A cinco dias das eleições e apenas com mais três de campanha pela frente, o candidato socialista alterou a agenda de forma a conseguir poder estar livre para “acompanhar a situação” do furacão que se prevê que possa passar nos Açores na quarta-feira. Na única ação de campanha (além comício da noite) que teve esta terça-feira, António Costa argumentou que faz campanha “nos tempos livres” e que não pode “prejudicar” o exercício do cargo: “Não posso meter férias das minhas funções de primeiro-ministro”.
A alteração aconteceu a apenas a três horas da primeira ação de campanha do dia, que estava marcada para as 17 horas: um contacto com a população da Nazaré. Mas o primeiro passo na rua do candidato António Costa havia de ser, não só mais tarde, como num ambiente bem mais controlado e a fazer lembrar mais um chefe de Governo do que um candidato ao Parlamento. Foi mostrar as obras do troço do IP3 entre Viseu e Coimbra.
Questionado pelos jornalistas, o socialista garantiu estar ali “manifestamente como candidato e não como primeiro-ministro”. De colete amarelo vestido e acompanhado pelo seu ministro das Infraestruturas, ou melhor, do cabeça de lista do PS de Aveiro (que nem sequer é o distrito em que Costa estava), o primeiro-ministro e candidato “nos tempos livres” passou revista às obra que considera “prioritária”. Na estrada, de circulação muito condicionada devido às obras, seguia uma fila de carros e camiões que assistiam ao aparato do lado de lá do separador, onde decorriam as obras. Muitos não se coibiram de apitar e outros tantos de gritar mimos como “vão mas é trabalhar!”, “não vai estar pronto a tempo”, “chulos”.
António Costa seguia com as declarações, assegurando que não se está a esconder da rua, com esta campanha com iniciativas não só desorganizadas e pouco raras ao longo do dia (a média é de uma visita e um comício) e como também pouco expressivas. Garantiu que esta decisão de, por agora, apenas manter na agenda de quarta-feira um comício em Viseu foi uma “medida cautelar” por causa do furacão esperado nos Açores.
“Esperemos que tudo possa correr o melhor possível, mas obviamente que é uma situação muito preocupante a que iremos viver esta noite”. Ainda assim, Costa espera que o furacão ainda perca velocidade e se afaste do território dos Açores para o alto mar. À cautela gostaria de estar disponível para o caso de ser necessário”. Amanhã a organização da campanha analisará se o plano agora definido se mantém. Depende da situação nos Açores, bem como a necessidade de Costa se deslocar ao arquipélago, aí como primeiro-ministro. Foi o próprio que o deixou em aberto.
É sempre mais útil prevenir do que remediar e, mesmo sendo candidato, não deixo de ser primeiro-ministro. Posso separar as situações, mas não me posso desligar delas. Não posso meter férias das minhas funções de primeiro-ministro. E se como primeiro-ministro tiver de estar disponível para cumprir as minhas funções, estou”.
O furacão, que segundo o IPMA deverá “passar com categoria 1, na quarta-feira, ligeiramente a oeste das Flores”, já tinha servido de justificação ao líder socialista para não responder às perguntas sobre o caso Tancos, no dia anterior numa arruada em Almada. Certo é que a categoria 1 do furacão é a mais baixa da escala Saffir-Simpson que mede a intensidade dos furacões entre os níveis 1 e 5, sendo 5 o nível mais intenso.
Em Almada, na segunda-feira, quando confrontado com o artigo de José Sócrates que considera existirem motivações políticas do Ministério Público na acusação do caso Tancos, António Costa desviou o tema, aproveitando o furacão Lorenzo para dizer que é o “único tema fora da campanha” que lhe interessa nesta altura. Os outros não são temas de campanha e tem evitado falar sobre eles.
Costa desvia rota de Sócrates e Tancos com furacão dos Açores
A ironia de Costa sobre a escolha de Rio para a Agricultura: “Não há nada como partidos que renovam quadros.
Sobre a visita à obra, que não durou mais de 30 minutos — que incluíram o percurso curto a pé pelo troço em obras e as respostas aos jornalistas — Costa garantiu não estar a esquivar-se dos casos que estão a criar polémica nesta campanha e a motivar os ataques mais agressivos da oposição.
Aliás, ainda atirou uma bicada ao PSD, sobre o lançamento, por Rui Rio, do nome de Arlindo Cunha como ministro da Agricultura, pasta que já ocupou duas vezes (uma num Governo de Cavaco Silva e outra no de Durão Barroso). O socialista utilizou a ironia, já de fugida e depois de ter começado por recusar responder à pergunta: “Não há nada como partidos abertos que se modernizam, rejuvenescem e renovam quadros”.
Já sobre a obra que visitava — e na comitiva estava também o cabeça de lista por Viseu, João Azevedo — António Costa justificou a sua “prioridade” com as razões de “segurança, a coesão territorial e a internacionalização da economia”. Mas à cabeça está mesmo a questão da perigosidade de um troço onde, lembrou, “só na última década perderam a vida 24 pessoas”. Na estrada onde passavam o trânsito em direção a Viseu ouviam-se alguns comentários, gritados sobretudo do altos dos camiões, sobre a demora da obra. Mas Costa ia garantindo aos jornalistas que “está a andar e tem calendário para ser cumprido”