Rúben Semedo está a ter uma espécie de segunda oportunidade. Uma espécie de segunda oportunidade que, diga-se, envolveu muito trabalho e dedicação. Envolveu também uma quota parte de sorte. E uma dose considerável de noção de que o que aconteceu no início de 2018 não pode repetir-se. O central português, internacional sub-21 pela Seleção Nacional, foi há poucos dias confirmado como novo reforço do Olympiacos de Pedro Martins. Para trás, fica a prisão preventiva em Espanha e as passagens pouco felizes pelo Villarreal e o Huesca. A redenção e o regresso a Portugal, pela mão do Rio Ave, garantiu-lhe a segunda oportunidade de que precisava. Mas não apagou as memórias.

Esta quarta-feira, Rúben Semedo foi entrevistado por Paulo Battista, conhecido por ser alfaiate de vários jogadores de futebol, para um programa da TVI. O agora central do Olympiacos falou sobre o tempo que passou na prisão, depois de ser acusado de tentativa de homicídio, agressão, ameaça, sequestro, posse ilegal de armas e assalto. “Nunca me vou poder esquecer. Estava com outros dois reclusos e um tinha tendências suicidas. Era assustador pensar que a pessoa que estava ao meu lado, à mínima coisa, se tentava matar. Nas primeiras duas ou três noites não consegui dormir. Pensava que se ia suicidar ou que podia matar-me”, explicou o jogador português, que continua a defender que o episódio pelo qual foi preso preventivamente — em que foi acusado de sequestrar, agredir e assaltar um homem — foi um mal entendido.

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“Pediu-me dinheiro emprestado uma vez e eu emprestei sem problemas. Descobri por pessoas que tínhamos em comum que aquela pessoa me estava a enganar e disse-lhe: ‘Ou me pagas, ou chamo a polícia e denuncio-te’. Ele já tinha um histórico por burla a jogadores e tráfico de droga”, começa por dizer Semedo, que admite ainda assim que se deixou levar por ambientes e pessoas pouco recomendáveis. “Ele veio a minha casa para tentar falar. Exaltei-me, tivemos uma discussão e ele levou a ameaça que lhe fiz à polícia e inverteu a história toda, para que eu ficasse como o mau da fita. A polícia veio a minha casa, prendeu-me e aconteceu uma série de coincidências que não me ajudou em nada”, conclui o central formado no Sporting.

Na entrevista ao programa da TVI, Rúben Semedo ainda se emocionou com uma mensagem enviada por Gelson Martins, que atua agora no Mónaco de Leonardo Jardim. Os dois jogadores conheceram-se nas camadas jovens do Clube Futebol Benfica, ainda enquanto crianças, e tornaram-se amigos em Alcochete. Em fevereiro de 2018, poucos dias depois de Semedo ser detido em Espanha, Gelson aproveitou um golo que marcou ao serviço dos leões para tirar a camisola e mostrar uma outra onde se lia a mensagem “cu bo ti fim do mundo, RS35”, contigo até ao fim do mundo (o momento simbólico valeu-lhe a expulsão por acumulação de amarelos e a ausência do clássico da jornada seguinte frente ao FC Porto).

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“Eu e o Semedo viemos do nada, sem nada, juntos. Desde que começámos a jogar no Fófó, desde ali, sempre conseguimos os nossos objetivos juntos. E ele sabe que pode contar comigo para tudo e eu sei que posso contar com ele, para tudo. A nossa amizade não é de agora, já vem de há muito tempo. O futuro vai ser grande e estamos aqui para tudo, para o que der e vier, ele sabe que estamos juntos para tudo”, disse o internacional português, que deixou Rúben Semedo em lágrimas. Ano e meio depois de ser preso em Espanha, o central de 25 anos tem agora a oportunidade de refazer a carreira e esquecer as páginas mais negras dos últimos tempos.