A Polícia Judiciária (PJ) realizou esta quarta-feira uma dezena de buscas domiciliárias e não domiciliárias, em Lisboa e Porto, por suspeitas da prática dos crimes de fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, no âmbito de uma investigação a negócios de venda de carne entre uma empresa portuguesa e a Venezuela — a Operação Navidad. De acordo com a TVI, uma das buscas terá sido realizada à Iguarivarius, empresa da qual o ex-ministro de José Sócrates, Mário Lino, foi presidente não executivo. No entanto, contactados pelo Observador, quer Mário Lino, quer Manuel Brandão, ex-administrador, e Vitor Escária, ex-responsável, negaram terem sido alvo de buscas. O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) adianta que Mário Lino não é arguido.

No comunicado emitido ao início da noite, o DICAP acrescenta o crime de corrupção no comércio aos ilícitos sob investigação que tinham sido avançados pela PJ. “No inquérito investigam-se suspeitas de omissão de declaração fiscal de parte dos lucros resultantes desse negócio bem como de recebimento de comissões através de sociedades offshore”, explica o Departamento Central de de Investigação e Ação Penal (DCIAP) que diz ainda estarem em causa “factos suscetíveis de integrarem a prática dos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento e corrupção no comércio internacional privado”. O comunicado fala no envolvimento de um “grupo empresarial” que não identifica.

A TVI avança que o principal alvo da investigação será o líder da Iguarivarius, Alexandre Cavalleri, empresário que tem ligações ao Judo do Sporting.  Em comunicado, o DCIAP adianta que “foram constituídos 5 arguidos, 3 pessoas coletivas e 2 pessoas singulares, entre as quais não se inclui Mário Lino”. O Observador sabe que Alexandre Cavalleri, o fundador e líder executivo do Grupo Varius, terá sido constituído arguido, assim como outro responsável do mesmo grupo empresarial. Já as três sociedades constituídas arguidas serão a Iguarivarius, a Agrovarius e uma terceira sociedade controlada por Cavalleri.

A TVI, entretanto, noticiou que Alexandre Cavalleri terá sido detido em flagrante delito por ter sido encontrada durante as buscas uma arma de guerra. Mais concretamente uma arma transformada em pistola metralhadora Uzi.

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Como um ex-ministro e um ex-assessor de Sócrates ajudaram o rei do pernil de porco a conquistar a Venezuela

“Sob suspeita estão vários contratos, celebrados entre 2013 e 2016, entre uma empresa estatal venezuelana e uma sociedade pertencente a um grupo empresarial português, no valor de dezenas de milhões de euros, respeitante à venda de várias toneladas de carne”, disse na manhã de quinta-feira em comunicado a PJ. Esta sexta-feira, o Correio da Manhã acrescenta que em causa estão crimes num valor superior a sete milhões de euros com negócios de venda de carne de porco para a Venezuela. Estão sob suspeita vários negócios no valor de 60 milhões de euros e que foram celebrados entre 2013 e 2016 entre a CLAP – Comité Local de Abastecimentos e Produção, uma entidade governamental venezuelana, e a Iguarivarius.

A Polícia Judiciária explica que existem fortes suspeitas de que “os elevados proventos obtidos com o referido negócio não tenham sido integralmente declarados fiscalmente, bem como de que os arguidos tenham recebido comissões avultadas através de sociedades offshore“. Este negócio terá lesado o Estado português “em milhões de euros”.

A PJ, através da Unidade Nacional de Combate à Corrupção e da Direção de Serviços de Investigação da Fraude e de Ações Especiais, contou ainda com a colaboração da Autoridade Tributária. O caso está a ser investigado pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal.

(notícia atualizada às 00h10m com informação sobre os arguidos do processo)