Assunção Cristas comunicou esta noite aos conselheiros a sua decisão pessoal: vai tomar posse como deputada e vai assumir o mandato até ao Congresso, de 25 e 26 de janeiro, que escolherá um novo líder para o CDS. Depois disso, Assunção Cristas abandona a Assembleia da República e mantém-se apenas como vereadora do CDS na câmara de Lisboa. O Conselho Nacional do CDS decorreu esta noite no Largo do Caldas, em Lisboa, e foi concorrido: mais de 50 conselheiros inscreveram-se para falar, incluindo os quatro rostos que se estão a posicionar para a liderança do partido: João Almeida, Filipe Lobo d´Ávila, Francisco Rodrigues dos Santos e Abel Matos Santos. “Pelas intervenções, ficou mais claro quem serão os candidatos”, ouviu o Observador de um conselheiro presente na reunião, embora nenhum dos quatro tenha dito, preto no branco, que é candidato. É tempo de reflexão e de pensar, primeiro, no rumo do partido e, só depois, nos rostos da liderança.
Para já, uma coisa ficou certa: o novo líder, quem quer que ele seja, será conhecido a 26 de janeiro. A data do Congresso foi confirmada por Pedro Morais Soares, secretário-geral do CDS, que falou aos jornalistas depois da intervenção inicial de Assunção Cristas na reunião que decorreu à porta fechada. “Foi aprovada a marcação do 28º Congresso do CDS para 25 e 26 de janeiro”, disse, anunciando que as moções de estratégia global e as moções setoriais devem ser apresentadas até ao dia 27 de dezembro. O local onde se vai realizar o congresso ainda não está fechado, devendo agora as estruturais locais do CDS apresentar as suas candidaturas à comissão organizadora do congresso.
Numa versão inicial, a proposta do CDS era para que o congresso se realizasse no fim de semana anterior, a 18 e 19 de janeiro, mas a comissão política acabou por adiar uma semana, alegadamente para não colidir com os timings do PSD, que terá eleições diretas nessa altura, em “meados de janeiro”. Na declaração aos jornalistas, contudo, Pedro Morais Soares invocou questões “logísticas” e “simbólicas”. É que o primeiro congresso do CDS, em 1975, realizou-se precisamente a 25 e 26 de janeiro no Palácio de Cristal, no Porto.
Se, dentro de portas, não houve nenhuma clarificação quanto a candidaturas, à entrada para a reunião houve sinais mais claros: “Eu estou, como sempre estive, ao lado do meu partido, não o abandono, não fujo. Estou disponível para aquilo que os militantes do meu partido entenderem que eu posso ser mais útil”. Foi assim que Francisco Rodrigues dos Santos, o líder da JP conhecido como “Chicão”, chegou à sede do CDS esta noite. O líder da juventude centrista não tem escondido que está a ponderar uma candidatura, e vem agora dar mais uma pista no sentido de avançar para a corrida. Aos jornalistas, Francisco Rodrigues dos Santos começou por criticar, sem identificar, quem, “a partir de fora”, manda “mensagens para dentro”, tentando “condicionar” a discussão interna no partido. E terminou citando Winston Churchill: “O fracasso não é eterno, o sucesso não é definitivo, o que conta é coragem para continuar.”
Dentro da sala, o líder da JP foi um dos primeiros inscritos a falar mas, ao que o Observador apurou, não foi tão explícito no desejo de candidatura como tinha sido minutos antes, em declarações aos jornalistas. Outro dos potenciais candidatos à liderança é Filipe Lobo d ’Ávila, que também se dirigiu aos jornalistas à chegada à reunião magna do partido. Tal como o Observador tinha avançado, vai primeiro “ouvir o partido” e só depois tomará uma decisão sobre se avança ou não com uma candidatura à liderança. Primeiro é preciso ouvir e perceber que rumo o CDS quer seguir. Para este crítico assumido da direção de Assunção Cristas, é preciso “recuperar as estruturas” do CDS e “refundar o partido”.
Seis ‘não’, três ‘talvez’ e um ‘sim’. Críticos tentam colar toda a direção de Cristas à derrota
Depois de já ter falado dentro da reunião, Abel Matos Santos, o único candidato assumido que é também porta-voz da Tendência Esperança em Movimento, falou aos jornalistas para atirar alfinetadas a um potencial adversário mas sem dizer nomes. Criticando o facto de alguns membros da direção não terem “subido ao palanque” na noite eleitoral para assumirem responsabilidades ao lado da líder, Abel Matos Santos estaria a referir-se a João Almeida, que não passou a noite eleitoral na sede em Lisboa, tendo ficado em Aveiro, círculo por onde é eleito deputado. Ao que o Observador apurou, a mesma crítica tinha sido feita por Filipe Lobo d’Ávila que mereceu resposta de João Almeida, que defendeu o facto de ter estado ao lado dos seus eleitores na noite eleitoral.
Para Abel Matos Santos, não é ainda tempo de “afiar facas”, mas, no seu entender, os possíveis candidatos à liderança do CDS não devem ter “vergonha” de avançar, uma vez que “as candidaturas têm rostos e têm ideias”, além de que “ser candidato não é igual a ser líder”. Para já, contudo, não há fumo branco.