“Já despachei todos os presentes de Natal”, anunciava uma colega há uns dias. Se muitos elogiaram e, provavelmente, invejaram o seu modus operandi precavido, a escolha do verbo com que descreveu o ato fez suspeitar que a forma como encara a missão de comprar presentes nesta quadra não será a mais indicada. O ar blasé que manteve durante o supracitado anúncio confirmou as suspeitas.
“Despachar” denuncia imediatamente que a respetiva família e amigos serão corridos a um cabaz de velas aromáticas, meias de cores neutras e cheques-disco. É certo que já não se diz nem usam cheques-disco — hoje existem apenas indistintos vales de compras —, mas ainda está por inventar expressão que case tão bem com o ato de “despachar presentes”.
É que os presentes, os verdadeiros presentes, não se despacham. Não se aviam, como uma caixa de genéricos na farmácia. Nem se apressam: só no dia 24 a partir das sete da tarde. São pensados, ponderados, premeditados. São exercícios de criatividade e carinho. Demonstrações de apego ou até de desapego, quando se oferece algo que se queria muito ter. Um presente deve ser tão marcante para quem dá como para quem recebe.
Por tudo isso, e porque o Natal só acontece uma vez por ano, convém atribuir a devida importância ao ato de presentear amigos, família ou mesmo aquele colega irritante que rói as unhas à secretária e calhou em sorte na tômbola do amigo secreto. Sim, esse colega merece mais do que uma raspadinha. Talvez um corta-unhas especial. Quiçá uma bola anti-stress.
Dar um bom presente não é difícil. Nem tem de ser caro. A maioria das vezes, basta estar atento aos gostos mais recentes da pessoa — se não sabe, pergunte —, a hobbies que tenham desenvolvido ou capacidades que tenham aprimorado nos meses anteriores ao Natal. Um bom princípio para pessoas com interesses semelhantes é dar algo que se gostaria de receber. Outro é oferecer um presente com uma história. E pensar sempre mais além. Sobretudo na forma como se dá o presente.
Por exemplo, o seu melhor amigo rendeu-se, finalmente, ao gin tónico. Não domina Botânica mas está feito um ás dos botânicos. Decidiu, assim, brindá-lo com uma garrafa de Hendrick’s Gin Original ou, porventura, de Hendrick’s Floral, com essências florais secretas, já a pensar em celebrar o solstício de verão. Excelente escolha. Mas e que tal investir alguma criatividade na entrega? Ofereça-lhe primeiro um pepino (embrulhado). Depois uma rosa. No final, obrigue-o a procurar pelo verdadeiro presente. Crie uma charada. Arrisque. Como se lê no título: Natal é só uma vez por ano.