Foi a estreia do novo modelo de campanha de Rui Rio, para substituir os velhos jantares-comício: uma tertúlia no histórico café Aliança (sim, Aliança), com espaço para não mais do que 30 pessoas sentadas. Em Faro, Rui Rio estreou as “talks” com que vai andar percorrer o país também para, dizem as más línguas, evitar as cadeiras vazias que evidenciariam um partido desmobilizado.
“Fazer diferente” é o objetivo, disse o cabeça de lista por Faro, Cristóvão Norte, sentado ao lado de Rui Rio naquele café que tem o nome de outro partido. “Privilegiamos mais este contacto, esta conversa, do que a gritaria para dizer mal do adversário, porque o que poderá levar os portugueses a votar em nós é o que defendemos, não é o que dizemos mal dos outros”, resumiu Rui Rio, agradado com a forma nova de fazer campanha que está a “ensaiar”. Feitas as contas, o resultado foi uma sala à pinha, com mais calor do que o desejável, muitas pessoas em pé, nove perguntas de simpatizantes e militantes, e as bandeiras do costume ao alto.
Um role-play com atores e uma encenação com políticos
Tudo começou, ainda assim, com uma experiência inovadora: um pequeno teatro, em jeito de role-play, com atores profissionais. Carla Vasconcelos e Mário Bomba, munidos de microfone de lapela, protagonizaram o momento “Caos na Saúde” onde representaram o papel de uma utente do SNS que tinha “tirado a senha azul em 2008” e ainda estava à espera, e o senhor do guichet que lhe dizia que a senha azul tinha sido descontinuada em 2012 e que agora tinha de voltar para tirar a amarela. Rui Rio riu-se e, aplaudidos os atores, disse que gostou deste novo modelo que, ao que parece, vai fazer parte de todos os dias de campanha. Para projeto piloto: “Correu bem”.
Atores Mário Bomba e Carla Vasconcelos no "momento do dia" da campanha do PSD com o tema "caos na saúde" #legislativas2019 pic.twitter.com/XdMrN34KRH
— Observador (Eleições) (@OBSEleicoes) September 24, 2019
E falando em teatro, Rui Rio não gostou de ver as “encenações” de António Costa nos últimos meses, primeiro com a dramatização em torno do episódio da carreira dos professores, depois com o da greve dos motoristas de matérias perigosas, e deixou um aviso enigmático para uma nova “encenação” que aí vem: “Amanhã ou depois vamos perceber uma outra encenação, noutro setor, onde também estiveram a preparar coisas parecidas”, disse.
Não explicou ao que se referia, mas o provável é que tenha sido uma indireta à acusação sobre o caso do roubo de armas em Tancos. Esta segunda-feira, a Rádio Renascença noticiou que o ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes pode vir a ser acusado de participação ativa na encenação para a recuperação das armas no processo de Tancos. Isto, numa altura em que a acusação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) sobre Tancos já estará concluída.
Mas Rio não se alongou, deixando apenas o enigma no ar. A pergunta, de resto, era sobre o caso dos professores que, segundo Rui Rio, foi um dos fatores que mais prejudicou o PSD nas urnas nas eleições europeias. “Todos vimos o espetáculo do primeiro-ministro no dia 2 ou 3 de maio, a dizer que se demitia, que a Assembleia da República tinha plantado o caos, foi um golpe de teatro que surtiu efeito nas Europeias, e o problema é que passado algum tempo fez a mesma jogada de encenação outra vez com a greve dos motoristas de matérias perigosas”, disse.
O modelo pode ser novo, mas Rui Rio chegou ao Café Aliança às 20h ao jeito tradicional, entre bandeiras laranja e gritos de “PSD” dos militantes algarvios. Falou da desejada “regionalização” desde que não aumente despesa — “Eu gostaria que em Portugal um dia fosse possível aprovar um processo de regionalização” –, criticou o “truque” que Costa levava na manga quando ontem foi conhecido o relatório do INE com uma revisão em alta do crescimento económico, e prometeu aos professores reconhecer os nove anos de tempo congelado “mas não em salários”. Uma hora depois, estava feita a conversa com os militantes, estavam respondidas nove perguntas, e a caravana seguiu para outras paragens.