É impossível escapar a algo que é uma inevitabilidade. A Liga das Nações, por muito promovida que tenha sido, por muito falada que tenha sido, e por muito que na última semana até tenha começado a entranhar-se principalmente no coração dos adeptos portugueses, continua a ser o parente pobre das competições de seleções. Um Mundial é um Mundial, um Europeu é um Europeu, a Liga das Nações é… algo que foi criado para dar alguma emoção ao período de qualificação para os outros dois torneios.

Ainda assim, é um troféu, são jogos oficiais, conta para o ranking da FIFA e andam por lá algumas das melhores seleções do mundo. Portugal conquistou a primeira edição no Dragão, no Porto e em casa, enterrou o fantasma da final perdida em Lisboa em 2004 e somou o segundo título no espaço de três anos, entrando para um rol algo limitado de países que têm mais do que um troféu de seleções. Mas antes de Gonçalo Guedes rematar para o golo que valeu a vitória, antes de o árbitro espanhol apitar para o final ou sequer para o início da partida, a festa começou ainda nas imediações do estádio. A festinha, diga-se.

Heróis da relva, nobres, valentes e imortais (a crónica da final da Liga das Nações)

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Entre adeptos ligeiramente mais entusiasmados do que outros – uns mostravam efusivamente que iam assistir a uma final, outros pareciam encaminhar-se para um Atlético-Real Massamá, sem desprimor para os ditos Atlético e Real Massamá –, a entrada para a bancadas do Dragão fez-se de forma ordeira, sem grandes filas, sem grandes multidões, sem grandes atropelos. Menos filas, multidões e atropelos do que na passada quarta-feira, dia da meia-final com a Suíça, o que talvez queira dizer que os portugueses optaram por jogar pelo seguro e só compraram bilhete para o jogo onde a presença da Seleção Nacional era garantida.

Já no interior do estádio, as clareiras começaram a ser preenchidas com o aproximar da hora do apito inicial mas as bancadas do estádio do FC Porto só ficaram mesmo compostas já bem dentro dos primeiros 10 minutos da final, nunca ficando totalmente completas. A partida foi vivida com moderada emoção, sempre entre a vontade inequívoca de ganhar e levantar o troféu em casa e a ideia, sempre presente, de que se estava a assistir à Taça da Liga das seleções, por assim dizer. Ainda assim, o apoio dos adeptos manteve-se constante durante toda a partida, mesmo nos períodos mais mornos do jogo. O momento do golo de Gonçalo Guedes, a meia hora do fim, foi o mais efusivo da noite, com o Dragão a explodir durante alguns segundos para celebrar com o avançado do Valencia e Bernardo Silva, que estava quase tão contente por ter feito a assistência como Guedes estava por ter marcado.

Três minutos de tempo extra, três apitos e Portugal conquistava a primeira Liga das Nações. A festa no relvado voltou a ser algo comedida, a festa daqueles que saltaram do banco também não envolveu corridas desenfreadas para dentro de campo e a festa nas bancadas, verdadeiramente, só se manteve durante alguns minutos. O levantar do troféu trouxe o habitual clássico dos Xutos & Pontapés e o habitual clássico dos Queen e quando a comitiva da Seleção Nacional terminou a volta de honra no relvado já muitos adeptos estavam a começar a descer as escadas de acesso à saída. Nos corredores do Dragão, o rotineiro – e sonoro – “campeões, campeões” fez-se ouvir mas não durante muito tempo, altura em que começou a ser desviado para intenções clubísticas com pouco fair play.

Lá fora, à espera da passagem do autocarro da seleção portuguesa, juntava-se menos do que uma centena de pessoas: o grosso dos adeptos estava já, ou ainda, na Avenida dos Aliados, que albergou muitos daqueles que assistiram à partida no ecrã gigante que estava no centro da cidade e que recebeu depois todos os que acorreram à Câmara Municipal do Porto para ver os jogadores e o troféu acabadinho de conquistar. A Seleção chegou e as centenas que enchiam os Aliados ofereceram à equipa a receção mais calorosa da noite. 

Os jogadores portugueses realizaram uma volta de honra no relvado para mostrar o troféu aos adeptos. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

A autarquia ficou colorida com a projeção das cores da bandeira nacional, Cristiano Ronaldo serviu de mestre de cerimónias e passou o microfone pelo selecionador e pelos colegas e a festa terminou com o hino nacional cantado em uníssono entre Seleção e adeptos – com direito a pormenores instrumentais entoados pelo próprio capitão. “Pessoal, estava a dizer aos meus companheiros que esta é a minha primeira vez nos Aliados. Tenho de dizer: Impressionante! Lindo, lindo! Em nome dos meus companheiros e da equipa técnica quero dizer um muito obrigado a vocês. Sem o vosso apoio e sem a vossa energia, com a Suíça e com a Holanda, isto não seria possível. Muito obrigado”, atirou Ronaldo, que não conseguiu largar o microfone sem atirar o habitual “siiiiiiiiiiiiiimmm”.

Festa feita, Gonçalo Guedes ainda falou e também agradeceu à cidade do Porto – como todos os antecedentes haviam feito –, e Seleção Nacional para dentro da Câmara Municipal. As centenas que se juntavam nos Aliados começaram de imediato a dispersar, ainda entre agitar de bandeiras e cachecóis e um ou outro grito de ordem. Portugal conquistou a Liga das Nações e a festa foi rija. Rijinha, vá.