Já arrancou a primeira missão espacial em que, desde o início, há participação portuguesa. Trata-se do CHEOPS, um telescópio espacial lançado a partir da Guiana Francesa (poderá ver aqui) para explorar estrelas em que se sabe existirem exoplanetas e caracterizar esses exoplanetas de uma forma nunca antes feita.

O lançamento foi às 8h54 (em Lisboa) desta quarta-feira depois de ter estado marcado para as 8h54 de terça-feira. Teve de ser adiado devido a um “software bug” (erro de software).

Caberá ao “cérebro” do telescópio escolher as outras estrelas da Via Láctea a estudar e procurar-lhes os planetas.

Vamos poder perceber que sistemas planetários existem para além do nosso, vamos poder caracterizá-los – saber qual o seu tamanho, a sua massa – e talvez começar a perceber um bocadinho que tipos de atmosferas esses planetas têm”, resume José Afonso, coordenador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço.

A missão espacial começou já há sete anos. Liderado pela Suíça e pela Agência Espacial Europeia (ESA), o consórcio do CHEOPS conta com a participação de 11 países europeus. Em Portugal, a participação científica é liderada pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, ao passo que a componente industrial ficou a cargo da DEIMOS Engenharia. A acompanhar o lançamento do telescópio estão Nuno Santos e Sérgio Sousa, dois dos investigadores portugueses envolvidos no projeto.

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O lançamento do CHEOPS será feito a bordo de um foguetão russo Soyuz.

O CHEOPS estará em órbitra a 700 quilómetros da Terra durante o mínimo de três anos e meio. O alvo serão as estrelas brilhantes e a sombra que os planetas à sua volta farão quando passarem entre elas e o telescópio. Os planetas gigantes são os primeiros e mais fáceis de detetar, até que a tecnologia permita os mesmos estudos em planetas mais pequenos.

Numa altura em que já são conhecidos quase cinco mil exoplanetas (planetas fora do Sistema Solar), “já percebemos que aquilo que se passou no sistema solar, na formação da própria Terra, pode não ter sido o que aconteceu no resto da galáxia”, admite José Afonso. E assim sendo, será que é possível existirem planetas gigantes terrestres, ou planetas pequenos constituídos essencialmente por gases?

O engenho está decorado com duas placas metálicas onde estão gravados vários desenhos feitos por crianças, incluindo de 88 portuguesas.

“Um dos desafios é descobrir a próxima Terra, à volta de outra estrela”

Esta missão da Agência Espacial Europeia, no valor de 150 milhões de euros, também almeja dar os primeiros passos na descoberta da “próxima Terra à volta de outra estrela”, ou seja, das condições para a existência de vida para além do Sistema Solar.

Essa é também a expectativa dos investigadores do IA Susana Barros e Olivier Demangeon, responsáveis pela coordenação de dois dos seis programas científicos da missão – Caracterização Extraordinária de Planetas e Caracterização de Atmosferas dos Exoplanetas – e desejosos por começar a estudar as informações enviadas duas vezes por dia pelo telescópio.

A cientista Susana Barros estuda o trânsito dos exoplanetas “já há mais de 12 anos”. Veio de Marselha para o Porto para preparar esta missão “especial”.

Assim que começarem a chegar os dados, vamos melhorar os nosso modelos, porque há sempre fórmulas que mudam com a chegada dos dados verdadeiros. Vamos tentar encontrar anéis, tentar perceber a deformação dos planetas. Vamos ter muitos dados novos para brincar”, admite a investigadora especializada em trânsito dos planetas.

Esta participação é o resultado de “um esforço que Portugal fez na últimas duas décadas”, sublinha José Afonso, desde a adesão à ESA, em 2000, com o objetivo de se pôr no mapa internacional de uma área que, apesar de tudo, já é uma “das que maior impacto internacional tem, das áreas de investigação científica em Portugal”.

(notícia atualizada às 10h20 de 18 de dezembro com a informação do lançamento do CHEOPS)