A Copa América é a competição mais antiga do mundo. A primeira edição do torneio sul-americano realizou-se em 1916, para assinalar o centenário da independência da Argentina, e foi conquistada pelo Uruguai, que desde aí voltou a vencer a competição outras 14 vezes e é mesmo o país mais bem sucedido da história do torneio. Nas duas últimas edições, em 2015 e 2016, foi o Chile a levar o troféu para casa, ao vencer a seleção argentina nas duas finais. Esta sexta-feira, arranca a 46.ª Copa América, com o anfitrião Brasil a abrir as cerimónias frente à Bolívia.
Já se sabe que Neymar não vai estar na principal competição de seleções da América do Sul, graças a uma lesão sofrida na semana passada durante um jogo particular com o Qatar, já se sabe que Messi tem durante o próximo mês uma das últimas oportunidades para conquistar o primeiro título com a Argentina e também já se sabe que a Copa América conta com a presença de seis jogadores que atuam em Portugal e podem aproveitar o torneio para alcançar uma valorização crucial numa altura em que o mercado está aberto (Acuña, Coates e Borja do Sporting, Éder Militão do FC Porto, Osorio do V. Guimarães e Murillo do Tondela).
O que nem todos sabem é que entre os 12 países que a partir desta sexta-feira começam a disputar a Copa América estão o Japão e o Qatar — o que, tendo em conta que estamos a falar de uma competição sul-americana, soa algo estranho. Na verdade, a presença de seleções convidadas extra América do Sul na Copa América é uma constante desde 1993, ano em que a CONMEBOL decidiu organizar o torneio em formato de 12 equipas distribuídas por três grupos de quatro. Ora, o facto de o organismo que regula o futebol sul-americano só ter 10 seleções inscritas obriga a convidar mais duas que não fazem parte do continente — correndo o risco, a CONMEBOL, de coroar um campeão da América do Sul que nem sequer pertence à região (algo que, até agora, ainda não aconteceu).
Há cerca de um ano, na antecâmara da preparação da Copa América 2019, chegou a falar-se na possibilidade de alargar o torneio a 16 equipas e convidar três seleções norte-americanas e três asiáticas. A ideia acabou por cair por terra e permaneceram os 12 países iniciais, com a quimera da CONMEBOL a prender-se com a participação de Portugal e Espanha. A fase final da Liga das Nações e o período dedicado aos jogos de qualificação para o Campeonato da Europa acabaram por impedir o convite às equipas da Península Ibérica e a escolha — também motivada pela Gold Cup, na América Central e do Norte, e pela CAN, em África — recaiu no Japão e no Qatar, curiosamente os dois últimos finalistas da Taça da Ásia (a seleção qatari, que conta com o português Pedro Correia, venceu os japoneses e conquistou o primeiro título da sua história). É uma estreia para o Qatar, que carimba a primeira presença num torneio high profile a três anos e meio do arranque do Campeonato do Mundo que terá o país como anfitrião, mas não para o Japão, que em 1999 já havia sido convidado para a Copa América.
Pedro Correia, ou Ró-Ró, o defesa nascido em Mem-Martins que joga pelo Qatar
A meras horas do início da competição, porém, a maior preocupação da organização não se prende com o Qatar ou o Japão, com os milhões perdidos com a ausência de Neymar ou com a nona tentativa de Messi de chegar à vitória na Copa América. O que preocupa o Comité Organizador da competição nesta altura são as pessoas nos estádios — ou a falta delas. De acordo com a Folha de S. Paulo, o objetivo traçado para esta edição do torneio sul-americano era pelo menos igualar o sucesso recorde da última edição, sediada nos Estados Unidos em 2016, em números. Algo que, no dia do arranque, parece algo distante.
Neste momento, apenas quatro jogos têm os bilhetes totalmente esgotados: o Brasil-Bolívia, o encontro de abertura, o Brasil-Venezuela (dia 18), o Argentina-Colômbia (este sábado, dia 15) e a final (dia 7 de julho). A maior preocupação dirige-se, como seria de esperar, para os jogos das duas seleções convidadas, já que tanto o Equador-Japão como o Paraguai-Qatar, um marcado para o Mineirão e outro para o Maracanã, têm menos de 2 mil bilhetes vendidos.
“É óbvio que temos uma preocupação com esses jogos. Mas as vendas estão a aquecer à medida que se aproxima a competição. Esperamos que o interesse aumente ainda mais, inclusivé nessas partidas”, explicou Agberto Guimarães, diretor-geral do Comité Organizador Local, à Folha. Ainda assim, e de acordo com o jornal brasileiro, a CONMEBOL já sugeriu à organização a distribuição de bilhetes por associações e entidades governamentais, de forma a evitar — ou, pelo menos, reduzir — o risco de estádios vazios.