A Portuguese Women in Tech (PWIT) e a Polar Insight divulgaram esta quarta-feira um estudo, feito com o apoio da consultora Deloitte, que traça um retrato para melhor compreender a realidade das mulheres no mercado tecnológico em Portugal. De acordo com os resultados, 78% das mulheres já “ouviu comentários e piadas ou observou gestos sexistas ou grosseiros no seu local de trabalho, pelo menos uma vez”. Além disso, 72% das mulheres “já foram ignoradas nas suas opiniões e comentários, até que um homem dissesse o mesmo, pelo menos uma vez”.

Portuguesas em tecnologia distinguidas em Lisboa

O estudo, de nome “Pioneers”, foi realizado através de um inquérito a 541 mulheres na área tecnológica em Portugal. Da amostra de mulheres que trabalham no setor, 20% têm entre 18 e 24 anos, 38% entre 25 e 34, 26% entre 35 e 44 e 16% entre 45 e 54. A maioria encontra-se em funções de gestão (13%), consultoria (12.1%) ou dados (12.6%). Apenas 0.8% é investidora e apenas 1.3% é fundadora ou cofundadora de empresas tecnológicas.

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O inquérito tem também como objetivo servir de ponte para procurar soluções relativamente aos problemas de disparidade de género. As que reuniram maior consenso foram o aumento de iniciativas focadas em capacitar as mulheres para atuar no setor: “Escolas de programação; iniciativas para unir a comunidade feminina na área (como meetups e hackathons); intervenção de líderes organizacionais/educacionais contra atos discriminatórios; e reconhecimento e visibilidade atribuídos a mulheres em posição de destaque no setor”. De acordo com o resultado, a medida “discriminação positiva”, no qual se incluem ações como quotas de género, aparece em último lugar no ranking.

Este estudo é o culminar de um trabalho que temos vindo a desenvolver desde 2016 e é também um marco importantíssimo para percebermos a realidade das mulheres que trabalham em tecnologia em Portugal. Pela primeira vez, temos números e ‘insights’ concretos sobre a realidade nacional e podemos agora lançar mais projetos e iniciativas que respondam da melhor forma às necessidades e desafios identificados”, diz Inês Santos Silva, cofundadora na PWIT.

De acordo com o resultados, 48% das mulheres que trabalham em tecnologia escolheram esta via profissional pela “paixão pela área”, já 35% por pretender “um trabalho que lhes garanta estabilidade”. Relativamente às principais barreiras profissionais, as mulheres inquiridas referem o “lento crescimento salarial (27%)” e a “baixa possibilidade de crescimento na carreira (18%)”. Este último obstáculo é “muitas vezes associado à maternidade”, refere também o inquérito.

O estudo distingue também mulheres que estão a trabalhar na área tecnológica e estudantes que querem integrar o setor. As trabalhadoras inquiridas têm, “na sua maioria”, entre 25 e 34 anos de idade (26%), são solteiras (53%), não têm dependentes a cargo (63%) e concluíram a licenciatura (42%). Relativamente às áreas de trabalho, estão “sobretudo” em empresas tecnológicas (33%). Também trabalham no setor de tecnologia de outros mercados, como o financeiro (12%), na área de educação (11%) e distribuição (11%). As áreas de trabalho são “variadas”, mas as mais frequentes são: gestão (13%), ciência de dados (12%) e consultoria (12%).

Quanto a vencimentos, 13% das mulheres inquiridas recebe até 749 euros, 22% recebem entre 750 e 999 euros, 38% entre 1.000 e 1.499 euros líquidos mensais,1 8% recebem entre 1.500 e 1.999 euros, 7% têm um vencimento que varia entre 2.000 e 2.999 euros, e 4% recebem acima de 3.000 euros.

E se um workshop de 90 minutos lutasse contra o machismo e trabalhasse a confiança no trabalho?

Já quanto ao perfil das mulheres estudantes, a maioria tem “entre 18 e 24 anos (53%)”, é solteira (64%), não têm dependentes a cargo (80%) e têm o ensino secundário completo. 42% estão a tirar licenciatura. 45% das inquiridas estão a frequentar cursos de Ciências da Computação, Engenharia da Computação, Sistemas de Informação e Matemática Aplicada. Já as restantes (55%), frequentam cursos como Redes de Computadores, Jogos Digitais, Gestão da Tecnologia da Informação, Segurança Cibernética, Banco de Dados, Análise de Desenvolvimento de Sistemas, Sistemas para Internet, entre outros.

“Acreditamos que este estudo contribui para essa missão [a de criar ambientes de trabalho de confiança e inclusão] e fornece um banco de dados extremamente necessário, com o qual as equipas se podem inspirar, identificando áreas nas suas próprias organizações que ainda exigem transformações”, referiu James Tattersfield, managing director da Polar Insight em Portugal. Já a Deloitte, pela voz de Gonçalo Simões, sócio e líder de talento na consultora, refere que esta é uma “pesquisa inédita sobre o setor”.

A PWIT é uma comunidade que destaca mulheres portuguesas integradas no ecossistema das startups e da tecnologia em Portugal. A Polar Insight é uma rede global de consultores com escritórios em Lisboa e em Londres.