Pedro Gouveia Alves comunicou estar indisponível para manter a candidatura a presidente da comissão executiva do Banco Montepio, uma decisão que o Jornal Económico explica com uma carta, de 31 de outubro, em que o Banco de Portugal comunicou o encerramento do processo de autorização para aquelas funções, por não estar completo todo o elenco. O Observador já tinha noticiado, na quarta-feira, que o Banco de Portugal tinha indicado à Associação Mutualista Montepio Geral que Pedro Alves não teria condições para receber autorização do supervisor para a presidência do banco, caso a candidatura se mantivesse.

Pedro Alves não tem condições para ser presidente-executivo, indicou Banco de Portugal. Montepio garante que nome se mantém

Quando o Observador noticiou, na quarta-feira, que Pedro Alves tinha deixado de ser hipótese para o Montepio, sobretudo depois de uma reunião no Banco de Portugal no dia 4 de novembro (entre o Banco de Portugal e a Associação Mutualista), fontes oficiais da mutualista e do Banco Montepio garantiram que o nome não tinha sido retirado e que continuava “em cima da mesa”.

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Mas o Observador noticiava que tinha sido indicado por representantes do Banco de Portugal, nessa reunião na última segunda-feira, que chegou ao Banco de Portugal muito recentemente informação nova e comprometedora, cuja gravidade não abona a que Pedro Alves possa ser aprovado num processo de reavaliação de idoneidade que será aberto caso o Montepio insista na nomeação. Essa informação “nova e comprometedora” é precisamente o relatório que foi noticiado em exclusivo pelo Observador na última quinta-feira, como “o relatório que trama Pedro Alves, nomeado presidente do Montepio”.

“Cosmética” de contas no Montepio e prémios para mascarar créditos. O relatório que trama Pedro Alves, nomeado presidente do banco

Na passada quinta-feira, o Observador noticiou que Pedro Gouveia Alves, nome escolhido por Tomás Correia e Carlos Tavares para próximo presidente do Banco Montepio, liderou em 2009 uma task force que criou uma estratégia cujo efeito prático foi mascarar rácios de crédito vencido e escondeu, de forma considerada ilícita pela auditora Deloitte, as dificuldades que o banco atravessou no início da crise económica, especificamente nos rácios de incumprimento no crédito à habitação concedido a particulares.

A auditoria da Deloitte, de 2015, que responsabilizou os administradores (Pedro Alves não era administrador), já estava no Banco de Portugal desde 2015. Mas só nos últimos dias chegou ao supervisor a apresentação powerpoint que serviu de base à estratégia comercial executada em 2009 e que comprova o envolvimento de Pedro Alves nessa iniciativa que a Deloitte criticou duramente.

Ora, o Banco de Portugal não estava na posse dessa informação (embora em 2015 pudesse ter explorado mais esse filão porque, como leu o Observador, a auditoria refere que os quadros da Deloitte que analisaram este caso tiveram acesso a uma cópia da apresentação). Mas o Banco de Portugal, até agora, só tinha a auditoria. A “informação nova e comprometedora” é a apresentação powerpoint que liga uma coisa à outra.

Aliás, fosse essa ligação conhecida há mais tempo pelo regulador — pela gravidade dos factos — e Pedro Alves poderia não ter tido a autorização para ser administrador não-executivo do banco, como é hoje, além de presidente da Montepio Crédito. Recorde-se que Pedro Alves já esteve no passado recente a tentar a nomeação para administrador executivo para estar na equipa de Carlos Tavares (presidente do conselho de administração) e Dulce Mota (presidente-executiva interina), mas acabou por apenas receber autorização para ser não-executivo.