“Chris Hughes trabalhou para criar o Facebook. Agora, está a trabalhar para o dividir”
O título provocador é do The New York Times (acesso condicionado), que já tinha sido o jornal escolhido por Chris Hughes, um dos cofundadores do Facebook juntamente com o atual líder, Mark Zuckerberg, para um agressivo artigo de opinião. Segundo Hughes, a empresa proprietária da rede social com o mesmo nome e outras plataformas, como o Instagram e o WhatsApp, detém demasiado poder e ter de ser desmantelada. Para isso, Hughes tem falado com reguladores norte-americanos num esforço de lobbying para tirar poder ao que ajudou a criar.
Cofundador do Facebook quer dividir a empresa em várias partes
Nem uma sanção de 5 mil milhões de dólares (cerca de 4,4 mil milhões de euros) parece parar o poder do Facebook e é isso que Hughes quer inverter. Para o antigo fundador, a rede social detém um monopólio e os reguladores norte-americanos deviam ter proibido aquisições cruciais para a empresa, como quando o Facebook adquiriu o Instagram (em 2012) ou o WhatsApp (em 2014).
Em reuniões com a FTC (Federal Trade Comission, a autoridade da concorrência dos EUA), Hughes e dois académicos, Scott Hemphill (da New York University) e Tim Wu (da Columbia University), têm defendido que o Facebook está numa situação de abuso de posição dominante no mercado.
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A argumentação de Hughes, escreve o jornal, é de que as aquisições do Facebook têm sido uma tática defensiva para poder continuar a ter controlo do mercado das redes sociais. Por causa disso, o Facebook pode cobrar o preço que bem entender por publicidade.
Dividir o Facebook em três empresas distintas, com a rede social com o mesmo nome, o Instagram e o WhatsApp separados, pode resolver a situação, diz Hughes. Contudo, esta opinião não é unânime, principalmente porque a Justiça dos EUA abriu recentemente uma investigação às grandes tecnológicas como a Google, Amazon e Apple, além do Facebook. No entanto, a intervenção de Hughes pode ter um papel importante.
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De acordo com dados obtidos pelo New York Times, a estratégia do Facebook de adquirir a concorrência pode ter sido premeditada e data já de 2010. O jornal refere audiências de executivos da rede social que hesitam em responder quem é a concorrência, “porque não existe”, diz um dos académicos que, com Hughes, quer desmantelar a empresa.
Em maio, quando Hughes escreveu a primeira crítica à empresa que ajudou a fundar, Nick Clegg, vice-presidente dos assuntos globais e comunicação do Facebook, enviou uma pequena nota às redações onde assumia que com o sucesso vem a responsabilidade, mas garantia que esta responsabilidade não se impõe “ao convocar o fim de uma empresa americana de sucesso”.
Ainda esta semana, Mark Zuckerberg referiu que está a trabalhar para a rede social “estabelecer um padrão completamente novo para a indústria”, depois de ter chegado a acordo com as autoridades norte-americanas para cessar a investigação do caso Cambridge Analytica.