As avarias quase diárias de um aparelho de radioterapia do Hospital de São João, no Porto, levaram a que os tratamentos dos pacientes com cancro que deveriam começar, no máximo, num prazo de quinze dias, tivessem começado meses depois. Resultado: os problemas podem ter comprometido a eficácia dos tratamentos e diminuído o tempo de vida dos pacientes. Estas falhas, avança a TSF, foram admitidas pelo próprio hospital numa informação enviada à Entidade Reguladora da Saúde (ERS), depois da queixa de um paciente. O hospital, entretanto, garante que o problema está resolvido desde fevereiro e que não tem conhecimento de nenhum doente que tenha sido afetado.

Na resposta enviada por escrito em dezembro de 2018 à ERS, e que a TSF teve acesso, o hospital refere possuir dois aparelhos de tratamento: um “com 20 anos, já descontinuado pela empresa mas ainda em funcionamento”, e que seria substituído pelo novo equipamento, e outro com 14 anos que tem dado “muitos problemas”. Uma “constante interrupção do tratamento”, admitiram ainda os responsáveis hospitalares, “aumenta o tempo total de tratamento e diminui a sua eficácia (diminuição drástica do controlo local por aumento da duração do tratamento com proliferação tumoral”.

Apesar da grande intervenção realizada no início do ano, as avarias mantinham-se quase diariamente, levando ao adiamento de inícios de tratamentos, a interrupções longas de tratamento e consequente redução do controlo local e sobrevida, com claro prejuízo para os doentes“, descreveram os responsáveis do hospital na resposta enviada à ERS em dezembro.

Como consequência desta falta de equipamentos, o serviço de radioterapia decidiu enviar os doentes outro hospital. Mas a ERS não ficou convencida com a explicação do Hospital de São João e, no final da deliberação, salientou “a especificidade e urgência do tratamento em causa” que “não se compatibiliza com a imprevisibilidade de avaria do equipamento e o impedimento da prossecução daquele tratamento”. Mais: para o regulador, as avarias não podem ser uma desculpa e “não é aceitável que o utente não tenha iniciado o tratamento de radioterapia, no tempo considerado aceitável”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em conferência de imprensa esta quarta-feira, Fernando Aráujo, presidente do conselho de administração do Hospital de São João, disse não ter “conhecimento direto de nenhum caso concreto [de um doente] que tenha visto a sua vida afetada por este problema”. “É verdade que o equipamento esteve avariado durante meses e é verdade que vários doentes foram transferidos para outras instituições de forma a serem tratados em tempo útil, mas não temos informação específica de algum doente que tenha tido um impacto clínico negativo por causa deste problema”, referiu.

Hospital garante: há novo equipamento desde fevereiro

Questionado pelo Observador sobre a situação, o Hospital de São João garantiu que “instalou um novo equipamento de radioterapia, em fevereiro deste ano, para substituir o anterior”, num investimento que ronda os cinco milhões de euros.

Juntamente com o segundo aparelho que já possui, assegura, conseguirão “dar resposta em tempos adequados aos doentes”, ultrapassando assim “os constrangimentos que afetaram o serviço no ano passado” e permitindo que seja possível dar resposta “a todas as cerca de 28.000 sessões anuais de radioterapia que são solicitadas”.

“Por isso era importante tranquilizar os doentes e as suas famílias, que a situação que existiu no passado se encontra desde março completamente ultrapassada, e terão no Hospital de São João acesso aos melhores tratamentos de radioterapia e em tempo adequado”, acrescentou ainda a nota enviada.