O desfile de Sangue Novo marcou o arranque do calendário de desfiles da 53ª edição da ModaLisboa, a realizar-se pela primeira vez nas Oficinas Gerais do Exército. Ao final da tarde desta sexta-feira, dez estreantes pisaram pela primeira vez a passerelle do concurso reservado a novos talentos do design de moda. A convocatória foi feita a nível internacional. No total, chegaram às mãos do júri, presidido por Miguel Flor, 82 candidaturas — 59 eram nacionais, as restantes vieram de países como o Brasil, Reino Unido, França, Itália, Espanha, Alemanha e Estados Unidos, entre outros.
Uma dezena foi selecionada para “o desfile onde conhecemos o futuro”, como foi dito pela voz off que abriu as hostilidades. Desses, seis sagraram-se finalistas e garantiram o acesso à próxima edição do concurso, além de um apoio de 1.000 euros (a cada um) para o desenvolvimento na coleção que apresentarão em março de 2020, na mesma plataforma. Inês Manuel Baptista, a quem coube abrir este desfile coletivo, foi uma das designers contempladas pela seleção dos jurados. Com a coleção “Catarse”, cingiu-se ao preto para realçar cortes e camadas. Peças habitualmente rígidas e quadradas, como foi o caso de um clássico blusão de cabedal, moldaram-se a silhuetas cintadas. À fluidez de alguns coordenados, a criadora contrapôs a estrutura de outros, ao mesmo tempo que denunciou um trabalho de upcycling de peças em pele, aproveitando e redesenhando sobre os materiais.
Entre os finalistas ficaram também Filipe Cerejo e Cêlá, designação artística da designer Naomi Marcela. O primeiro viajou do look silky com que abriu o desfile para coordenados fortemente marcados por peças de workwear e pela apropriação de elementos do streetwear norte-americano. A segunda havia prometido assimetrias diversas, inspirada pela borboleta ginandromorfa, e um cumpriu. A coleção “Cocoon” — nome por detrás das silhuetas arredondadas — valeu-lhe ainda o prémio atribuído pela The Feeting Room e estará à venda na concept store portuguesa.
Francisco Pereira, outro dos vencedores da tarde, apresentou uma fusão punk-clássica, materializada em folhos, plissados e padrão tartan, elementos que dividiram o protagonismo com spikes, peças em vinil preto e materiais de acabamento iridescente. A esta assemblagem deu o nome de “Girl Gone Wild”. Louis Appelmans e Flávia Brito completaram o grande pódio. O jovem criador belga proporcionou um dos momentos altos do desfile com uma sobreposição caótica de peças. As silhuetas foram invariavelmente oversized, as riscas, o xadrez e o polka dots protagonistas de uma lição de mix and match. O exagero das proporções teve o seu ápice no último coordenado — um trenchcoat amarelo que se revelou uma capa à passagem do manequim.
Flávia Brito, uma jovem criadora brasileira, fez do clássico de Michel Focault, “Vigiar e Punir”, o ponto de partida para a coleção “Estruturas Escondidas”. Por sinal, elas estiveram bem à vista — volumes metálicos acoplados à roupa. A sua paleta serena, à base de tonalidades nude, rosas, beges, terracotta e castanho, e as camadas e entrecortes das peças, concebidas para se manterem justas ao corpo, encerraram o desfile do Sangue Novo.
Pelo caminho ficaram outros quatro jovens criadores: Bruno Feliciano e o seu adorável menswear inspirado em vestuário de proteção usado por homens e mulheres no campo, Beatriz Julião, autora de um aproveitamento inteligente de peças em ganga, a romena Ferencz Borbala e o seu patchwork mirabolante inspirado na obra “The Venus of the Rags”, de Michelangelo Pistoletto, e André Santos, um conto de fadas que enveredou por um caminho hiper mega cor-de-rosa para contrariar a binariedade do guarda-roupa.
A ModaLisboa traz propostas de outros criadores nacionais, ainda esta sexta-feira. Hibu, Colisão Studios, Valentim Quaresma e Awaytomars. Na fotogaleria, veja as imagens do desfile coletivo que marcou o arranque desta edição.