Paleontólogos da Universidade Nova de Lisboa e do Museu da Lourinhã reclassificaram uma espécie de dinossauro americano ao concluírem que afinal é de origem europeia, a partir do estudo de exemplares encontrados em Portugal.

Francisco Costa e Octávio Mateus rebatizaram como ‘Miragaia longispinus’ o dinossauro herbívoro estegossauro ‘Alcovasaurus longispinus’, do Jurássico Superior, encontrado no estado norte americano de Wyoming.

Segundo os investigadores, que publicaram esta quarta-feira um artigo sobre a investigação na revista científica Plos One, os fósseis de estegossauros são raros a nível mundial, motivo pelo qual o ‘Alcovasaurus longispinus’ permanecia como um género único, de difícil comparação com outros seus semelhantes. Pelo mesmo motivo, também se duvidava que o ‘Miragaia’, mais antigo do que o ‘Alcovassaurus’, fosse um género válido de estegossauro.

Francisco Costa explicou à agência Lusa que o dinossauro americano não era de um género e espécie diferentes do português ‘Miragaia longicollum’, mas são ambos espécies diferentes do mesmo género de estegossauro, pelas semelhanças encontradas na cauda.

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Os paleontólogos chegaram a esta conclusão após a investigação desenvolvida por Francisco Costa para a sua tese de mestrado, ao estudar em profundidade o ‘Miragaia longicollum’, a partir dos fósseis de dois exemplares encontrados em Portugal.

O primeiro tinha sido descoberto há 60 anos em Atouguia da Baleia, Peniche, no distrito de Leiria, por Georges Zbyszewski, enquanto realizava levantamentos de geocartografia para os Serviços Geológicos de Portugal, e desde então ficou guardado em reserva no Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), sem ser estudado.

O ‘Miragaia Longicollum’ foi estudado e classificado como uma nova espécie e género de estegossauro em 2009, depois de, na década de 1990, terem sido encontrados fosseis deste dinossauro em Miragaia, Lourinhã, no distrito de Lisboa.

O exemplar da Lourinhã inclui fósseis de ossos do pescoço, cabeça e membros anteriores, o que não permitia a sua comparação com outros estegossauros, levando os paleontólogos a discutirem a validade deste género e espécie, assim como a classificação de outros estegossauros ‘Dacentrurus’ na Europa.

Desde que os investigadores começaram a estudar o dinossauro do LNEG e concluíram tratar-se de outro exemplar do “Miragaia longicollum” iniciaram, em 2015, uma ampla investigação que veio agora resolver “mistérios científicos”.

Por ter fósseis de partes do esqueleto que até então eram desconhecidos desta espécie, este exemplar do LNEG tornou-se no ‘Miragaia longicollum’ mais completo descoberto na Europa e o dinossauro mais completo descrito em Portugal.

Ao compararem os dois, os investigadores confirmaram que ‘Miragaia’ é um género válido, com 29 características morfológicas distintas do ‘Dacentrurus’, um outro género de estegossauro.

Além disso, concluíram que afinal este não seria de origem americana, mas europeia, contribuindo para “melhor compreender os paleoecossistemas do Jurássico Superior na Europa e as trocas com a América do Norte através do proto-Oceano Atlântico”, afirmou Octávio Mateus.

Os estegossauros eram dinossauros herbívoros com seis a sete metros de comprimento e mais de dois metros de altura conhecidos por terem enormes espinhos ao longo do dorso, que atingiam os 1,10 metros.

O estegossauro de Atouguia da Baleia vai estar exposto em posição de vida em breve no Museu Geológico do LNEG, em Lisboa, na sequência de um projeto financiado pelo Parque dos Dinossauros da Lourinhã.