Os médicos do serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC) denunciaram a falta de condições para tratar os doentes psiquiátricos naquele que é considerado um serviço de referência do país, mas também a falta de condições com que permanecem nas urgências: estão sem acesso aos cuidados de higiene básica ou a alimentação conveniente. Carlos Cortes, presidente da secção regional do Centro da Ordem dos Médicos, denuncia a desvalorização da área de psiquiatria deste hospital.

Neste momento, o CHUC tem 102 camas de internamento no serviço de psiquiatria: “É muito insuficiente para poder internar doentes que vêm de toda a região centro”diz Carlos Cortes à Rádio Observador. Além disso, é este o centro de referência para doenças mais complexas, como as perturbações do comportamento alimentar ou a esquizofrenia resistente ao tratamento. Na carta enviada ao conselho de administração do centro hospitalar, os médicos pedem o aumento do número de vagas para internamento.

Carlos Cortes, em entrevista à Rádio Observador

“Os doentes que recorrem ao serviço de urgência do hospital muitas vezes têm de permanecer vários dias no serviço de urgência”, diz o presidente da secção regional do Centro da OM. “Qualquer pessoa compreenderá que para estas patologias não é de todo o local indicado.”

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Na carta, os médicos denunciam que existe um grande número de doentes que permanece no serviço de urgências apesar de preencherem os critérios para internamento compulsivo. Os médicos alertam ainda o conselho de administração para o facto de que, enquanto permanecem nas urgências, os doentes não têm um acesso fácil aos cuidados básicos de higiene e que a alimentação se resume a bolachas, sopa e leite ou sumos.

Os que não conseguem ser internados no serviço correspondente acabam internados noutros serviços que nada têm a ver com a psiquiatria, como a cirurgia ou otorrinolaringologia, e que não estão vocacionados para acompanhar estes doentes. “Importa ter em consideração que as equipas de enfermagem desses serviços não têm formação nem experiência para abordar as especificidades da patologia psiquiátrica”, referem os médicos na carta.

Outro problema identificado é o internamento no Hospital Sobral Cid, que segundo Carlos Cortes, “não tem as mínimas condições, não são condições de um hospital moderno de um país civilizado”. Os doentes estão internados num primeiro andar sem elevador e as consultas são feitas numa sala sem privacidade para o doente, por exemplo.

Carlos Cortes, em entrevista à Rádio Observador

Para agravar a situação, o médico refere que em muitos casos, os doentes que estão nas urgências acabam por ter infeções hospitalares.

“Todas estas situações fizeram com que os médicos do serviço — à volta de 40 médicos psiquiatras — escrevessem um ofício para alertar o conselho de administração que este é o melhor caminho para destruir o serviço da Psiquiatria, que este é o caminho errado quando, neste momento, temos de apostar mais na saúde mental, quando temos de valorizar mais as competências para tratar a pessoa com doença mental”, diz Carlos Cortes.

A Ordem dos Médicos tem tentado interceder junto do conselho de administração, mas após um ano a assistir à degradação do tratamento dos doentes com patologia mental, a Ordem dos Médicos entende que compete ao Ministério da Saúde intervir. Entre as medidas mais urgentes, Carlos Cortes aponta a reestruturação do espaço para aumentar o número de camas e para melhorar as condições de dignidades para o tratamento dos doentes.