Quente: ficámos indecisos, por isso são dois

Margrethe Vestager é a repetente que toda a gente quer ter na turma: dá as respostas mais sensatas, é exigente, mas cool o suficiente para nos pôr a todos agarrados aos livros e não tem medo de dizer ao professor que ele está errado — e que, se calhar, é melhor começar a aula ao contrário. Numa intervenção que suscitou várias rondas de aplausos no Altice Arena, a comissária europeia para a concorrência defendeu um “acordo global” de taxação das gigantes tecnológicas, pediu a Mark Zuckerberg que se focasse mais nas ações e menos nas palavras e salientou que “a Libra [a moeda digital que o Facebook quer lançar] não escapa à reflexão cuidada da Comissão Europeia só porque ainda não existe. Há “poder para investigar coisas que ainda estão a ser desenvolvidas”.

Vestager deixa mensagem ao Facebook: mais ação, menos palavras

Momentos antes de Vestager subir a palco, uma ligeira taquicardia — quando o cão Spot apareceu sozinho no meio do Altice Arena e subiu para o palco, para ao pé do seu criador, o presidente-executivo da Boston Dynamics. Spot não é um cão normal, é um cão robô, semelhante aos que aparecem em “Metalhead”, o quinto episódio da quarta temporada da série distópica “Black Mirror”. Exato, tenha medo que nós também.  Ao contrário da robô Sophia, o Spot tem todos os motivos e mais alguns para nos fazer ter medo quando estivermos sozinhos em casa. Foi o único espetáculo de inovação tecnológica a que tivemos direito no palco central da Web Summit. Chegou no final, mas chegou a tempo. Ainda era uma boa hora para a Boston Dynamics e para nós também.

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Morno: estamos ou não dependentes da tecnologia?

Podia ter sido ótimo, não foi. Mas foi bom. Foi importante e foi bom. E foi o único momento em que se discutiram o que os perigos da utilização de smartphones representam para a saúde mental. Ansiedade, depressão, vício. Que mundo é este em que vivemos agarrados a um ecrã, dependentes do email, das redes sociais, das notificações, das notícias e dos alertas de todo o tipo? A discutir o vício da tecnologia, estiveram Justin McLeod, fundador e presidente da app de encontros Hinge e Dame Til Wykes, professora de Psicologia Clínica e Reabilitação no Kings College. “Acho que não há muita diferença entre dependência química e dependência tecnológica: o cérebro não distingue isso”, disse Justin. Wykes discordou e fez a pergunta: as pessoas ficam mais ansiosas e deprimidas por causa da tecnologia? Ou recorrem à tecnologia porque estão ansiosas ou deprimidas? Fiquem vocês também com esta.

Frio: o gelo que está entre os EUA e a China

Michael Kratsios foi um gelo — não, porque tenha sido péssimo, mas porque mostrou que os EUA e a China estão numa verdadeira guerra fria. De fato e gravata, com o seu discurso impresso em papel, o responsável pela tecnologia da Casa Branca chegou ao palanque que foi montado para si no palco do Altice Arena com uma mensagem clara — para a China e para a Huawei. “Ao implementar o sistema de crédito distópico, o governo continua a estender o seu autoritarismo para o exterior. Em nenhum caso isso é mais claro do que com a lei chinesa e a Huawei, que obriga todas as empresas chinesas, inclusive a Huawei, a cooperar com seus Serviços de Inteligência e Segurança. Não importa onde a empresa opera”.

Não se ficou por aqui: “O governo chinês viola a privacidade de todas as pessoas no seu país, monitorizando as comunicações online e bloqueando o acesso à informação; o Partido Comunista Chinês usa a tecnologia para controlar e prender dissidentes ativistas e minorias, incluindo os líderes muçulmanos, degradando a dignidade individual dos cidadãos chineses”, entre outros ataques. Da Huawei, houve resposta ao fim do dia: “Rejeitamos totalmente as falsas alegações contra a Huawei de Michael Kratsios, diretor de tecnologia do presidente dos EUA, Donald Trump, hoje na Web Summit em Lisboa. Destacando a Huawei, Kratsios repetiu várias alegações hipócritas e manifestamente falsas”. Está a sentir o gelo? Nós também. O problema é que isto pode ficar (muito) quente.

A quarta edição da Web Summit em Lisboa acabou. Para o ano, voltamos a medir temperaturas.

A portuguesa que quer chegar à Bolsa de Nova Iorque