O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, critica Assunção Cristas, o CDS e a direita pela forma como reagiu à polémica em torno do despacho que implementa a lei da identidade de género nas escolas. A líder centrista, diz numa entrevista publicada esta quinta-feira pela revista Visão, “tentou dar o dito por não dito relativamente ao que a JP e alguns membros do seu partido tinham dito e meteu os pés pelas mãos“. E a direita está “tão à rasca” que acabou por “agarrar-se às casas de banho”, acrescenta.

“A Humanidade e os Direitos Humanos não se adiam e, mesmo que seja de um grupo relativamente pequeno dos nossos estudantes, nunca se podem discutir com leviandade, leveza, com esta irreflexão, sem prudência e sem pensar. Isso aconteceu, pensando em angariar e caçar um conjunto de votos. E também demonstrou algo muito claro: que a direita está tão à rasca que se entrincheirou e, ao acantonar-se, acabou por meter-se e agarrar-se às casas de banho. Estando tão à rasca, foi a única saída que viu e fez uma triste figura porque não entendeu que estávamos a falar de pessoas, famílias e escolas em concreto”, afirma o ministro da Educação.

No entender de Tiago Brandão Rodrigues, “eles [CDS] tentaram adensar uma discussão para mostrar a forma como são inflexíveis, intolerantes, como não respeitam a diferença e como acham que a sociedade só pode ser como eles entendem que pode ser: à sua imagem e semelhança, muitas vezes para esconder os seus medos e as suas vicissitudes”.

Ainda assim, quando questionado sobre se a sociedade está fraturada por agendas partidárias nos assuntos relacionados com a sexualidade, Tiago Brandão Rodrigues assegura que não governa com ideologias. “Alguém pensa verdadeiramente que o Ministério da Educação governa com a ideologia do BE ou de quem quer que seja? O Governo constrói políticas públicas, quando acredita que vão ter consequências positivas para quem usufrui delas. Foi o que aconteceu neste caso e na lei da identidade de género.”

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Polémica sobre a identidade de género nas escolas. Afinal, o que diz a lei e o que pensam pais e diretores?

Na entrevista, Tiago Brandão Rodrigues fala ainda das exigências dos professores relativamente às carreiras e à reposição do tempo de serviço, assumindo-as como “legítimas”, mas deixando críticas duras à atuação do líder da Fenprof, Mário Nogueira. “Tudo o que os professores entendem como legítimo é legítimo para eles“, assegurou Brandão Rodrigues. “Mas nunca criámos expectativas relativamente a uma reivindicação que não estava no programa eleitoral, nem no programa do Governo.”

Mário Nogueira esteve bem mais preocupado com os cinco, dez minutos que foi tendo fora deste edifício, quando encontrava os jornalistas, para dizer alguns soundbites ou construir algumas parangonas, do que esteve com as reuniões dentro da concertação social. Com isso, foi desgastando a imagem dos professores“, acrescentou ainda o ministro da Educação.

Nepotismo no Governo? “Nunca o vi, e condenaria se visse”

Tiago Brandão Rodrigues negou também a existência de uma rede familiar no Governo socialista. Questionado sobre as relações familiares entre membros do Governo, o ministro da Educação usou exemplos de outras áreas profissionais para relativizar a questão: “Se eu for a uma redação ou ao corpo docente de uma escola, posso dizer a quantidade de familiares que existem, porque as pessoas passam tempo juntas e apaixonam-se. E, quando se apaixonam, às vezes, acabam por se casar”.

Assumir que a qualidade média é mais baixa ou que existe mafiocracia ou nepotismo é assumir muito. Eu nunca o vi, e condenaria se visse”, destacou Tiago Brandão Rodrigues.

Fazendo um balanço dos últimos quatro anos à frente do Ministério da Educação, Brandão Rodrigues assumiu que “os momentos mais difíceis foram os ataques pessoas e à honorabilidade”, acrescentando que não lida “bem com a mentira dos outros” nem a utiliza “como arma”. E garantiu que nunca se preocupou com o facto de ser “um ministro mais apagado ou mais fluorescente”. Questionado sobre se continuará num futuro Governo socialista, respondeu: “Estou disponível, seja de gravata ou de bata, para continuar a fazer serviço público“.