O Governo de Espanha propôs este domingo receber o navio humanitário “Open Arms” em Algeciras (sul) face à “inconcebível” recusa de Itália em autorizar o desembarque dos 107 migrantes resgatados do mar há 17 dias. Mas a organização não-governamental terá recusado a oferta, segundo noticia o El País.
O chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, “ordenou hoje a habilitação do porto de Algeciras para receber o navio ‘Open Arms'” devido à “situação de emergência a bordo” e à “inconcebível” atuação das autoridades italianas, anunciou o governo de Madrid num comunicado.
He indicado que se habilite el puerto de Algeciras para recibir al #OpenArms. España siempre actúa ante emergencias humanitarias. Es necesario establecer una solución europea, ordenada y solidaria, liderando el reto migratorio con los valores de progreso y humanismo de la #UE.
— Pedro Sánchez (@sanchezcastejon) August 18, 2019
Porém, a ONG diz que a embarcação não está em condições de se dirigir para Espanha. “Não aceitamos Espanha. Não podemos pôr em perigo a segurança e a integridade física dos imigrantes e da tripulação. Necessitamos de desembarcar já”, disse um porta-voz da “Open Arms” citado pelo El País.
O fundador da ONG, Oscar Camps, publicou entretanto no Twitter um mapa em que mostra a distância entre o local onde a embarcação se encontra e o porto de Algeciras, dizendo que a situação é “insustentável”.
“Depois de 26 dias de missão, 17 de espera com 134 pessoas a bordo, uma resolução judicial a favor e 6 países dispostos a acolher, quer que naveguemos 950 milhas, mais cinco dias, até Algeciras, o porto mais longínquo do Mediterrâneo, com uma situação insustentável a bordo?”, questiona o fundador da organização.
Después de 26 días de misión, 17 de espera con 134 personas a bordo, una resolución judicial a favor y 6 países dispuestos acoger, ¿quiere que naveguemos 950 millas, unos 5 días más, a Algeciras, el puerto más lejano del Mediterraneo, con una situación insostenible a bordo? pic.twitter.com/0wTh16VZhj
— Oscar Camps (@campsoscar) August 18, 2019
Na origem da decisão de Sánchez de abrir o porto está “a inconcebível resposta das autoridades italianas, e em concreto do ministro do Interior, Matteo Salvini, de fechar todos os seus portos, e as dificuldades expostas por outros países do Mediterrâneo Central”, que “levaram Espanha a liderar mais uma vez a resposta a uma crise humanitária”.
O texto frisa que “os portos espanhóis não são nem os mais próximos nem os mais seguros para o ‘Open Arms’, como os próprios responsáveis do navio têm repetido, mas neste momento Espanha é o único país disposto a acolhê-lo no quadro de uma solução europeia”.
“A situação dos migrantes do ‘Open Arms’ causou, desde o primeiro momento, grande preocupação no executivo, cujo propósito foi encontrar a melhor solução comum que, após a receção do navio, prosseguirá com a repartição dos migrantes acordada por seis países membros, entre eles Espanha”, refere ainda o comunicado.
O “Open Arms”, operado pela ONG espanhola Proativa Open Arms, está ao largo da ilha italiana de Lampedusa desde 01 de agosto, quando resgatou 147 migrantes do Mar Mediterrâneo, ao largo da Líbia, mas os dois países mais próximos, Itália e Malta, recusaram-lhe o acesso aos seus portos.
Atualmente, estão 107 migrantes e 19 voluntários a bordo, depois de, no sábado, a Itália ter autorizado a retirada de 27 menores não-acompanhados e de várias operações para retirar do navio pessoas a precisar de assistência médica urgente.
Apesar de, na quinta-feira, seis países europeus – Portugal, Espanha, Alemanha, França, Luxemburgo Roménia – se terem oferecido para receber os migrantes a bordo do navio humanitário, o Open Arms continua sem autorização do ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, para aportar.
No comunicado, Espanha volta a sublinhar “o intenso labor dos navios espanhóis na sua zona de responsabilidade”, que “certificam o cumprimento dos tratados internacionais”, afirmando que “entre 2018 e 2019, os serviços de salvamento marítimo […] resgataram e conduziram a portos espanhóis mais de 60.000 pessoas”.
“Espanha é hoje, com grande diferença, o país da União Europeia que mais resgates realiza no Mediterrâneo”, afirma o comunicado.