumentista, mas também o extraordinário escritor de canções”.

“Por outro lado, a obra de Chico Buarque, conquistou, ao longo de várias gerações, um incomparável respeito e emoção no mundo lusófono, nomeadamente pelos seus empáticos retratos femininos, pela afinidade com os bons malandros, pelo empenhamento político, pelo amor ao Rio de Janeiro e ao Brasil, pelo trabalho sobre uma língua que, atravessando tanto mar, nos une”, acrescenta Marcelo Rebelo de Sousa.

Também o Presidente da República de Cabo Verde felicitou esta quarta-feira Chico Buarque pela atribuição do Prémio Camões que disse “coroar uma obra literária de inestimável valor”, e ainda destacar “o caráter e o profundo humanismo do premiado”.

Numa missiva enviada ao músico e escritor, que venceu a edição deste ano do Prémio Camões, Jorge Carlos Fonseca congratulou-se pela escolha, enquanto chefe de Estado e na qualidade de presidente em exercício da Conferência dos Chefes de Estado dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

“Nós todos, habitantes deste espaço multicontinental, herdeiro, useiro e fazedor desta língua que nos une – na dor, no sonho, na esperança e na alegria — vimos usufruindo um pouco desse universo criado, há várias décadas, por sua obra e arte”, lê-se na carta.

E sobre o mundo de Chico Buarque escreveu: “É feito de palavras que, primeiro, nos foram chegando musicadas, plenas de vida e da condição humana, de sentimentos, da luta diária de homens e de mulheres do seu Brasil. E, nos últimos tempos, para grande regozijo nosso e das letras deste nosso espaço comum, suas obras literárias, que vieram enriquecer e dar um brilho de qualidade à literatura do seu país”.

Para Jorge Carlos Fonseca, numa “comunidade de afetos, de laços culturais e históricos, cujos alicerces são as pessoas”, entre os que mais têm contribuído para “o seu crescimento e fortalecimento, estão os artistas, os músicos, os cantores e aqueles que registam os passos e o batimento cardíaco da nossa condição, do nosso ser: os escritores, romancistas e poetas, fazedores do nosso edifício identitário comum”.