O Ministério Público sueco deixou cair a investigação de um caso de violação alegadamente cometido por Julian Assange, fundador do WikiLeaks, em 2010.

“O Diretor Adjunto do Ministério Público, Eva-Marie Persson, decidiu hoje [terça-feira] descontinuar a investigação em relação a Julian Assange”, disse um representante do Ministério Público sueco em conferência de imprensa. “O motivo desta decisão é que as evidências enfraqueceram consideravelmente devido ao longo período de tempo que passou desde os eventos em questão.”

Os procuradores disseram ter tomado esta decisão depois de terem entrevistado sete testemunhas do caso em investigação, duas das quais foram agora entrevistas pela primeira vez. As provas reunidas, no entanto, são “insuficientes para considerar que o alegado ato criminoso possa ser provado”.

“Gostaria de destacar que a parte lesada apresentou uma versão credível e confiável dos eventos”, acrescentou Eva-Marie Persson. “As declarações foram coerentes, extensas e detalhadas. No entanto, a minha avaliação geral é que a situação probatória foi enfraquecida a tal ponto que não há mais motivo para continuar a investigação.”

A investigação tinha sido arquivada em 2017 porque Assange estava exilado na embaixada do Equador, em Londres, e o Reino Unido não conseguia dar cumprimento ao pedido de extradição da Suécia. Depois do fundador do Wikileaks ter saído da embaixada, a Suécia reabriu a investigação sobre a qual agora apresenta as conclusões.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O advogado de Julian Assange, Juan Branco, disse, à RTP, estarem muito satisfeitos com o encerramento da investigação que se prolongou por demasiados anos e há muito já devia ter sido dada por concluída. Juan Branco aproveitou para lembrar que apesar de todo o julgamento público e mediático, Assange nunca foi condenado pelos crimes em questão. Para o advogado, tudo isto não passa de uma pressão dos Estados Unidos para encobrirem aquilo que foi descoberto e divulgado pelo WikiLeaks.

Semanas sem tomar banho e fezes nas paredes. Como Assange esgotou a paciência do Equador

O antigo jornalista sempre negou a acusação de violação de uma mulher e abuso sexual de outra durante uma conferência do WikiLeaks, em Estocolmo, em 2010. Para evitar a extradição do Reino Unido para a Suécia, pediu asilo político ao Equador. Esteve nas instalações diplomáticas durante sete anos, de 2012 a abril de 2019.

Em abril, o asilo político concedido pelo Equador a Assange foi revogado e Assange expulso da embaixada. Em causa estariam alegadas agressões físicas a funcionários da missão diplomática e falta de higiene por parte do australiano.

Depois de ser expulso da embaixada, Assange foi detido pelas autoridades britânicas e julgado por ter violado a liberdade condicional a que estava sujeito em 2012, quando se refugiou na embaixada do Equador. O fundador do WikiLeaks foi, assim, condenado a 50 semanas de prisão efetiva.

Assange vai continuar preso mesmo depois de terminar pena no Reino Unido

Apesar de a pena ter terminado a 22 de setembro, o australiano de 48 anos continua detido em Londres. Neste momento, enfrenta um pedido de extradição dos Estados Unidos e terá de aguardar na prisão o início do julgamento — a 25 de fevereiro — devido ao risco de fuga.

Nos Estados Unidos, o antigo jornalista enfrenta 18 acusações — 17 das quais feitas pela administração Trump, segundo o jornal The New York Times —, incluindo uso indevido do computador e revelação não autorizada de informação sobre a defesa nacional. O processo de extradição promete ser longo e difícil, como refere o jornal, devido a importantes questões diplomáticas e políticas.

Como é que Assange chegou até aqui e o que vai ser dele agora? 4 perguntas, 4 respostas

Este vai ser o novo foco do advogado de Julian Assange, Juan Branco, conforme disse à RTP: evitar a extradição e proteger Assange da violência norte-americana . Juan Branco acrescentou ainda que têm tido dificuldade em comunicar com Assange que “está numa prisão para terroristas”.

“Vamos focar-nos agora na ameaça que o Sr. Assange anda a avisar há anos: a acusação beligerante dos Estados Unidos e a ameaça que isso representa para a Primeira Emenda”, disse Kristinn Hrafnsson, porta-voz do WikiLeaks, citado pela Courage Foundation, que defende pessoas que expuseram documentos secretos como Assange, Snowden ou Manning.

Atualizado às 14h35