Passaram dez anos desde que o termo Psico-oncologia entrou no vocabulário de muitos portugueses. Trata-se de uma vertente da Psicologia criada especificamente para acompanhar doentes com cancro, familiares e profissionais de saúde que lidam com doenças oncológicas. Em todos os hospitais portugueses do Serviço Nacional de Saúde (SNS) onde se tratam cancros existe este serviço, mas os psicólogos que lá trabalham não chegam para os cerca de 25 a 30% de doentes oncológicos que revelam “sintomas de perturbação psicológica”.

Os números são revelados pela Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) e é também a LPCC a responsável por dar resposta aos casos que o SNS não consegue absorver. “Todos os doentes com cancro deveriam ter a possibilidade de revelar o seu sofrimento emocional e mediante este rastreio emocional devia poder-se oferecer apoio psicológico aos doentes que tiverem mais dificuldades”, defende Sónia Silva, responsável do núcleo de Psico-oncologia do Núcleo Regional do Centro da LPCC.

A verdade é que esta possibilidade “não é oferecida aos doentes na maioria dos casos. Os que acabam por ser sinalizados no SNS são os que revelam uma maior gravidade, muitas vezes quando os doentes já se recusam a continuar os tratamentos”. Confrontados com a falta de possibilidades nos hospitais públicos é à LPCC que os doentes acabam por recorrer. Desde 2009, o ano em que foi criado o Núcleo de Psico-oncologia, já foram feitas mais de 47 mil consultas.

Os doentes com cancro são o foco principal dos psicólogos da LPCC, mas a maioria de quem recorre às consultas já são os familiares. “O cancro é uma doença que afeta todo o sistema familiar, sendo os familiares uma espécie de doentes de segunda ordem”, começa por explicar Albina Dias, psicóloga, antes do início de mais uma consulta no IPO de Lisboa.

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A paciente hoje é Joana Caraca. Perdeu o marido há três anos e meio e ainda de luto voltou a deparar-se com a doença que acabaria por também vitimar a mãe. “Tive momentos em que me apeteceu atirar de uma ponte”, desabafa. O filho era uma das principais preocupações: “fiquei completamente deprimida, o meu filho também ficou e a vida dele começou a seguir um caminho que não devia ter seguido”.

“Estas situações são demasiadamente violentas para qualquer um de nós”, explica Albina Dias acrescentando que “como a Joana disse, ninguém está preparado”. Foi Albina que ajudou Joana a recuperar e a ganhar motivação para continuar a encarar os desafios da vida: “a dra. Albina tem me ajudado muito. Não é apenas em relação ao luto, tem-me ajudado a reconstruir a vida”.

O marido de Joana morreu de cancro e foi na Psico-oncologia que ela encontrou apoio