O executivo português que levou o portátil Magalhães a 30 países, Luís Pinto, está agora envolvido na expansão da plataforma de e-learning Udemy, com a intenção de inovar nos métodos de aprendizagem online.
“É uma empresa que está vocacionada para a formação contínua de adultos, muito virada para o mercado de trabalho”, disse à Lusa o responsável, que chegou à Udemy em 2018 para liderar o desenvolvimento de negócio no vetor governamental.
Luís Pinto mudou-se para São Francisco, Califórnia, em 2014, quando saiu da antiga J.P. Sá Couto para integrar a capital de risco Learn Capital e investir em ‘startup’ dedicadas à educação.
Uma das empresas que entrou no portfólio da firma foi a Udemy, que acabou por atrair o profissional português para o desenvolvimento do negócio no setor do Governo.
A proposta é uma biblioteca de autoaprendizagem com 100 mil cursos que funciona como um ‘marketplace’, onde instrutores independentes podem publicar as suas formações em várias línguas e para diversos mercados.
A vantagem para os alunos, explicou Luís Pinto, é que os cursos têm preços mais baixos, são concebidos por instrutores experientes e permitem aprendizagem em áreas diversas a partir de cerca de 11 euros. Até ao momento, a plataforma foi usada por 30 milhões de alunos e surgem quatro mil novos cursos por mês.
Grande parte do catálogo é dedicado às tecnologias e à reconversão profissional de pessoas que querem mudar de carreira, acrescentou o responsável, sendo que há uma vertente para empresas com cursos disponíveis para os empregados.
“Temos tido pedidos de ‘soft skills’, uma área complicada para toda a gente”, referiu Luís Pinto, elaborando que é uma necessidade que tem a ver com “as novas gerações, a comunicação e o trabalho em equipa”.
Está também a ser estudado o lançamento de uma subscrição, que permita fazer todos os cursos desejados com o pagamento periódico de um montante fixo.
É algo que Luís Pinto considera ter potencial para inovar na aprendizagem online, considerando que “nenhuma empresa está próxima” da dimensão e diversidade de cursos disponíveis na Udemy.
O salto para a empresa de Silicon Valley, depois de quatro anos na Learn Capital, permitiu-lhe capitalizar na experiência que adquiriu com a expansão do portátil Magalhães nos mercados internacionais.
Luís Pinto pegou nesse projeto em 2009, quando a recessão já estava a afundar os mercados. “Portugal já tinha uma camada de professores preparada para isso e com vontade de explorar o potencial, mas a nível do ministério não houve renovação do investimento”.
O portátil Magalhães era um computador para escolas com preço baixo que resultou de uma parceria entre a J.P. Sá Couto, a Prológica e a Intel.
A crise levou a J.P. Sá Couto (agora JP – Inspiring Knowledge) a virar as atenções para a América Latina e alguns países em África. “Durante esses cinco anos chegámos a 10 milhões de estudantes”, revelou Luís Pinto, que liderou a expansão entre 2009 e 2014.
Depois da Venezuela, onde foram celebrados os primeiros acordos, os maiores negócios foram conseguidos na Argentina, em parceria com fornecedores locais, e no Uruguai, um “país pioneiro” neste sentido. “Fomos a primeira empresa a conseguir introduzir os nossos equipamentos no ecossistema deles”, disse o português. “A própria Intel não tinha conseguido”.
Um dos impulsos desta expansão foi a criação de serviços e conteúdos para lá do ‘hardware’. “O desenho inicial tinha uma conotação política em que parecia que bastava entregar um computador e o mundo mudava. A realidade não era essa”, frisou o responsável. “Muitas vezes estávamos a trazer problemas a esses países, ao trazer a tecnologia e eles não estarem preparados para a integrar nos seus processos”.
A falta de preparação por vezes “criava movimentos sociais opostos à inovação que os projetos podiam trazer” e por isso foi necessário fazer formação. “O outro lado era o alinhar com os princípios básicos do Ministério da Educação em cada país: tínhamos de ter conteúdos digitais que tivessem alguma harmonia com o currículo em papel”.