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“Preocupa-me um nome: o da Ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho“. Foi esta a única análise que Mariana Mortágua, entrevistada no programa Vichyssoise, da rádio Observador, se atreveu a fazer sobre o novo Governo. “Preocupa-me por um conjunto de posições que teve enquanto secretária de Estado do Turismo e por ser autora de algumas frases polémicas, dizendo, por exemplo, a empresas chinesas para fazerem de nós cobaias. São posições questionáveis quando se tem um cargo de promoção de investimento ou do Turismo porque essa é a mesma lógica que esteve por trás dos vistos gold.”, justificou.
Na semana em que ficou conhecido o novo elenco governativo, a deputada do Bloco de Esquerda disse que mais do que comentar nomes ou “fazer futurologia” preferia analisar “a linha política do Governo”, mas não deixou de manifestar desconforto com a escolha de António Costa para suceder a Vieira da Silva no Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social. Tudo porque o passado político de Ana Mendes Godinho não foi bem visto pelo Bloco de Esquerda. “Quando pensamos nesta lógica [dos vistos gold] aplicada ao trabalho é uma lógica perigosa e por isso preocupa-me”. No entanto, a dirigente bloquista prefere esperar para ver e aproveitou para deixar um aviso à nova ministra: “Vamos ver como é que as políticas do trabalho prosseguem, mas é uma área muito sensível e onde há muito para fazer”.
A área do trabalho não terá sido escolhida ao acaso. Na semana passada, Bloco de Esquerda e PS estiveram reunidos para avaliar as condições para haver um acordo de governação entre os dois partido para toda a legislatura. Nesse encontro, os bloquistas entregaram aos socialistas um conjunto de propostas sobre a legislação laboral como ponto de partida para o diálogo. Mas esse é um dossiê que António Costa não quer reabrir e foi motivo suficiente para deitar por terra quaisquer hipóteses de haver um entendimento escrito entre os dois partidos.
Era, aliás, expectável que o PS fosse reticente quanto à possibilidade de dar a mão ao BE nesta matéria, já que no fim da legislatura anterior as alterações propostas pelos socialistas à lei do trabalho foram aprovadas com ajuda da direita — PSD e CDS abstiveram-se na votação — e não da esquerda. Questionada sobre se isto teria sido taticismo político do Bloco para poder colocar no PS o ónus do fim da “geringonça”, Mariana Mortágua negou que tenha avido calculismo. “Se vamos fazer um acordo para a legislatura não vamos negociar com o PS coisas onde já estamos em acordo”, argumentou.
A deputada lamentou ainda que os dois partidos não tenham chegado a um consenso. “Acordo escrito conferia estabilidade do ponto de vista da forma e estabelecia ganhos à partida para a esquerda”. Apesar de não haver nenhum papel, Mortágua garante que o BE vai “negociar cada lei com o mesmo empenho que houve em 2015”.
Sublinha que ainda não houve reuniões entre os dois partidos para a preparação do OE 2020 e garante que, depois da primeira reunião de António Costa na sede do BE, na semana passada, o líder do PS não apresentou qualquer contraproposta com vista a um acordo escrito. Ou seja, não tinha vontade de chegar a esse acordo. “Tivemos uma reunião, que foi pública, e depois fomos informados passados dois dias de que o PS não tinha interesse nesse caminho, porque não apresentou qualquer contraproposta, preferiu a opção de negociar caso a caso”, disse.