A 39.ª assembleia do partido terminou já depois das 22 horas, em Lisboa. Em comunicado, mesmo antes do final da reunião, o Livre afirma algumas das decisões tomadas depois da polémica em que tem estado envolvido nos últimos dias. O partido assume “dificuldades de comunicação” e acrescenta que “quer garantir” que está a “trabalhar em conjunto” para superar esses obstáculos. No comunicado, o Livre “reafirma que o partido continua unido e focado em torno do seu programa político e eleitoral”, mas “reconhece a perplexidade” com que todos os “membros, apoiantes e eleitores olham para as declarações dos últimos dias”.
Joacine: “Fui eleita sozinha, a direção do Livre nunca me apoiou”
O partido mantém a confiança política na deputada (a retirada da confiança a Joacine traduzir-se-ia na perda do deputado único do partido, coisa que não interessará ao Livre recém-chegado à Assembleia da República), depois da polémica e da troca de acusações entre a direção do partido e a deputada.
Em resposta às críticas de Joacine Katar-Moreira sobre a falta de apoio, a assembleia do Livre recorda e “reitera”, com um “sublinhado” adicional ao “grande empenho, entusiasmo e criatividade artística”, o voto de agradecimento aprovado a 12 de outubro (na reunião da assembleia anterior à deste domingo), a “todos os candidatos e candidatas, membros, apoiantes, independentes e amigos do LIVRE, de JoacineKatar Moreira e de todos os candidatos que se envolveram na campanha”, onde se inclui a direção da campanha e o grupo de contacto.
A assembleia do partido sublinha, uma vez mais, a posição do Livre relativamente à “defesa dos Direitos Humanos” e “subscrevendo os princípios do Direito Internacional contra os colonatos ilegais na Palestina”. Tema que esteve na origem da polémica e troca de comunicados entre a deputada única do partido e a direção durante o sábado.
Contactada pelo Observador, a direção do partido remete para o comunicado da assembleia que “subscreve integralmente”.
Na sexta-feira, Joacine Katar-Moreira absteve-se no voto de condenação pela “nova agressão israelita a Gaza”, no sábado a direção do partido emitiu um comunicado, de manhã bem cedo, recordando que a posição do partido é contrária ao voto da deputada única, ao final da tarde Joacine respondeu (também em comunicado) que a abstenção foi resultado de “dificuldades de comunicação” com os elementos do Grupo de Contacto (a direção do Livre) durante a semana. Ao final da noite, ao Observador a deputada dava conta que nunca se tinha sentido apoiada pela direção do partido.
À chegada para a assembleia deste domingo, onde se reuniram cerca de 50 membros do partido (eleitos uninominalmente no Congresso), Rui Tavares fundador do Livre reagiu pela primeira vez depois das últimas declarações da deputada única do partido.
Pode ouvir aqui as declarações de Rui Tavares e de Joacine Katar Moreira:
“Sabemos que todos os que votaram no Livre estão perplexos, nós também estamos”, disse, acrescentando que o Livre é um partido da esquerda verde europeia em Portugal e que é esse o propósito que serve.
“O Livre é um partido sério, empenhado nos vários temas e no que é importante para o planeta e vamos voltar a essa trilha, é isso que vamos fazer”, disse numa rápida declaração à entrada da sede do Livre, em Lisboa.
Já a deputada começou por dizer que não prestaria declarações, mas perante a insistência dos jornalistas sobre a hipótese de se desvincular do partido respondeu que isso “seria absolutamente impossível”.
“É aqui onde eu hei de estar, é aqui onde eu estou e aqui onde irei obviamente cumprir absolutamente o que me foi mandatado”, disse à entrada da sede do partido.
Cerca de três horas depois de ter entrado para a reunião a deputada do Livre saiu, sem prestar quaisquer declarações e com um semblante bastante mais carregado que aquele que tinha à entrada. A reunião foi interrompida pouco tempo depois, para uma pausa de cerca de 20 minutos que os membros da assembleia aproveitaram para comprar alguma comida, deixando antever uma noite longa pela frente que terminaria já depois das 22 horas.
Rui Tavares: “O primeiro caso de indisciplina de voto em que deputada e partido afinal concordavam”
Ainda no rescaldo de uma assembleia do partido de cerca de sete horas, Rui Tavares escreveu no Público (link para assinantes) que a “perplexidade” dos membros e apoiantes do partido se ficou a dever também ao comunicado emitido por Joacine Katar-Moreira. A deputada admitia que tinha votado contra “a direção de si mesma” e a abstenção da deputada era, afinal, também contra o sentido de voto do partido. É o próprio Rui Tavares que admite que, sendo a “primeira vez na história política” em que a indisciplina de voto se manifesta num assunto em que “deputada e partido concordavam”, até podia ser “caso para se rir”, mas contraria o impulso inicial afirmando que “não é o caso” já que o tema trata de Direitos Humanos e de uma posição defendida pelo partido desde a sua fundação.
“(…) a perplexidade das pessoas é real e não pode ser desvalorizada. Um partido que se tornou parlamentar não pode ignorar que as pessoas esperam dele trabalho, seriedade e empenhamento em resolver os verdadeiros problemas da sociedade, de acordo com os seus valores”, escreve Rui Tavares, atualmente um dos membros da assembleia do partido.
Rui Tavares nota que o Livre “tem a consciência que cada minuto nas notícias pelas razões erradas” é prejudicial ao partido que deixa de “tratar das coisas mais importantes para o país, a Europa e o mundo” e que é “crucial e urgente” que as pessoas saibam que essa consciência existe dentro do partido.