“Não é o final da viagem.” Horas depois de ter falhado a sua investidura, Pedro Sánchez falava no canal televisivo Telecinco, mostrando que becos e vielas está disposto a percorrer para continuar a sua viagem a caminho da presidência do governo espanhol. “Temos de explorar caminhos diferentes. Exploramos um e chegámos a um beco sem saída.” A inversão de marcha leva-o agora a estender a mão aos conservadores do Partido Popular e aos Ciudadanos sem, claro, fechar a via já aberta (sem sucesso) com a força política de esquerda Unidas Podemos. Apesar disso, para já, a única mão que recebeu de volta foi exatamente a daqueles com quem as negociações fracassaram. O rei de Espanha também parece ter acreditado nas boas intenções de Sánchez, já que anunciou que deixa para mais tarde nova ronda com os partidos.

Felipe VI recebeu na manhã desta sexta-feira a presidente do congresso de deputados, Meritxell Batet, que lhe comunicou oficialmente o resultado das votações de quinta-feira — 124 votos a favor de Sánchez e 156 contra. As abstenções foram 66.

O rei de Espanha poderia começar já a ouvir os partidos com assento parlamentar, mas decidiu não fazê-lo. O seu comunicado oficial faz saber que pretende dar mais tempo às forças políticas espanholas para que se entendam e consigam formar governo, mas deixa também o aviso: convocará os partidos antes de terminarem os dois meses que lhes restam antes do prazo que determina a dissolução das cortes, independentemente do estado das conversações

“É preciso voltar ao início e explorar outros caminhos. Por isso, convido as três forças políticas a que deixem de lado os interesses partidários — Partido Popular, Ciudadanos e Unidas Podemos — para que junto com o Partido Socialista, com a contribuição de todos, conseguirmos que Espanha tenha um governo o quanto antes e se desbloqueie esta situação”, sublinhou Pedro Sánchez durante a entrevista de quinta-feira à noite.

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“Fizemos uma oferta respeitadora e generosa”, disse, sobre as negociações que o PSOE manteve com o Unidas Podemos que não foram suficientes para estabelecer um governo de coligação.

“Reconheço que não funcionou. Isso significa que é o fim da viagem? Significa que teremos de ir de novo a eleições? Não. Não atiro a toalha. A mim já me disseram que não duas vezes, em 2016 e em 2019, mas não atiro a toalha. A minha responsabilidade como líder da primeira força política deste país, e como presidente em funções, é que Espanha tenha um governo o quanto antes. E a mensagem que queria deixar aos espanhóis é que vou trabalhar para que haja um governo o quanto antes no nosso país”, garantiu o líder do PSOE.

Se Sánchez quer trabalhar, Irene Montero, porta-voz da coligação Unidas Podemos, promete fazer o mesmo e “trabalhar duro” para alcançar um acordo com os socialistas. Garante mesmo, em entrevista ao El Confidencial, que para a força política que representa “a repetição de eleições não é uma opção”, comprometendo-se a trabalhar sem nenhuma linha vermelha.

https://observador.pt/2019/07/25/espanha-sanchez-vai-de-novo-a-votos-sem-acordo-para-formar-governo/

Mas poderá o partido de Sánchez dizer o mesmo? A pergunta de Montero dirigida ao líder dos socialistas fica no ar: “Vai manter o veto sobre o nome de Pablo Iglesias?”

Para chegar a acordo, lembra a deputada, “é preciso ser flexível” nas abordagens, não valendo de nada tentar negociar “em 48 horas aquilo que não foi negociado em 80 dias”. E, pelo caminho, pede ao PSOE que “reflita sobre o modo como negociaram”, e que abandone “o tom bronco”, a “soberba” e as “ameaças” dos últimos dias.

“Todas as opções são possíveis para nós. Todas as possibilidades estão sobre a mesa. Temos de começar uma negociação a sério onde todas as possibilidades são possíveis, e com o máximo respeito entre os parceiros”, clarificou a porta-voz da coligação Unidas Podemos.

E o que dizem PP e Ciudadanos?

Nem Pablo Casado nem Albert Rivera responderam ainda oficialmente ao repto de Sánchez. Mas, enquanto isso, a vida continua no Twitter. Foi ali que já durante a manhã de sexta-feira, depois do apelo de Sánchez, o Partido Popular voltou a partilhar a publicação do seu líder, Pablo Casado, em que considerava que um governo PSOE “seria uma ameaça ao futuro da nação”.

Na mesma rede social, o PP foi partilhando fragmentos da entrevista do seu deputado Rafael Hernando à Telecinco, desta sexta-feira de manhã. E os destaques vão para frases como: “Sánchez não pode pedir os nossos votos, ou a nossa abstenção, para logo a seguir subir impostos, aumentar a despesa pública, fazer uma política sectária ou demolir a reforma laboral que permitiu à Espanha sair da crise e criar 3 milhões de empregos.”

Hernando defende que Pablo Casado acudiu “a todas as chamadas de Pedro Sánchez com a mão estendida para a governabilidade e com 11 pactos de Estado”, culpando o líder do PSOE de não ter sido possível chegar a qualquer tipo de acordo. “O nosso voto não pode ser só um voto de desbloqueio, tem de ser um voto de defesa da Constituição, da liberdade e da moderação.”

A posição do Ciudadanos é bastante mais clara e a continuação do “Não” a um Governo de Pedro Sánchez parece garantida. Esta sexta-feira, citado pela La Vanguardia, o secretário-geral do partido, José Manuel Villegas, instou Sánchez a “procurar acordos entre quem o pode apoiar” numa próxima tentativa de investidura, aconselhando-o a “não perder tempo” com conversas com o Ciudadanos, já que o seu partido vai continuar a votar não.