Milhares de manifestantes pró-democracia formaram esta terça-feira, de mãos dadas, uma longa cadeia humana em Hong Kong, aguardando a chegada de 2020 com uma manifestação de protesto contra a falta de liberdade naquele território.

A fila humana, com uma extensão de quilómetros, percorreu as ruas da cidade, com os manifestantes a cantarem o hino de protesto e a ergueram cartazes, pedindo a continuação da batalha pela democracia em 2020.

Entretanto, a polícia utilizou canhões de água para dispersar pequenas multidões de manifestantes no bairro de Mong Kok, enquanto no bairro perto de “Prince Edward”, manifestantes de uma vigília à luz de velas foram detidos. Outras manifestações estavam ainda previstas para a noite desta terça-feira em diferentes partes da cidade de Hong Kong.

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Os grandes fogos de artifício tradicionais do Ano Novo em Hong Kong foram cancelados por razões de segurança, tendo sido substituídos por um espetáculo de luzes e sons com efeitos pirotécnicos.

Centro financeiro internacional, a ex-colónia britânica passou pela sua crise mais séria desde que foi transferida para Pequim em 1997.

O desafio de obter reformas democráticas resultou em marchas pacíficas que reuniram milhões de pessoas, levando a confrontos violentos entre a polícia e os manifestantes, com os primeiros a disparar granadas de gás lacrimogéneo e balas de borracha e os últimos a lançando ‘cocktails molotov’.

Numa mensagem de vídeo divulgada na rede social Facebook, a chefe do Governo local, Carrie Lam, assegurou que pretende “ouvir humildemente e encontrar uma saída”, sem comentar as revindicações dos manifestantes.

“Graças a 2019, as máscaras horríveis da polícia e do Governo foram destacadas e as pessoas puderam ver a verdade”, disse Kris, um manifestante que participou no protesto de hoje.

O manifestante admitiu que “o movimento está num tipo de beco sem saída”, mas que “uma forte participação na marcha poderá reacender a chama”.

A 24 de novembro, o movimento pró-democracia venceu as eleições locais, considerado como um referendo sobre a gestão da crise pelo Governo local apoiado por Pequim.

“Que se lixe a Véspera” e “Fazer compras consigo”,

Protestos e marchas pró-democracia foram anunciados nas redes sociais como forma de transtornar as festas de final de ano e as compras nos centros comerciais mais populares. Denominados “Que se lixe a Véspera” e “Fazer compras consigo”, os eventos decorrem em zonas como o bairro de Lan Kwai Fong, conhecido pelas festividades da época, mas também no pitoresco porto Victoria e nos centros comerciais mais populares.

Os protestos vão continuar até ao primeiro dia de janeiro, estando já autorizada pela polícia uma marcha pró-democracia, que vai começar num grande parque da movimentada Causeway Bay e terminar no principal bairro comercial. Várias marchas pacíficas que reuniram milhões de pessoas desde junho foram organizadas pelo movimento Frente Civil dos Direitos Humanos, que conseguiu ainda reunir cerca de 800 mil pessoas num protesto realizado no início deste mês.

“No dia do Ano Novo, precisamos mostrar a nossa solidariedade (…) para resistir ao Governo. Esperamos que o povo de Hong Kong venha para a rua pelo futuro de Hong Kong”, apelou o líder do grupo, Jimmy Sham, nas redes sociais.

A polícia avisou, entretanto, que várias patrulhas para controlo de multidões estão mobilizadas para esta terça-feira e pediu aos participantes da marcha de quarta-feira que se mantenham pacíficos. Numa mensagem divulgada através do Facebook, o comissário da polícia Chris Tang agradeceu aos agentes da linha de frente por garantirem “a segurança e a estabilidade” de Hong Kong e deixou um alerta aos manifestantes. “Se usarem violência, não terão apoio do público. Nós, a polícia, faremos tudo que pudermos para vos deter”, disse Tang.

Os protestos em Hong Kong começaram em junho na sequência da apresentação de um projeto de lei, entretanto descartado, que visava permitir extradições para a China continental, cujos tribunais são controlados pelo Partido Comunista. Os protestos transformaram-se num movimento pró-democracia mais abrangente.