A PSP realizou na manhã desta terça-feira uma megaoperação na cidade do Porto para combater o tráfico de droga, com mais de 150 polícias a cercarem os bairros Pasteleira Nova, Pasteleira Velha, Pinheiro Torres e Lordelo do Ouro a partir das 7h00. A PSP do Porto confirmou em conferência de imprensa que nove pessoas foram detidas. Foi ainda apreendida uma “quantidade substancial” de droga (cocaína, haxixe, heroína e liamba), para além de uma arma de fogo, armas de airsoft, várias armas brancas e dez mil euros.
Os trabalhos da polícia duraram duas horas e terminaram cerca das 9h00. Estiveram no terreno a fazer 26 buscas domiciliárias a Unidade Especial de Polícia, o Corpo de Intervenção e as equipas especializadas com cães, para a identificação de estupefacientes.
A operação resultou de uma investigação de vários meses, tendo as autoridades realizado diversas operações de vigilância naqueles que são dois dos bairros mais problemáticos do Porto.
As autoridades aceleraram esta megaoperação depois de um vídeo gravado num dos bairros em junho deste ano se ter tornado viral, no qual é possível ouvir vários disparos na rua durante um velório.
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Câmara do Porto congratula-se com operação de combate ao tráfico de droga
Na sequência da operação, a Câmara do Porto congratulou-se com a intervenção da PSP nestes bairros. Em comunicado, a autarquia salienta que “esta intervenção das forças de segurança vem dar resposta aos pedidos, feitos há muito”, junto da tutela e da Direção Nacional da Polícia de Segurança Pública (PSP).
Na mesma nota, a câmara sublinha ainda que “continuará empenhada numa política de firme atuação que passa, nomeadamente, pelo despejo de inquilinos de habitações sociais que venham a ser condenados, em primeira instância, pela prática de tráfico de droga nestas habitações”.
A 28 de junho, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, já tinha admitido, em reunião do executivo, ter a intenção de instalar câmaras de videovigilância no bairro de Pinheiro Torres, onde o aumento do tráfico de droga gerou um clima de medo entre os moradores.
Em maio, o Bloco de Esquerda denunciou, em reunião da Assembleia Municipal do Porto, que o desmantelamento do bairro do Aleixo estava a conduzir a uma “pulverização” do consumo e tráfico de droga na cidade.
Já em julho, numa pergunta dirigida ao ministro da Administração Interna, os deputados do CDS-PP eleitos pelo Porto questionaram o Governo sobre o reforço de meios policiais nos bairros municipais situados na envolvente do Aleixo, nomeadamente nos bairros de Lordelo, Pinheiro Torres e Mouteira.
De acordo com informação da Câmara do Porto disponível na internet, o bairro Pinheiro Torres, localizado na União de Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos, foi construído em 1970 e requalificado em 2010, sendo constituído por 428 fogos, distribuídos por 11 blocos. Já o Pasteleira Nova, que fica na mesma freguesia e a poucos metros de distância do Pinheiro Torres, foi construído em 2001 e conta com 350 fogos. Nestes dois bairros vivem mais de 2.000 pessoas.
CDU considera que a operação é “insuficiente”
A CDU considera que a megaoperação da PSP de combate ao tráfico de droga desta terça-feira foi “positiva”, mas “insuficiente”. Em comunicado, a CDU destaca que “também no bairro do Aleixo se fizeram inúmeras ações policiais deste género, sem que o problema tivesse sido resolvido”.
Deste modo, acrescenta a CDU, “é essencial implementar, como defendeu publicamente [a coligação] em 19 de julho, um verdadeiro programa de Emergência Social” que inclua, entre outras medidas, a formação de equipas multidisciplinares, assegurando a sua intervenção em zonas com maior concentração populacional e apoiando a integração e inclusão através de “propostas de animação cultural e desportiva, de educação social e cultural”, garantindo, em simultâneo, policiamento de proximidade.
Aquela força política defende ainda que o referido programa deve dar “prioridade à reabilitação de equipamentos e ao arranjo urbanístico das zonas mais fragilizadas, onde o medo se está a instalar, para que se recupere a confiança dos moradores e estes não se sintam abandonados, nem se ceda o território às atividades ilícitas e aos seus promotores”.
Para além disso, a CDU entende que é necessário informar o Governo da gravidade da situação e propor a criação de um programa integrado de intervenção nas zonas de forte concentração de bairros municipais e do IRHU (Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana), que envolva a Câmara do Porto, juntas de freguesia, assim como vários organismos públicos.
“Só com este plano integrado será possível repor e melhorar as condições de vida nestes como em outros bairros da cidade, situação que não se compagina com o depauperamento das forças policiais da cidade, quer em termos de efetivos, quer em termos de meios”, sublinha a CDU, realçando ter sido a primeira força política a denunciar a situação vivida nos bairros de Pinheiro Torres e da Pasteleira Nova.
Na nota, a coligação relembra também que sempre afirmou que a “demolição do bairro do Aleixo (decidida pela coligação PSD/CDS com o apoio do PS e implementada, na sua fase final, pelo Movimento de Rui Moreira), não levaria ao fim do flagelo do tráfico de droga, antes o disseminando por outros bairros”.
Esta situação, que “infelizmente se confirmou”, acrescenta a CDU, “tornou mais evidente que a justificação da demolição do bairro do Aleixo, ao contrário do propagandeado pelos autores da decisão, não era o combate ao tráfico de droga, mas simplesmente uma operação de especulação imobiliária baseada no conceito de que os terrenos com boas vistas devem ser reservados dos cidadãos com maiores posses económicas”.
Artigo atualizado às 14h00 com o comunicado da CDU