Os médicos começaram esta terça-feira às 00h00 uma greve nacional de dois dias, a que se vão juntar os enfermeiros a partir das 8h00, uma paralisação que se prolonga até ao final da semana.

Os dois sindicatos médicos convocaram uma greve nacional para terça e quarta-feira, sendo o primeiro dia agendado pelo Sindicato Independente dos Médicos e o segundo marcado pela Federação Nacional dos Médicos, que também promove na quarta-feira à tarde uma manifestação junto ao Ministério da Saúde, em Lisboa.

Os enfermeiros, através do Sindicato Democrático dos Enfermeiros Portugueses (Sindepor), iniciam esta terça-feira de manhã quatro dias de greve, paralisação que se estende até o fim do dia de sexta-feira.

A greve dos médicos iniciou-se nesta segunda-feira às 00h00 e termina às 24h00 de quarta-feira.

Cada uma das classes profissionais tem reivindicações específicas, mas tanto médicos como enfermeiros argumentam que lutam pela dignidade da profissão e por um melhor Serviço Nacional de Saúde (SNS).

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Os médicos querem que todos os portugueses tenham médico de família, lutam pela redução das listas de utentes dos médicos e por mais tempo de consultas, querem a diminuição do serviço em urgência das 18 para as 12 horas, entre várias outras reivindicações, que passam também por reclamar que possam optar pela dedicação exclusiva ao serviço público.

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No pré-aviso de greve, os médicos pedem ainda que seja negociada uma nova grelha salarial, que indicam que já devia ter ocorrido em janeiro de 2015.

Quanto aos enfermeiros, o Sindepor reclama o descongelamento das progressões de todos os enfermeiros, independentemente do vínculo ou da tipologia do contrato de trabalho e que sejam definidos os 35 anos de serviço e 57 de idade para o acesso à aposentação destes profissionais.

[Veja no vídeo como é estar oito horas na pele de um enfermeiro]

Exigem ainda que o Governo inclua medidas compensatórias do desgaste, risco e penosidade da profissão, assegurando as compensações resultantes do trabalho por turnos, defina condições de exercício para enfermeiros, enfermeiros especialistas e enfermeiros gestores que determinem a identificação do número de postos de trabalho nos mapas de pessoal e que garanta, no caso dos especialistas, uma quota não inferior a 40%.

Os enfermeiros exigem também que o Governo aplique corretamente a legislação e o pagamento do suplemento remuneratório a todos os enfermeiros especialistas em funções e equipare, sem discriminações, todos os vínculos de trabalho.

Na passada sexta-feira, também os trabalhadores do setor da saúde pararam. A greve teve uma adesão entre os 75% e os 100%. A paralisação afetou os serviços de consultas e o apoio ao secretariado de norte a sul do país.

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Bastonário da Ordem dos Médicos antecipa uma adesão “muito elevada” à greve

O bastonário da Ordem do Médicos, Miguel Guimarães, afirmou esta  terça-feira que os médicos acreditam cada vez menos na ministra da Saúde, Marta Temido.

“O sentimento que eu tenho relativamente àquilo que os médicos sentem neste momento é que existe de facto uma grande desmotivação da parte das pessoas, as pessoas começam a não acreditar naquilo que o Ministério da Saúde está a fazer e, portanto, eu prevejo que a adesão aos dois dias de greve que estão marcados vai ser muito elevada”, defendeu em declarações aos jornalistas no Porto.

Apesar de admitir que ainda há margem para negociar com Marta Temido, o bastonário avisou que os “médicos começam a não acreditar na ministra”, bem como na sua capacidade para alterar o “estado de coisas” no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“Eu espero que haja margem para negociar com esta ministra, eu não falaria do Governo, porque falar da ministra e do Governo são duas coisas diferentes. Mas os médicos começam a não acreditar na ministra e isto é mau. As pessoas começam a perder a esperança de que esta ministra vá alterar o estado das coisas no SNS”, declarou.

“[A ministra da Saúde] não tem sido a atitude positiva que ela devia ter, de dar uma palavra de carinho a quem todos os dias faz o Serviço Nacional de Saúde. A ministra tem feito exatamente ao contrário e isto está a gerar uma onda de revolta interna nas pessoas, de desmotivação e obviamente que muita gente acaba por optar por uma solução final que é abandonar o Sistema Nacional de Saúde”, disse.

Serviços mínimos de urgência, cuidados intensivos e outros, como quimioterapeia e algumas cirurgias estão garantidos

Estão decretados serviços mínimos, como sempre nas greves no setor da saúde. Os serviços mínimos para a greve dos enfermeiros foram definidos depois de críticas do Sindicato Democrático dos Enfermeiros Portugueses, que considerava inadmissível ainda não terem sido divulgados.

Segundo um documento divulgado pelo Sindepor na sua página na rede social Facebook, foram decretados serviços mínimos para “situações de urgência imediata e urgência diferida, bem como situações das quais possam resultar dano “irreparável/irreversível ou de difícil reparação”.

O documento, divulgado pelo Sindepor pelas 21h20 desta segunda-feira, acrescenta outras áreas concretas em que devem ser assegurados os serviços mínimos, por orientação do Tribunal Arbitral, bem como o número de profissionais necessários para os garantir.

Entre as áreas detalhadas estão as situações de urgência nas unidades de atendimento permanentes que funcionam 24 horas, o bloco operatório, com exceção dos blocos operatórios de cirurgia programada, o serviço de recolha de órgãos e transplantes ou as intervenções cirúrgicas nos blocos operatórios dos serviços de urgência, oncologia, obstetrícia, cirurgia cardiotorácica, neurocirurgia, oftalmologia e cirurgia de ambulatório.

Foram também definidos serviços mínimos para os tratamentos oncológicos.

O acórdão do Tribunal Arbitral salienta que são “serviços mínimos para salvaguardar em todas as entidades”, com exceção de Escala Braga – Sociedade Gestora do Estabelecimento S.A. e do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures.

O Sindicato Democrático dos Enfermeiros Portugueses (Sindepor) já tinha considerado inadmissível que ainda não estivessem definidos para a greve de terça-feira.