O Presidente dos Estados Unidos da América criticou esta quarta-feira o tom “horrível” das declarações da primeira-ministra da Dinamarca, que considerou que a intenção de Donald Trump de comprar a Gronelândia era um “absurdo”.
“Achei que a declaração da primeira-ministra sobre a ideia ser um ‘absurdo’ era horrível, bastava dizer que não estão interessados, foi inapropriado”, disse o Presidente norte-americano no relvado dos jardins da Casa Branca: “Eles não podem dizer que é um absurdo”, acrescentou Donald Trump.
“Não podem tratar os EUA como nos trataram quando Obama era Presidente. Foi uma má maneira. Podiam simplesmente ter dito que não”, acrescentou o Presidente norte-americano, lembrando que a ideia de comprar a Gronelândia não é uma novidade. “Ela podia simplesmente ter dito: ‘Não, da nossa parte não vai dar’. É que ela não está a falar comigo, ela está a falar com os Estados Unidos da América. Não podem dizer: ‘Que absurdo'”.
“Harry Truman teve a ideia, eu tive a ideia, outros tiveram a ideia, mas o tema está presente desde o princípio de 1900, era uma boa ideia porque a Dinamarca está a perder 700 milhões de dólares por ano com a Gronelândia, e isso não lhes faz bem nenhum, mas bastava dizerem que não [à proposta de compra do território], e não dizer que era uma ideia absurda, porque ela não está a falar comigo, está a falar com os EUA, e não se fala com os EUA dessa maneira, pelo menos comigo [na Presidência], concluiu Trump.
As declarações de Trump surgiram em resposta aos comentários da primeira-ministra da Dinamarca, que se mostrou “contrariada” com o cancelamento da visita de Trump ao seu país, mas rejeitou a ideia de uma crise entre os dois países.
“Estou obviamente contrariada e surpreendida com o cancelamento da visita de estado do Presidente dos EUA”, disse Mette Fredriksen em conferência de imprensa.
Mas “a Dinamarca e os Estados Unidos não estão em crise”, acrescentou, salientando que o convite do reino escandinavo “permanece válido”.
Alguns ex-governantes dinamarqueses foram mais expansivos a comentar a pretensão anunciada por Donald Trump. “Então, pelos vistos, o Presidente dos EUA cancelou a visita dele à Dinamarca porque não há interesse em discutir a venda da Gronelândia. Isto é alguma brincadeira? É um enorme insulto ao povo da Gronelândia e da Dinamarca”, escreveu Helle Thorning-Schmidt, ex-primeira-ministra.
Ainda mais incisivo foi o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Villy Søvndal, que disse que tudo isto “confirma que Donald Trump é um palerma narcisista”. “Se ele fosse um palhaço num circo, talvez poderíamos considerar tudo isto como bom entretenimento. O problema é que ele é o Presidente da nação mais poderoso do mundo”, referiu o ex-ministro.
A Casa Branca anunciou terça-feira à noite que a visita de Donald Trump à Dinamarca, agendada para os dias 2 e 3 de setembro, tinha sido cancelada.
Na semana passada, a imprensa dos EUA revelou que Donald Trump tinha perguntado sobre a possibilidade de os Estados Unidos comprarem a Gronelândia, um vasto território autónomo dinamarquês com cerca de 56.000 habitantes.
Trump, em seguida, colocou uma série de mensagens na rede social Twitter a confirmar o seu interesse na ilha gelada do Ártico, desencadeando uma série de reações, entre indignação e estupefação, na Groenlândia e na Dinamarca.
A própria chefe do Governo dinamarquês qualificou a ideia do Presidente dos EUA como “absurda”.
Hoje, Donald Trump afirmou que “a Dinamarca é um país muito especial, com pessoas incríveis”.
Porém, “com os comentários da primeira-ministra [da Dinamarca], Mette Frederiksen, de que não teria interesse em discutir a compra da Gronelândia, vou adiar a nossa reunião programada para daqui a duas semanas para outro momento”, anunciou o Presidente norte-americano.
A casa real dinamarquesa, que fez o convite para a visita de Trump, expressou “surpresa” no anúncio do cancelamento da sua viagem.
A Comissão Europeia já manifestou hoje o seu apoio à recusa dos governos da Dinamarca e da Gronelândia na venda desta região autónoma aos Estados Unidos.
“A Comissão defende na totalidade e apoia a posição que foi expressa, tanto pela primeira-ministra da Dinamarca [Mette Frederiksen], como pelo governo da Gronelândia”, afirmou a porta-voz do executivo comunitário Natasha Bertaud, na conferência de imprensa diária daquela instituição, em Bruxelas, quando questionada sobre as notícias conhecidas esta quarta-feira.