Tony Blair foi claro:”O problema do Brexit é que não é resposta para nada” e um segundo referendo “ainda é possível”, relatou a TSF. As declarações surgiram num dos palcos secundários da Web Summit durante a tarde desta terça-feira. Para o ex-primeiro-ministro britânico, os problemas do Reino Unido não se vão resolver com a saída da União Europeia: “Em vez de nos concentrarmos nos problemas reais, ficamos a discutir apenas o Brexit. E quando terminarmos esta saga inacabável, vai estar tudo na mesma”, justificou.

Horas antes, no palco principal, Michael Barnier, que é o responsável da União Europeia pelas negociações do Brexit, tinha reiterado a mesma ideia: “A história não termina aqui”, avisou.

“O Reino Unido e a União Europeia chegaram a um acordo há duas semanas, mas nada disso está terminado, por isso precisamos de mais tempo para organizar esse acordo e para fazer as eleições gerais. O Brexit é uma escola de paciência e de tenacidade. Mesmo com o acordo assinado, a história não termina aqui. Temos de manter em mente que isto é um passo, não um destino. Temos uma tarefa de reconstruirmo-nos depois do Reino Unido sair. E que saia como um aliado e um parceiro”, considera Michel Barnier.

Barnier, que optou sempre pelo discurso de que o Brexit vai mesmo concretizar-se, chegando a acordo, foi mais contido do que Tony Blair nas palavras. “Resolver qualquer pergunta na vida pessoal ou profissional é mais fácil quando se olha para ela em perspetiva, quando se olha para lá do horizonte. Fiz isso desde o primeiro dia da minha missão: olhar para lá do Brexit”, disse o chefe de negociações”.

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O Brexit não é só sobre um divórcio entre a UE e o Reino Unido. Há tantas outras consequências: é também construir uma nova parceria com o Reino Unido, uma nova parceria que beneficia cidadãos a trabalhar dentro e com o Reino Unido, uma nova parceria para a estabilidade do nosso continente”, disse Barnier.

Michel Barnier garante que, nas negociações do Brexit, “os cidadãos sempre foram a nossa prioridade e queremos proteger os direitos deles para a vida”. Sendo o palco uma conferência de tecnologia, falou das preocupações que existem em torno dos dados pessoais: “Queremos saber o que acontece aos dados de uma pessoa que esteja num país da União Europeia e entre num site britânico para fazer uma compra. Estes dados têm de estar protegidos”.

Sobre o acordo que está em cima da mesa com o Reino Unido, Michel Bernier garantiu que este vai dar “aos negócios tempo para se adaptarem, até 2020”. Além disso, quanto à questão da Irlanda do Norte — “o sítio onde o Brexit cria os maiores riscos e problemas” — disse: “Aqui não falamos de economia e troca, falamos de pessoas. A estabilidade. E isto é tudo recente nesta região”, disse.

Blair, no palco mais pequeno, continuou a mesma linha de pensamento, mas de uma forma mais próxima. Numa análise ao país que liderou, mostrou que, no Reino Unido, a situação política é inversa à de Portugal: “A esquerda tem de ter uma nova agenda política. Temos de explicar às pessoas como o mundo está a mudar, dar sentido a essas mudanças e torná-las o mais benéficas possível para todos”. Tudo porque uma Europa que possa fazer frente aos EUA e à China, como falou Barnier, só pode existir se todos os estados estiverem juntos.

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No fim, Blair pediu mais um referendo que acredita “ainda ser possível”. Mesmo que a posição dos britânicos fosse novamente a de sair da UE, ao menos saía-se logo, defendeu o político. O mais importante disse, é este assunto resolver-se.

A Web Summit arrancou oficialmente no final desta segunda-feira e vai decorrer até 7 de novembro. Nesta terça-feira, o palco principal da Altice Arena recebeu nomes como Brittany Kaiser (ex-analista na Cambridge Analytica) e Rohit Prasad (o “pai” da Alexa da Amazon). Esta quarta-feira, é Blair quem sobe a palco, no mesmo dia em que António Costa, primeiro-ministro de Portugal, também o faz.