O construtor do Cavalino Rampante acaba de revelar o seu mais recente desportivo e não se trata de um modelo qualquer. Para começar, é o mais potente, o mais rápido e até o mais sofisticado entre os todos os Ferrari de estrada até aqui fabricados, um modelo que encheria de orgulho o próprio Enzo, o fundador da marca.
Além de todos os pergaminhos que se podem colar à mais recente criação do fabricante de Maranello, um dos mais importantes, curiosamente, nem tem a ver com a nobreza da mecânica ou a eficácia do chassi. Tudo porque o novo SF90 Stradale, assim se chama o novo “brinquedo” italiano, visa homenagear o 90º aniversário da Scuderia Ferrari.
Como é o SF90 Stradale?
O novo desportivo da Ferrari coloca-se como substituto do LaFerrari, que surgiu em 2013, com 4,71 metros de comprimento (mais 1 cm do que o LaFerrari, mas mais 10 cm do que o 488 Pista), mas a tradicional distância entre eixos dos modelos de dois lugares e motor central traseiro do Cavallino Rampante, com 2,65 metros a separar o eixo da frente do posterior. Se de fita métrica em punho as diferenças não são grandes, já o mesmo não acontece em matéria de estilo, com o SF90 Stradale a recorrer às tecnologias de LED mais recentes para montar faróis mais rasgados à frente, enquanto na retaguarda surgem, em vez de dois farolins redondos colocados bem no extremo da carroçaria, quatro mais pequenos e “quase” quadrados.
No resto é evidente o trabalho aerodinâmico, que visou colar a frente ao solo, bem como a traseira, sem contudo gerar demasiado apoio que prejudique a capacidade de obter uma velocidade máxima mais entusiasmante. A solução foi adoptar uma asa móvel na zona posterior, de que a Ferrari não fala muito, muito provavelmente porque, como diz, há uma série de patentes pendentes. Como é normal neste tipo de asas adaptativas, também esta é comandada por um software que analisa a velocidade, a aceleração lateral e longitudinal e a atitude do condutor – perdão, piloto –, ao nível do volante, acelerador e travão.
Por dentro, o novo Stradale parece ainda mais sofisticado e com melhores materiais do que vimos no 488 Pista e também no LaFerrari, tanto mais que a marca está cada vez mais ousada na confiança que revela nas suas criações, oferecendo uma garantia de manutenção de 7 anos, com intervalos entre revisões de 20.000 km. Isto dá outra “tranquilidade” a quem adquire os modelos do mítico fabricante.
Qual é o segredo da mecânica?
O SF90 Stradale é o primeiro híbrido plug-in (PHEV) da Ferrari, pois se o La Ferrari era um híbrido, não era recarregável, nem conseguia percorrer uma determinada distância em modo exclusivamente eléctrico. O motor é uma evolução do 3.9 V8 biturbo utilizado pelo 488 Pista, que viu a potência subir dos originais 720 cv para 780 cv. Parte da explicação fica a dever-se ao incremento da cilindrada, uma vez que o motor passou de 3,9 para 4,0 litros, mas também contribuíram a injecção directa de gasolina a 350 bar (nunca foi tão elevada), uma pressão de sobrealimentação superior e wastegates controladas electronicamente em cada uma dos turbocompressores.
Mas os 780 cv do 4.0 V8 são apenas o princípio, uma vez que o novo Ferrari conta com mais três motores e todos eléctricos. O primeiro é o denominado MGUK (Motor Generator Unit Kinetic), similar ao que montam os F1 da casa, destinado exclusivamente a recarregar a bateria, surgindo instalado entre o V8 e a caixa, uma automática de oito velocidades e dupla embraiagem, 30% mais rápida do que a que está ao serviço do 488 Pista.
A bateria não é grande, uma vez que os Ferrari têm de ser leves e as baterias são pesadas, oferecendo uma capacidade de 7,9 kWh. Entendem os técnicos italianos que esta energia é mais que suficiente para alimentar os restantes dois motores, instalados no eixo dianteiro, com as três unidades eléctricas a serem capazes de assegurar um total de 220 cv. Tudo junto, são 1.000 cv de potência, com os dois motores eléctricos montados à frente, devidamente alimentados pela bateria, a garantirem que é possível ao SF90 Stradale percorrer 25 km em modo exclusivamente eléctrico, o que significa no maior dos silêncios.
Que vantagens oferece face à restante gama?
Várias e para os mais diferentes tipos de clientes. E é através do Manettino, agora denominado eManettino por ser relativo a um modelo electrificado, que o condutor pode decidir como quer utilizar o novo Stradale. Há quatro modos de condução possíveis, sendo o Hybrid o mais usual, aquele em que é o carro que decide a que motores deve recorrer para manter aquela velocidade e lidar com o tipo de condução com que está a ser confrontado. E os 1.000 cv garantem que não será fácil encontrar um condutor que não fique satisfeito.
Quando se selecciona o modo de condução Performance no eManettino, o que se está a dizer ao SF90 é que se quer sempre o máximo de carga na bateria, pois toda a sua capacidade pode ser necessária a qualquer instante, seja porque o condutor vai atravessar uma zona em que pretende ter à sua disposição o máximo de autonomia em modo eléctrico, seja porque quer fazer uma volta cronometrada e faz questão de contar com os 7,9 kWh para ter acesso aos 220 cv eléctricos durante o máximo de tempo possível.
A posição Qualify do eManettino é a mais venerada pelos clientes da marca, aquela em que o motor V8 dá tudo o que tem e prefere não ver parte da potência canalizada para recarregar a bateria, se isso implicar perder algum tempo por volta. O recarregar do acumulador continua a acontecer, mas apenas quando a unidade de controlo acha que pode dispensar uns cavalinhos, ou seja, nas travagens e pouco mais.
Por fim, a opção eDrive, a novidade do eManettino. O 4.0 V8 biturbo remete-se ao silêncio e o SF90 Stradale, que na realidade é um desportivo 4×4, passa a ser apenas tracção à frente, cortesia dos dois motores com um total de 220 cv. Nesta condições, o Ferrari desliza sem emitir o seu roncar característico e sem poluir, habilidade que consegue realizar durante 25 km.
Esta solução eDrive, ideal para quando se chega a casa fora de horas, é também a que vai agradar aos clientes cuja responsabilidade social os leva a privilegiar um modelo que possa circular em modo eléctrico durante algum tempo. Contudo, o eDrive vai fazer maravilhas à própria Ferrari, uma vez que o facto de ser um PHEV lhe vai permitir reduzir o consumo e emissões em, pelo menos, ¼. Quanto a preços e data de chegada ao nosso país, será algo a revelar em breve.
O SF90 Stradale bate o LaFerrari?
Bate. Para já em potência, pois tem 1.000 cv em vez de 963 cv, mas possui ainda esta potência durante mais tempo, pois se é pequena a nova bateria de 7,9 kWh, a realidade é que permite contar com a ajuda dos motores eléctricos durante um período superior. A potência gerada pelo motor de combustão a gasolina caiu de 800 cv (um V12 atmosférico) para 780 cv (um V8 biturbo), mas a potência dos motores eléctricos é de agora 220 cv, em vez de apenas um a fornecer 163 cv.
Enquanto o LaFerrari coloca toda a sua potência através das rodas posteriores, o SF90 Stradale divide o mal pelas aldeias, ou seja, os 780 cv são colocados atrás, para os 220 cv passarem para o asfalto através das rodas dianteiras. E, segundo a Ferrari, é o facto de possuir tracção integral que torna o novo modelo mais eficaz, com os dois motores eléctricos a ajudarem a estabilizar o comportamento, tornando-o mais eficaz e menos assustador para quem vai ao volante e decide abusar da sorte.
Em termos de prestações, o LaFerrari anuncia 350 km/h, contra os 340 km/h do novo SF90, mas já a vantagem de 0-100 km/h é bastante mais expressiva e favorece o Stradale, com o novo superdesportivo a atingir esta fasquia em 2,5 segundos, contra os 3,0 segundos do seu antecessor. Caso se considerasse a aceleração 0-200 km/h, a vantagem do SF90 (chega lá em 6,7 segundos) seria ainda superior. A rapidez do novo desportivo impressiona, tanto mais que acusa um peso de 1.570 kg, com 270 kg a serem responsabilidade do sistema híbrido e da tracção dianteira, com a Ferrari a aproveitar as alterações que introduziu no chassi para o tornar mais rígido 20% longitudinalmente e 40% em torsão. O comportamento agradece, com a casa de Maranello a anunciar já a melhor volta obtida na pista de Fiorano, em 1 minuto e 19 segundos.