No capítulo da protecção aos ocupantes que os veículos do segmento D fornecem aos seus proprietários, os carros alemães dos fabricantes de luxo, ou seja, Audi, BMW e Mercedes (e os suecos da Volvo), tradicionalmente lideram. O é que até é fácil de perceber, pois os seus veículos destinam-se a clientes que aceitam pagar mais, mas que são exigentes em todos os domínios. A começar pela segurança, mas também porque esse mesmo grau de exigência se estende ao equipamento colocado à disposição do condutor (e família) para o ajudar na sua tarefa e oferecer uma protecção adicional caso algo corra mal.
O Euro NCAP é um exemplo de democracia. Construiu uma imensa parede de cimento armado, com um peso de várias centenas de toneladas, e atira contra ela todo o tipo de automóveis, dos mais caros aos mais baratos. Invariavelmente, o betão vence sempre (e destacado) estes crash tests – agora denominados safety tests, por envolverem hoje muito mais do que meramente protecção em caso de acidente, uma vez que são igualmente avaliados a protecção das crianças a bordo, de peões e a eficiência dos inúmeros sistemas de ajuda à condução e de aviso ao condutor. De uma forma ou de outra, todas estas soluções salvam vidas, mas continua a ser determinante a capacidade de um veículo proteger os seus em caso de embate violento, deformando-se para absorver a energia cinética do modelo, seja durante um embate frontal desfasado, total ou lateral.
Os mais recentes resultados do Euro NCAP trouxeram a análise de mais uma mão cheia de veículos, com ênfase para o Tesla Model 3. Não por ser um Tesla, mas sim por sim ser eléctrico, americano (os americanos tradicionalmente não se dão muito bem nos crashs europeus) e se tratar de um veículo que os fãs dos eléctricos parecem adorar, enquanto os amantes dos motores a combustão atacam como podem. Como o Euro NCAP optou por um Model 3 Long Range RWD, ou seja, com apenas tracção traseira, impõe-se compará-lo com os tais concorrentes de luxo com os mesmos argumentos: preço elevado e tracção traseira. Daí que a bitola para comparar o mais barato dos Tesla seja fornecida pelo BMW Série 3 e Mercedes Classe C, tradicionalmente com tracção traseira.
Para o Euro NCAP, o Model 3 da Tesla teve um desempenho notável, pois como salientou o director de pesquisa do Thatcham Research, Matthew Avery, “conseguiu uma das melhores pontuações de sempre”. Na protecção de adultos a bordo, incluindo o condutor, o mais acessível dos Tesla alcançou 96% de eficácia, para depois atingir a pontuação de 86% com as crianças a bordo. Simultaneamente, obteve uns impressionantes 94% na assistência à segurança e à condução, para assegurar 74% na protecção dos peões em caso de embate.
Se compararmos com estes valores o mais recente BMW Série 3, testado em 2012, o BMW perde ao conseguir 92% nos adultos (contra 96% do Tesla), 84% nas crianças (contra 86%) e 86% nas ajudas à segurança (contra 94%). Mas consegue 78% na protecção de peões, contra 74% no modelo americano.
Se, face ao Série 3, o Model 3 (de 2017) conquista uma vitória surpreendente, ainda com maior à vontade bate o Classe C da Mercedes, avaliado em 2014. Na protecção de adultos, o Mercedes ficou-se pelos 92% (contra 96% do Tesla), para nas crianças ter alcançado 84% (em vez de 86%). E, na avaliação às ajudas à segurança, atingiu apenas 70% (contra 94%), ‘vingando-se’ na protecção aos peões (77% em vez de 74%).
Uma vitória do recém-chegado tão surpreendente quanto notável, pois além da menor experiência do fabricante, a presença das baterias eleva consideravelmente o seu peso (cerca de 1.900 kg), muito superior a um BMW ou Mercedes com a mesma potência. E quanto mais pesado, mais difícil é absorver toda a energia libertada durante o embate.